Frágil trégua na Síria exige ação rápida, diz enviado da ONU
23 de abril de 2016
Após oposição deixar negociações de paz em Genebra, ao menos 25 pessoas morrem em bombardeios do regime. Enviado das Nações Unidas afirma que ambos os lados estão "extremamente polarizados", ameaçando cessar-fogo.
Anúncio
Bombardeios conduzidos pelo governo sírio em áreas controladas pela oposição, próximas a Damasco e Aleppo, mataram ao menos 25 pessoas neste sábado (23/04). Ao mesmo tempo, forças rebeldes dispararam morteiros na capital, algo raro desde o cessar-fogo que entrou em vigor no país há quase dois meses.
Autoridades ocidentais, incluindo o enviado especial da ONU para a crise Síria, Staffan de Mistura, alertaram que a trégua, vigente desde 27 de fevereiro, corre risco de colapso total devido à escalada de violência e ao fato de o principal grupo da oposição – o Comitê de Altas Negociações (HNC) – ter abandonado as negociações de paz em Genebra, mediadas pela Arábia Saudita, na última segunda-feira.
A oposição acusa o governo de prejudicar as conversações em curso com ataques, enquanto o regime do presidente Bashar al-Assad alega ter como alvo somente grupos terroristas, que não estão inclusos no acordo de cessar-fogo.
De Mistura afirmou que as negociações em Genebra vão continuar até a próxima quarta-feira, como planejado. No entanto, ele observou que os dois lados estão "extremamente polarizados", colocando em dúvida a capacidade de salvar as negociações destinadas a encontrar uma solução política para o conflito civil no país, que já dura mais de cinco anos e deixou mais de 250 mil mortos. De Mistura afirmou que é preciso "agir rapidamente" para salvar o cessar-fogo.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse nesta sexta-feira estar "extremamente preocupado com o desgaste da cessação das hostilidades", questionando a sustentabilidade da trégua
Escalada da violência
Os enfrentamentos entre governo e oposição se intensificaram na última semana nos arredores de Aleppo, Idlib, Latakia, Damasco e outras áreas.
Neste sábado, pelo segundo dia seguido, aviões do governo bombardearam áreas controladas por rebeldes sírios em Aleppo, a maior cidade do país, matando ao menos 12 pessoas, incluindo crianças, segundo o grupo ativista Aleppo Media Center. No dia anterior, ao menos 18 pessoas foram mortas durante bombardeios na cidade, no que ativistas descreveram como a mais intensa campanha aérea desde o início do cessar-fogo.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos e o Centro Sírio de Imprensa, entidades administradas por ativistas da oposição, afirmaram que ataques do regime a bastiões rebeldes num subúrbio de Damasco mataram ao menos 13 pessoas neste sábado, entre elas, três mulheres e duas crianças.
Ao mesmo tempo, o ministro do Interior da Síria disse que morteiros disparados pelos rebeldes atingiram dois bairros da capital. Não há registro de vítimas.
LPF/ap/rtr/afp
Amor em tempos de guerra na Síria
Apesar dos contínuos bombardeios sobre sua cidade natal, um casal de Homs recusou-se a abandonar a esperança, usando as ruínas como cenário para seu álbum de casamento. A agência AFP deu projeção mundial às imagens.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Vida e amor entre ruínas
Nada Merhi, de 18 anos, e o soldado Hassan Youssef, de 27, escolheram um pano de fundo inusitado para suas fotos de casamento: as ruínas de sua cidade natal, Homs, na Síria, destroçada por bombardeios. A ideia foi do fotógrafo Jafar Meray, com a intenção de mostrar que "a vida é mais forte do que a morte".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
"O amor reconstrói a Síria"
Um mês depois de o casal sírio posar na cidade bombardeada, a agência de notícias francesa AFP divulgou uma série feita por um de seus fotojornalistas, documentando a iniciativa. O fotógrafo Meray postou o inusitado álbum de casamento no Facebook, sob o título "O amor reconstrói a Síria".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Cidade dilacerada
A guerra civil na Síria já fez mais de 250 mil vítimas, a maior parte delas civis. Terceira maior cidade síria, Homs tem sofrido tremendamente com as ofensivas das forças leais ao presidente Bashar al-Assad. Ela foi uma das primeiras cidades a se opor ao governo em 2012, embora em vão. Desde então, o governo conseguiu expulsar de Homs a maioria dos combatentes rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Destroços cinzentos, vestido branco
Em meio à antes próspera metrópole, o branco do vestido de noiva de Nada realça a destruição que circunda o jovem casal. Buracos de bala, prédios abandonados, ruínas incendiadas e estradas desertas são um lembrete constante das vidas que Homs abrigava antes da guerra civil.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Ataques continuam
Homs continua sendo alvo frequente de ataques armados. Em 26 de janeiro de 2016, 22 pessoas foram mortas e mais de cem feridas num atentado suicida a bomba no bairro de Al-Zahra. A maioria da população local é de alauítas, a seita islâmica minoritária a que também pertencem o presidente Assad e sua família. A milícia jihadista do "Estado Islâmico" (EI) reivindicou o ato terrorista.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Homs não é única vítima
Desde 30 de setembro de 2015, aviões de combate russos têm realizado ofensivas aéreas em apoio às forças de Assad. Homs não é a única cidade síria atingida: em 15 de fevereiro, um hospital perto de Murat al-Numan, a cerca de 280 quilômetros de Damasco, foi atingido por bombardeios. Ao menos nove pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Pressão internacional
Numa entrevista à agência de notícias AFP, Assad afirmou que continuaria a lutar, apesar da pressão internacional crescente no sentido de um cessar-fogo. O ministro saudita do Exterior, Adel al-Jubeir, rebateu, falando a um jornal alemão: "Não vai mais haver um Bashar al-Assad no futuro. Ele não vai mais arcar com a responsabilidade pela Síria."
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Destaque na Conferência de Munique
O sofrimento contínuo dos habitantes nas áreas sitiadas da Síria foi um dos pontos centrais de debate na Conferência de Segurança de Munique, realizada de 12 a 14 de fevereiro de 2016 e dedicada à segurança. O secretário de Estado americano, John Kerry, declarou: "Em nossa opinião, a grande maioria dos ataques da Rússia foi contra grupos oposicionistas legítimos."
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Repercussão na rede social
Alguns usuários do Facebook comentaram as imagens de Jafar Meray de forma emocional. "Sinto-me como o noivo na foto", escreveu um deles. Outro desejou: "Que Deus esteja com vocês e com todos os sírios. Obrigado por todas estas fotos e por partilhá-las com o mundo." Um terceiro propôs um título alternativo: "Amor em tempos de guerra".
Foto: Getty Images/AFP/J. Eid
Prova de que a vida continua
As fotografias de Meray se tornaram um sucesso tão grande que, além de comentá-las, seus seguidores no Facebook criaram sequências de slides com a série e a transformaram em vídeos para o YouTube. Para um usuário, o trabalho de Meray é "prova de que a vida continua, mesmo em Homs, a cidade mais devastada da Síria".