Fracassa consulta popular anticorrupção na Colômbia
27 de agosto de 2018
Referendo sobre endurecimento de medidas de combate à corrupção, incluindo limitação do número de mandatos políticos, não alcança quórum para ser validado. Menos de um terço do eleitorado colombiano comparece às urnas.
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Um referendo anticorrupção realizado neste domingo (26/08) na Colômbia reuniu pouco mais de 11,5 milhões de votos e, assim, não alcançou os 12,1 milhões de votos fixados como patamar para que tivesse validade.
Segundo os dados oficiais, com 99,98% das urnas apuradas, o número total de votos era de 11.671.420 – abaixo dos 33,3% do eleitorado colombiano necessários. A consulta popular visava um conjunto de medidas destinadas a endurecer as penas relativas à corrupção, especialmente de responsáveis políticos.
"É um dia muito importante, em que votamos para expressar a nossa rejeição à corrupção. Não é uma causa política ou ideológica, mas o envolvimento de todo o país", afirmou o presidente colombiano, Iván Duque, logo após votar em Bogotá.
O referendo foi lançado na legislatura anterior, pela ex-senadora do oposicionista Partido Verde, Claudia Lopez, e aprovado neste ano pelo Senado.
Os eleitores foram convocados a se pronunciarem sobre sete medidas, que incluíam desde um teto para os salários de altos funcionários públicos e congressistas até o fim das penas de prisão domiciliar, passando pelo congelamento dos bens dos condenados.
Também foi proposta a limitação do número de mandatos políticos e a obrigação de prestação de contas para os parlamentares, além da proibição de contratos com o Estado para empresas condenadas por corrupção. O "sim" alcançou mais de 99% em todas as sete perguntas.
A corrupção implicou para a Colômbia perdas de pelo menos 4% do Produto Interno Bruto (PIB) entre 1991 e 2001 – equivalente a 2,5 bilhões de euros na conversão moeda atual, segundo um estudo recente da Universidade Externado da Colômbia.
No Índice de Percepção da Corrupção, divulgado anualmente pela organização não governamental Transparency International, a Colômbia ocupa a 96ª posição numa lista de 180 países.
Cerca de 2.200 pessoas foram acusadas de corrupção pelo Ministério Público colombiano nos últimos 18 meses.
PV/efe/lusa/ots
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História do país é marcada por episódios de corrupção. Uma seleção com alguns dos mais emblemáticos.
Foto: Reuters/P. Whitaker
As origens
A colonização do Brasil foi baseada na concessão de cargos, caracterizada pelo patrimonialismo (ausência de distinção entre o bem público e privado) e o clientelismo (favorecimento de indivíduos com base nos laços familiares e de amizade). Apesar de mudanças no sistema político, essas características se perpetuaram ao longo dos séculos.
Foto: Gemeinfrei
Roubo das joias da Coroa
Em março de 1882, todas as joias da Imperatriz Teresa Cristina e da Princesa Isabel foram roubadas do Palácio de São Cristóvão. O roubo levou a oposição a acusar o governo imperial de omissão, pois as joias eram patrimônio público. O principal suspeito, Manuel de Paiva, funcionário e alcoviteiro de Dom Pedro 2º, escapou da punição com a proteção do imperador. O caso ajudou na queda da monarquia.
Foto: Gemeinfrei
A República e o voto do cabresto
Em 1881 foi introduzido no país o voto direto, porém, a maioria da população era privada desse direito. Na época, podiam votar apenas homens com determinada renda mínima e alfabetizados. Durante a Primeira República (1889 – 1930), institucionaliza-se no Brasil o voto do cabresto, ou seja, o controle do voto por coronéis que determinavam o candidato que seria eleito pela população.
Foto: Gemeinfrei
Mar de lama
Até década de 1930, a corrupção era percebida comu um vício do sistema. A partir de 1945, a corrupção individual aparece como problema. Várias denúncias de corrupção surgiram no segundo governo de Getúlio Vargas. O presidente foi acusado de ter criado um mar de lama no Catete.
Foto: Imago/United Archives International
Rouba mas faz
Engana-se quem pensa que Paulo Maluf é o criador do bordão "rouba mas faz". A expressão foi atribuída pela primeira vez a Adhemar de Barros (de bigode, atrás de Getúlio), governador de São Paulo por dois mandatos nas décadas de 1940 e 1960. O político ganhou fama por realizar grandes obras públicas, e nem mesmo as acusações constantes de corrupção contra ele lhe impediram de ganhar eleições.
Foto: Wikipedia/Gemeinfrei/DIP
Varrer a corrupção
Em 1960, o candidato à presidência da República Jânio Quadros conquistou a maior votação já obtida no país para o cargo desde a proclamação da República. O combate à corrupção foi a maior arma do político na campanha eleitoral, simbolizado pela vassoura. Com a promessa de varrer a corrupção da administração pública, Jânio fez sucesso entre os eleitores.
Foto: Imago/United Archives International
Ditadura e empreiteiras
Acabar com a corrupção foi um dos motivos usados pelos militares para justificar o golpe de 1964. Ao assumir o poder, porém, o novo regime consolidou o pagamento de propinas por empreiteiras na realização de obras públicas. Modelo que se perpetuou até os dias atuais e é um dos alvos da Operação Lava Jato.
Foto: picture-alliance/AP
Caça a marajás
Mais uma vez um presidente que partia em campanha eleitoral prometendo combater a corrupção foi aclamado com o voto da população. Fernando Collor de Mello, que ficou conhecido como "caçador de marajás", por combater funcionários públicos que ganhavam salários altíssimos, renunciou ao cargo em 1992, em meio a um processo de impeachment no qual pesavam contra ele acusações que ele prometeu combater.
Foto: Imago/S. Simon
Mensalão
Em 2005, veio à tona o esquema de compra de votos de parlamentares aplicado durante o primeiro governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva, que ficou conhecido como mensalão. O envolvimento no escândalo de corrupção levou diversos políticos do alto escalão para a prisão, entre eles, o ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do PT José Genoino.
Foto: picture-alliance/robertharding/I. Trower
Lava Jato
A operação que começou um inquérito local contra uma quadrilha formada por doleiros tonou-se a maior investigação de combate à corrupção da história do país. A Lava Jato revelou uma imensa rede de corrupção envolvendo a Petrobras, empreiteiras e políticos. O pagamento de propinas por construtoras, descoberto na operação, provocou investigações em 40 países.