Refugiados aguardam em longas filas para serem registrados e transferidos do acampamento improvisado, um dos símbolos da crise migratória. Cerca de 7 mil devem ser levados para 450 abrigos em outras regiões do país.
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Começa a retirada da "Selva de Calais"
01:07
As autoridades francesas começaram nesta segunda-feira (24/10) a retirar os cerca de 7 mil refugiados que vivem no acampamento conhecido como "Selva de Calais", que será demolido. Os migrantes se acumulam na cidade do norte da França na tentativa de chegar até o Reino Unido.
Longas filas se formavam desde a madrugada em frente aos centros de registro erguidos no local. Os milhares de migrantes, em sua maioria afegãos, eritreus e sudaneses, estão sendo distribuídos entre 450 centros de acolhimento em todo o país. Eles vão passar por avaliações médicas e devem decidir se querem ou não pedir asilo na França.
Os primeiros ônibus para os centros de acolhimento partiram pouco mais de uma hora após o início da evacuação. Segundo as autoridades, ao menos 60 ônibus, cada um com 50 refugiados, devem deixar Calais nesta segunda-feira.
Esse número deverá ser mantido nos primeiros dias da desocupação, devendo diminuir na medida em que o acampamento for esvaziado. A operação de evacuação da "selva" deverá durar uma semana.
Estimativas das autoridades e de ONGs que atuam em Calais afirmam que o número de refugiados no local é de entre 6,5 e 8 mil. Eles são divididos em quatro grupos: famílias, homens adultos, menores desacompanhados e outros considerados vulneráveis, como idosos e mulheres desacompanhadas.
É incerto, porém, o destino de cerca de 1,3 mil crianças desacompanhadas. Na última sexta-feira, as autoridades inglesas e francesas ainda negociavam qual país deveria acolher os menores sem ligações familiares no Reino Unido.
Nas últimas semanas, funcionários do governo e de organizações humanitárias iniciaram uma campanha para convencer os migrantes a aceitar a realocação e não insistir em permanecer em Calais, onde muitos ainda mantêm as esperanças de conseguir atravessar o Canal da Mancha até o Reino Unido, entrando ilegalmente nas balsas ou nos caminhões e trens que atravessam o Eurotúnel.
Durante a noite houve alguns conflitos. Um grupo de migrantes realizou um protesto contra o fechamento da "selva" enquanto outro tentava chegar a uma rodovia próxima ao acampamento, sendo bloqueado por policiais.
O plano para a desocupação da "Selva de Calais" foi aprovado por um tribunal francês na semana passada. Cerca de 1.250 policiais foram chamados para ajudar na operação.
RC/rtr/efe/dpa
A miséria de refugiados no norte da França
Cerca de 2 mil imigrantes padecem no frio e na lama num acampamento perto da cidade portuária de Dunquerque. Enquanto esperam por uma oportunidade de rumar para o Reino Unido, eles dependem da ajuda de voluntários.
Foto: DW/B. Riegert
No meio da lama
Estima-se que um acampamento próximo à comuna de Grande Synthe, perto da cidade portuária de Dunquerque, no norte da França, abrigue 2 mil pessoas em pequenas tendas. À noite, o frio é intenso, e, quando chove, o local fica repleto de lama.
Foto: DW/B. Riegert
Persistência
Lizman vem da região curda do Iraque. "Em casa estamos em guerra", diz ele, que tem como objetivo chegar à Inglaterra. O iraquiano montou um café numa das barracas do acampamento, onde os jovens matam o tempo.
Foto: DW/B. Riegert
Objetivo: Reino Unido
Para proteger a barraca da sujeira e do frio, o iraquiano Asis conseguiu um martelo emprestado. O jovem curdo quer atravessar o Canal da Mancha e chegar à Inglaterra. Para isso, ele teria que pagar até 5.000 euros a um traficante. "Tem que ser melhor do outro lado", espera.
Foto: DW/B. Riegert
Sopro de esperança
O número de crianças que vive no acampamento repleto de lixo e lama não é claro. Voluntários coletaram ursinhos de pelúcia e os distribuíram na "barraca das crianças".
Foto: DW/B. Riegert
Perspectivas
Uma criança perdeu esta boneca na lama. Da mesma maneira, a esperança de muitas pessoas acaba desaparecendo no acampamento. À noite é muito fria, e não há iluminação. Apenas alguns banheiros químicos e chuveiros funcionam.
Foto: DW/B. Riegert
Voluntários do Reino Unido
O britânico Chris Bailey serviu como soldado no Iraque. Agora ele ajuda migrantes que querem chegar ao seu país. "A situação aqui é pior do que a de alguns lugares que vi na guerra", diz o veterano. Ele distribui cobertores e botas de borracha que foram doadas.
Foto: DW/B. Riegert
Bem-vindos à França
Além de chá, Denise (à esq.) e Maryse oferecem um bom papo aos imigrantes. Elas moram em frente ao acampamento. Uma rua separa dois mundos completamente diferentes. "As autoridades não se importam", opina Denise. Muitos vizinhos querem que os migrantes saiam dali.
Foto: DW/B. Riegert
Onde está o governo?
Um voluntário batizou com nomes de políticos europeus algumas das vias que levam até o precário acampamento. Esta, por exemplo, é a "Avenida François Hollande", porque o governo francês não se importa com o local. A polícia não dá segurança alguma. Moradores relatam violência entre grupos de imigrantes, principalmente à noite.
Foto: DW/B. Riegert
Voluntários da Alemanha
O número de refugiados que chegam a Munique diminuiu. "Aqui nós seremos necessários", diz Sinan von Stietencron da Volxküche München, iniciativa que distribui alimentos a migrantes na cidade alemã. Com a cozinha móvel, ele viajou com amigos da Baviera para o Canal da Mancha.
Foto: DW/B. Riegert
Emergência
A organização de ajuda humanitária Médicos sem Fronteiras (MSF) vacinou os moradores do acampamento contra sarampo e gripe. Especialmente as crianças acabam doentes, devido à umidade, ao frio e às péssimas condições de higiene. A MSF montou uma estação de emergência em Grande Synthe, a primeira unidade operacional da organização no coração da Europa.
Foto: DW/B. Riegert
Seguir adiante
Agachado dentro de sua barraca, Asim diz que fugiu do "Estado Islâmico" no Iraque. Ele se esforça para manter o pequeno espaço limpo e até oferece um chá para a repórter da DW. "Todos querem seguir adiante", diz o iraquiano.
Foto: DW/B. Riegert
A última estação
O porto de Dunquerque fica a 10 quilômetros do acampamento. As chances de conseguir chegar à Inglaterra partindo daqui são mínimas. Quase ninguém quer entrar com um pedido de asilo na França. O que fazer agora? Pagar um transporte clandestino para atravessar o Canal da Mancha? Recuar para a Bélgica ou Alemanha? Ou simplesmente esperar?