França considera encerrada a evacuação da "Selva de Calais"
26 de outubro de 2016
Símbolo da crise migratória, campo de refugiados no norte do país foi completamente esvaziado, afirma prefeita. Incêndios marcam último dia da retirada dos migrantes. Maioria é transferida para abrigos.
Anúncio
Autoridades francesas declararam nesta quarta-feira (26/10) que chegou ao fim a operação para evacuar o acampamento de refugiados conhecido como "Selva de Calais", no norte da França. A grande maioria dos migrantes foi transferida para centros de acolhimento em todo o país.
"O acampamento foi completamente esvaziado. Não há mais migrantes", afirmou a prefeita de Pas-de-Calais, Fabienne Buccio. "Esse é o fim da 'Selva'. Nossa missão foi cumprida."
A partir de agora, os trabalhadores responsáveis pela demolição do lugar começarão a limpar a área, retirando os entulhos e desmontando as barracas para evitar que o local volte a se ocupado.
Iniciada na segunda-feira, a operação para desmantelar o acampamento em Calais entrou em seu terceiro dia com vários registros de incêndio em abrigos e barracas. Autoridades francesas disseram que quatro afegãos foram detidos por suspeita de terem iniciado o fogo, que deixou uma pessoa levemente ferida.
Segundo dados oficiais, cerca de 1.500 migrantes foram distribuídos nesta quarta-feira para centros de acolhimento franceses. Lá eles poderão fazer o pedido oficial de refúgio ao país.
Um total de 5 mil pessoas receberam abrigo desde o início da operação, disseram as autoridades, e outras mil ainda aguardavam a transferência na tarde desta quarta-feira nas proximidades do acampamento.
Há ainda muitos refugiados que se recusaram a entrar nos ônibus e deixaram Calais por conta própria para buscar abrigo na região. "Essa 'Selva' não é legal. Estamos indo para uma nova selva", disse um jovem paquistanês de 20 anos, que se identificou como Muhammad Afridi. À agência de notícias AP, ele se recusou a contar seu destino, onde já estavam 30 de seus amigos.
A "Selva de Calais", segundo as autoridades, chegou a abrigar 6.300 migrantes. Organizações de ajuda humanitária afirmam, porém, que o número era muito maior. O local era destino de muitos refugiados que esperavam conseguir atravessar o Canal da Mancha até o Reino Unido, entrando ilegalmente nas balsas ou nos caminhões e trens que atravessam o Eurotúnel.
O plano para a desocupação da "Selva" foi aprovado por um tribunal francês na semana passada. Cerca de 1.250 policiais foram chamados para ajudar na operação.
EK/afp/ap/dpa/lusa/rtr
A miséria de refugiados no norte da França
Cerca de 2 mil imigrantes padecem no frio e na lama num acampamento perto da cidade portuária de Dunquerque. Enquanto esperam por uma oportunidade de rumar para o Reino Unido, eles dependem da ajuda de voluntários.
Foto: DW/B. Riegert
No meio da lama
Estima-se que um acampamento próximo à comuna de Grande Synthe, perto da cidade portuária de Dunquerque, no norte da França, abrigue 2 mil pessoas em pequenas tendas. À noite, o frio é intenso, e, quando chove, o local fica repleto de lama.
Foto: DW/B. Riegert
Persistência
Lizman vem da região curda do Iraque. "Em casa estamos em guerra", diz ele, que tem como objetivo chegar à Inglaterra. O iraquiano montou um café numa das barracas do acampamento, onde os jovens matam o tempo.
Foto: DW/B. Riegert
Objetivo: Reino Unido
Para proteger a barraca da sujeira e do frio, o iraquiano Asis conseguiu um martelo emprestado. O jovem curdo quer atravessar o Canal da Mancha e chegar à Inglaterra. Para isso, ele teria que pagar até 5.000 euros a um traficante. "Tem que ser melhor do outro lado", espera.
Foto: DW/B. Riegert
Sopro de esperança
O número de crianças que vive no acampamento repleto de lixo e lama não é claro. Voluntários coletaram ursinhos de pelúcia e os distribuíram na "barraca das crianças".
Foto: DW/B. Riegert
Perspectivas
Uma criança perdeu esta boneca na lama. Da mesma maneira, a esperança de muitas pessoas acaba desaparecendo no acampamento. À noite é muito fria, e não há iluminação. Apenas alguns banheiros químicos e chuveiros funcionam.
Foto: DW/B. Riegert
Voluntários do Reino Unido
O britânico Chris Bailey serviu como soldado no Iraque. Agora ele ajuda migrantes que querem chegar ao seu país. "A situação aqui é pior do que a de alguns lugares que vi na guerra", diz o veterano. Ele distribui cobertores e botas de borracha que foram doadas.
Foto: DW/B. Riegert
Bem-vindos à França
Além de chá, Denise (à esq.) e Maryse oferecem um bom papo aos imigrantes. Elas moram em frente ao acampamento. Uma rua separa dois mundos completamente diferentes. "As autoridades não se importam", opina Denise. Muitos vizinhos querem que os migrantes saiam dali.
Foto: DW/B. Riegert
Onde está o governo?
Um voluntário batizou com nomes de políticos europeus algumas das vias que levam até o precário acampamento. Esta, por exemplo, é a "Avenida François Hollande", porque o governo francês não se importa com o local. A polícia não dá segurança alguma. Moradores relatam violência entre grupos de imigrantes, principalmente à noite.
Foto: DW/B. Riegert
Voluntários da Alemanha
O número de refugiados que chegam a Munique diminuiu. "Aqui nós seremos necessários", diz Sinan von Stietencron da Volxküche München, iniciativa que distribui alimentos a migrantes na cidade alemã. Com a cozinha móvel, ele viajou com amigos da Baviera para o Canal da Mancha.
Foto: DW/B. Riegert
Emergência
A organização de ajuda humanitária Médicos sem Fronteiras (MSF) vacinou os moradores do acampamento contra sarampo e gripe. Especialmente as crianças acabam doentes, devido à umidade, ao frio e às péssimas condições de higiene. A MSF montou uma estação de emergência em Grande Synthe, a primeira unidade operacional da organização no coração da Europa.
Foto: DW/B. Riegert
Seguir adiante
Agachado dentro de sua barraca, Asim diz que fugiu do "Estado Islâmico" no Iraque. Ele se esforça para manter o pequeno espaço limpo e até oferece um chá para a repórter da DW. "Todos querem seguir adiante", diz o iraquiano.
Foto: DW/B. Riegert
A última estação
O porto de Dunquerque fica a 10 quilômetros do acampamento. As chances de conseguir chegar à Inglaterra partindo daqui são mínimas. Quase ninguém quer entrar com um pedido de asilo na França. O que fazer agora? Pagar um transporte clandestino para atravessar o Canal da Mancha? Recuar para a Bélgica ou Alemanha? Ou simplesmente esperar?