França dá luz verde para demolição da "Selva de Calais"
25 de fevereiro de 2016
Acampamento de refugiados no norte do país será parcialmente removido. Autoridades afirmam que, se necessário, vão transferir pessoas à força para outros locais. Críticos dizem que medida não resolverá o problema.
Anúncio
Um tribunal francês deu luz verde nesta quinta-feira (25/02) para a demolição parcial de um acampamento de refugiados nas imediações de Calais – cidade portuária no norte do país, de onde milhares esperam partir para o Reino Unido. O local ficou conhecido como "Selva de Calais".
Um deadline oficial para que cerca de mil migrantes deixassem a parte sul da "selva", densamente ocupada, expirou nesta quinta-feira. As autoridades disseram que, se necessário, removerão as pessoas à força, para então transferi-las para containeres na região e outros centros de acolhimento. Críticos da evacuação haviam levado a questão à Justiça, na esperança de suspender a evacuação.
O tribunal, na cidade de Lille, determinou nesta quinta-feira que as tendas usadas pelos migrantes poderão ser destruídas, mas que áreas comuns, como escolas, um teatro e um local de culto, serão mantidas.
Autoridades estimam que entre 800 e mil migrantes serão afetados. Entretanto, ONGs acreditam que somente a parte sul da "selva", a ser demolida, abrigue 3.400 pessoas, mais que o triplo das estimativas oficiais.
O ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, disse nesta semana que a evacuação do acampamento seria gradual e que havia lugar suficiente para todos os refugiados – na própria região ou em outras áreas da França. Ao anunciar os planos de desocupar a "Selva de Calais", as autoridades citaram preocupações com segurança e condições sanitárias no local, além da ameaça à imagem de Calais.
Os repetidos esforços dos migrantes para atravessar o Canal da Mancha, muitas vezes escondidos em caminhões, atrapalhou o tráfego na rota vital entre a França e o Reino Unido, foi motivo de tensão entre a população local e forçou a polícia francesa a reforçar seu contingente na área.
Críticos afirmam que acabar com o acampamento provavelmente não resolverá o problema e apenas aumentará o sofrimento dos migrantes, sobretudo de cerca de 400 menores desacompanhados.
Os migrantes em Calais são, na maioria, pessoas que fogem de conflitos em países do Oriente Médio ou da África. Eles são atraídos para o Reino Unido em razão de laços familiares ou com a comunidade no país. Muitos dos residentes da "selva" prometem resistir à ordem de desocupação, alegando falta de perspectivas, além da possibilidade de uma nova vida em solo britânico.
Nesta quarta-feira, a Bélgica reforçou os controles na fronteira próxima a Calais para evitar que os refugiados evacuados entrassem no país, na esperança de seguir para o Reino Unido através do porto de Zeebrugge. Cazeneuve criticou a medida, afirmando não ter sido notificado e não acreditar que transferir migrantes do acampamento miserável fosse fazer com que muitos se dirigissem para o país vizinho.
LPF/ap/rtr
A miséria de refugiados no norte da França
Cerca de 2 mil imigrantes padecem no frio e na lama num acampamento perto da cidade portuária de Dunquerque. Enquanto esperam por uma oportunidade de rumar para o Reino Unido, eles dependem da ajuda de voluntários.
Foto: DW/B. Riegert
No meio da lama
Estima-se que um acampamento próximo à comuna de Grande Synthe, perto da cidade portuária de Dunquerque, no norte da França, abrigue 2 mil pessoas em pequenas tendas. À noite, o frio é intenso, e, quando chove, o local fica repleto de lama.
Foto: DW/B. Riegert
Persistência
Lizman vem da região curda do Iraque. "Em casa estamos em guerra", diz ele, que tem como objetivo chegar à Inglaterra. O iraquiano montou um café numa das barracas do acampamento, onde os jovens matam o tempo.
Foto: DW/B. Riegert
Objetivo: Reino Unido
Para proteger a barraca da sujeira e do frio, o iraquiano Asis conseguiu um martelo emprestado. O jovem curdo quer atravessar o Canal da Mancha e chegar à Inglaterra. Para isso, ele teria que pagar até 5.000 euros a um traficante. "Tem que ser melhor do outro lado", espera.
Foto: DW/B. Riegert
Sopro de esperança
O número de crianças que vive no acampamento repleto de lixo e lama não é claro. Voluntários coletaram ursinhos de pelúcia e os distribuíram na "barraca das crianças".
Foto: DW/B. Riegert
Perspectivas
Uma criança perdeu esta boneca na lama. Da mesma maneira, a esperança de muitas pessoas acaba desaparecendo no acampamento. À noite é muito fria, e não há iluminação. Apenas alguns banheiros químicos e chuveiros funcionam.
Foto: DW/B. Riegert
Voluntários do Reino Unido
O britânico Chris Bailey serviu como soldado no Iraque. Agora ele ajuda migrantes que querem chegar ao seu país. "A situação aqui é pior do que a de alguns lugares que vi na guerra", diz o veterano. Ele distribui cobertores e botas de borracha que foram doadas.
Foto: DW/B. Riegert
Bem-vindos à França
Além de chá, Denise (à esq.) e Maryse oferecem um bom papo aos imigrantes. Elas moram em frente ao acampamento. Uma rua separa dois mundos completamente diferentes. "As autoridades não se importam", opina Denise. Muitos vizinhos querem que os migrantes saiam dali.
Foto: DW/B. Riegert
Onde está o governo?
Um voluntário batizou com nomes de políticos europeus algumas das vias que levam até o precário acampamento. Esta, por exemplo, é a "Avenida François Hollande", porque o governo francês não se importa com o local. A polícia não dá segurança alguma. Moradores relatam violência entre grupos de imigrantes, principalmente à noite.
Foto: DW/B. Riegert
Voluntários da Alemanha
O número de refugiados que chegam a Munique diminuiu. "Aqui nós seremos necessários", diz Sinan von Stietencron da Volxküche München, iniciativa que distribui alimentos a migrantes na cidade alemã. Com a cozinha móvel, ele viajou com amigos da Baviera para o Canal da Mancha.
Foto: DW/B. Riegert
Emergência
A organização de ajuda humanitária Médicos sem Fronteiras (MSF) vacinou os moradores do acampamento contra sarampo e gripe. Especialmente as crianças acabam doentes, devido à umidade, ao frio e às péssimas condições de higiene. A MSF montou uma estação de emergência em Grande Synthe, a primeira unidade operacional da organização no coração da Europa.
Foto: DW/B. Riegert
Seguir adiante
Agachado dentro de sua barraca, Asim diz que fugiu do "Estado Islâmico" no Iraque. Ele se esforça para manter o pequeno espaço limpo e até oferece um chá para a repórter da DW. "Todos querem seguir adiante", diz o iraquiano.
Foto: DW/B. Riegert
A última estação
O porto de Dunquerque fica a 10 quilômetros do acampamento. As chances de conseguir chegar à Inglaterra partindo daqui são mínimas. Quase ninguém quer entrar com um pedido de asilo na França. O que fazer agora? Pagar um transporte clandestino para atravessar o Canal da Mancha? Recuar para a Bélgica ou Alemanha? Ou simplesmente esperar?