França depende da cooperação americana para combater o EI
25 de novembro de 2015O presidente dos EUA, Barack Obama, prometeu nesta terça-feira (24/11), em Washington, "total solidariedade" com a França na luta contra o "Estado Islâmico" (EI), em meio à crescente pressão de Paris em prol de uma cooperação com a Rússia na Síria.
"Estamos aqui para declarar que os EUA e a França estão unidos em total solidariedade para fazer justiça a esses terroristas", afirmou Obama, durante entrevista conjunta com o presidente francês, François Hollande.
"Este bárbaro grupo terrorista EI ou 'Daesh' e sua ideologia assassina representam uma séria ameaça a todos nós", continuou Obama. "Ele não pode ser tolerado. Ele deve ser destruído, e devemos fazer isso juntos." Washington tem fornecido informações de inteligência para ajudar os franceses a direcionar seus ataques aéreos na Síria e aumentará essa cooperação, declarou o presidente americano.
O chefe de Estado francês descartou o emprego de tropas de solo, mas disse que a França está apoiando combatentes locais nas cidades iraquianas de Ramadi e Mossul. O porta-aviões Charles de Gaulle também foi enviado para o Mediterrâneo Oriental, com vista a intensificar os ataques aéreos.
Michael Shurkin, especialista em Defesa no grupo americano de pesquisa Rand Corporation, disse à DW que a resposta francesa aos ataques em Paris dependerá de quanta cooperação os EUA estão dispostos a prestar. "Se Hollande quiser aumentar o tom de voz – seja pouco ou muito –, terá certamente de fazê-lo com a cooperação dos EUA."
Maior urgência na França
Apesar de a França e os EUA compartilharem o objetivo estratégico primordial de destruir o "Estado Islâmico", Washington tem demonstrado morosidade em compreender a gravidade da situação na Europa, critica Simond de Galbert, diplomata francês que serviu no Ministério do Exterior em Paris.
"Os EUA estão subestimando o impacto estrutural que a crise tem na Europa", afirmou De Galbert, que atualmente pesquisa no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington. "A crise de refugiados e o terrorismo são fatores que elevam o populismo, e essa tendência não é positiva para os EUA em termos de reforço da relação transatlântica."
Obama tem resistido a mudar sua política para a Síria, argumentando que "a estratégia que estamos empreendendo vai ser a estratégia que, no final, vai funcionar". A Casa Branca prometeu intensificar seus atuais esforços, que incluem ataques aéreos, uma força especial terrestre de cerca de 50 homens e apoio a grupos locais e rebeldes curdos.
Segundo Shurkin, a resposta militar da França aos ataques em Paris provavelmente não deverá ir além do que os EUA estão fazendo na Síria. As Forças Armadas francesas são eficazes, mas limitadas em seu alcance e capacidade, afirmou o especialista, explicando que Paris precisa de ajuda americana no transporte aéreo de tropas, no reabastecimento de aeronaves e na obtenção de informações de inteligência.
"Se estamos falando sobre a possibilidade de a França enviar um regimento inteiro ou uma brigada para a Síria, Paris certamente não poderá fazê-lo sem o apoio dos EUA", reiterou Shurkin. "Não acho que Obama concordaria com isso, mas também não acredito que Hollande venha a pedir algo assim."
Cooperação com a Rússia
Hollande tem apelado pela formação de uma coalizão única e mais ampla para combater o EI. Em telefonema na semana passada, ele e o presidente russo, Vladimir Putin, concordaram em "coordenação e um contato mais próximos entre as forças militares e os órgãos de segurança dos dois países em ações contra os terroristas" na Síria, informou o Kremlin.
Segundo a agência de notícias France Presse, Putin ordenou que a Marinha e a Força Aérea da Rússia estabelecessem "contato direto com os franceses e trabalhassem ao lado deles como aliados".
Em público, Obama tem sido mais cético quanto ao papel de Moscou. Na terça-feira, ele declarou que a Rússia é "o forasteiro" na luta contra os jihadistas. Após Ancara ter derrubado um caça russo que supostamente teria adentrado seu território, o presidente afirmou apoiar o direito da Turquia de defender seu espaço aéreo, enquanto país aliado na Otan. Obama pediu uma distensão da situação após o incidente.
"A França não está pedindo mais do que os EUA podem aceitar e saudar, que é mais ataques russos contra o 'Estado Islâmico' e menos ataques russos contra os rebeldes", explicou De Gilbert. O Ocidente criticou Moscou por atacar rebeldes anti-Assad, ao invés de ter o EI como foco.
Quaisquer que sejam suas diferenças, Paris vê Washington como seu principal aliado na luta contra o EI, afirmou o pesquisador, afirmando que a França também vai solicitar um empenho maior aos demais aliados. "Uma coisa é pedir que os americanos façam mais, mas tendo em mente que os EUA já são o país militarmente mais envolvido na luta contra o EI. Mas outra coisa é enviar um recado aos europeus para que acelerem seus esforços."