França devolverá obra de Klimt roubada por nazistas
16 de março de 2021
Famoso quadro "Rosas sob as árvores" estava no museu Museu d'Orsay, em Paris, e deverá ser restituído a familiares da proprietária judia. O quadro foi tomado pelo regime nazista em 1938.
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O governo da França anunciou nesta segunda-feira (15/03) que pretende devolver um quadro do pintor austríaco Gustav Klimt (1862-1918) tomado pelos nazistas de sua proprietária judia em 1938 aos herdeiros da família.
A ministra da Cultura da França, Roselyne Bachelot, afirmou que, antes, precisa ser aprovada uma lei para permitir a devolução do quadro "Rosas sob as árvores" à família da vítima do Holocausto Nora Stiasny.
A mudança na lei é necessária porque a pintura, de 1905, é patrimônio cultural inalienável da França. "Rosas sob as árvores", até agora exibida no Museu d'Orsay em Paris, é a única pintura de Klimt em poder da França, segundo Bachelot-Narquin. A decisão de devolver o quadro foi difícil, "mas é necessária, inevitável", acrescentou a ministra. A obra foi adquirida pelos nazistas numa venda forçada na Áustria em agosto de 1938.
Quando o museu parisiense adquiriu a pintura, em 1980, não havia indícios de que a pintura fora roubada. Nesse ínterim, no entanto, a verdadeira origem da famosa obra foi esclarecida, disse Bachelot-Narquin. Os descendentes dos proprietários originais solicitaram a devolução no final de 2019.
O advogado dos descendentes de Stiasny, Alfred Noll, agradeceu a decisão de devolver a obra, ressaltando a importância moral e histórica da atitude francesa.
Ruth Pleyer, que pesquisa em Viena a proveniência de pinturas de Klimt e acompanha os familiares de Stiasny, considera a decisão um "gesto extraordinário", e disse que para a família é "como um milagre".
Milhares de obras de arte roubadas pelos nazistas na Europa acabaram em museus franceses após os Aliados derrotaram a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, em 1945. Apesar de muitas das obras terem sido devolvidas, as autoridades francesas intensificaram nos últimos anos os esforços para identificar seus verdadeiros donos.
rw/lf (dpa, afp)
Gustav Klimt, um mestre da Art Nouveau
Há cem anos morria o pintor austríaco, cofundador e principal representante da Secessão Vienense. Motivo de escândalo em sua época, suas obras são hoje admiradas em todo o mundo.
Foto: picture-alliance/R. Hackenberg
Arte em vez de gravura
Gustav Klimt (1862-1918) deveria ter sido um gravador de ouro como seu pai, mas, depois de uma bolsa de estudos para a Escola de Artes Aplicadas de Viena, ele optou pela carreira de pintor. Inicialmente garantia seu sustento com pinturas de cortina e teto. Na foto, Klimt tinha 52 anos.
Foto: picture alliance/Imagno
Pintura de teto com querubim
Com o irmão Ernst e o colega Franz Matsch, Gustav Klimt montou a chamada "Künstlercompagnie" ou "companhia de artistas". Juntos, eles realizaram esta e outras pinturas de teto na Hermesvilla, um castelo que o imperador Francisco José 1° presenteou à imperatriz Sissi da Áustria. Não somente os aposentos particulares, mas também a sala de esportes estava adornada com obras da companhia de artistas.
Foto: picture-alliance/IMAGNO/Wien Museum
Mulheres escandalosas
Em 1894, Klimt realizou três pinturas de teto para a Universidade de Viena. Professores ficaram consternados com as representações da Jurisprudência, Filosofia e Medicina: as mulheres estariam "nuas e eróticas demais". Após longa disputa sobre a liberdade da arte, Klimt as comprou de volta em 1905. No fim da Segunda Guerra, elas foram destruídas num incêndio, restando apenas estas fotografias.
"O friso de Beethoven"
Em 1897, Klimt fundou com seus companheiros a Secessão Vienense, que rejeitava o estilo tradicional na arte. Mais uma vez, ele teve de fazer concessões ao público vienense conservador, cobrindo com ramos o órgão genital de seu Teseu no cartaz da primeira exposição da Secessão. Por mostrar pelos pubianos, também seu "Friso de Beethoven" foi motivo de escândalo em 1902.
Foto: picture-alliance/Rainer Hackenberg
Paisagens de veraneio
Menos conhecidas são as paisagens realizadas durante as férias de verão no lago Attersee, na região de Salzkammergut. Entre 1900 e 1916, o pintor viajou regularmente para lá, pintando ali a maioria dos seus cerca de 50 trabalhos paisagísticos. Um motivo recorrente foi o Palácio Kammer (foto). Por ocasião do 150º aniversário do artista, o Centro Gustav Klimt foi aberto no lago Attersee em 2012.
Foto: picture-alliance/akg-images
"Girassol"
Quando Klimt capturava a natureza na tela, ele não precisava de nenhum esboço. Seu "Girassol" foi realizado em 1907. Durante muito tempo, essa obra pertenceu ao colecionador de arte vienense Peter Parzer. Ele morreu em 2010 e deixou este e outros quadros para o Museu Belvedere, que possui 24 pinturas de Klimt.
Foto: picture-alliance/akg-images
Sonja Knips e uma abundância de tule
Além de paisagens e pinturas de teto, Gustav Klimt fez retratos com os quais ganhou bastante dinheiro. Um senhor da burguesia pagava nada menos que 20 mil coroas para que sua esposa fosse retratada. Pelo dobro, era possível na época comprar uma mansão mobiliada. "O retrato de Sonja Knips", de 1898, já indica como Klimt se dissociava do realismo de seus primeiros trabalhos.
Foto: AP
"O retrato de Adele"
Quando, em 1907, Klimt retratou Adele Bloch-Bauer, esposa de um comerciante de açúcar, seu cliente dificilmente poderia sonhar que, quase cem anos depois, o quadro seria vendido ao empresário americano Ronald Lauder pelo preço recorde de 135 milhões de dólares. Pouco antes, a pintura havia sido restituída aos herdeiros pela galeria austríaca Belvedere.
Gustav Klimt ganhou fama mundial com seu período dourado. A inspiração veio de uma viagem a Ravenna, onde pôde admirar os mosaicos dourados bizantinos das igrejas. "O beijo", de 1908, é certamente a obra mais importante dessa fase e é hoje uma das imagens mais reproduzidas da história da arte – em xícaras de café, gravatas ou bolsas de pano.
Foto: Belvedere Wien/Basiliscus Production
Klimt e as mulheres
"Dânae", uma figura da mitologia grega, era um popular motivo artístico por volta de 1900. Klimt também a imortalizou numa de suas pinturas mais famosas. Não se sabe, no entanto, se o pintor teve um relacionamento com sua modelo. Ele teve filhos com ao menos três mulheres. E também teve casos com algumas de suas clientes da alta burguesia. O artista nunca se casou.
Morte aos 55 anos
Embora suas obras tivessem grande aceitação entre a burguesia, o Ministério da Educação da época recusou quatro vezes a nomeação de Klimt como professor da Academia de Belas-Artes de Viena, da qual por fim se tornou um membro honorário em 1917. Depois de um acidente vascular cerebral, Klimt (na foto, em frente a seu ateliê) morreu em 6 de fevereiro de 1918.