França e Reino Unido defendem ataques aéreos na Síria
16 de abril de 2018
Em esclarecimentos a parlamentares, May diz que bombardeios foram corretos do "ponto de vista moral e legal", e Édouard Phillipe destaca que ação não é prelúdio de uma guerra.
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Os primeiros-ministros da França e do Reino Unido defenderam nesta segunda-feira (16/04), perante parlamentares dos seus respectivos países, os ataques aéreos realizados na Síria no sábado e coordenados em parceria com os Estados Unidos.
Ao falar diante do Parlamento do Reino Unido, a primeira-ministra Theresa May afirmou que o bombardeio contra instalações do regime sírio foi a decisão correta dos "pontos de vista legal e moral", apesar de não contar com a anuência do Conselho de Segurança da ONU.
May destacou aos parlamentares que a operação militar não visava intervir na guerra nem impulsionar uma mudança de regime e ressaltou que o bombardeio "foi um ataque efetivo e com objetivos limitados para aliviar o sofrimento dos cidadãos sírios".
"Não podemos permitir que o uso de armas químicas se normalize na Síria ou nas ruas do Reino Unido", afirmou a premiê, que disse haver "claras evidências" de que o regime sírio está por detrás do ataque que matou ao menos 40 pessoas em Duma.
Macron: “Nós convencemos Trump a manter tropas na Síria”
01:18
May ouviu críticas de parlamentares. O líder da oposição, Jeremy Corbyn, do Partido Trabalhista, sustentou que a ação é legalmente questionável, pois não conta com a aprovação da ONU. Corbyn acusou a premiê de seguir ordens do presidente americano, Donald Trump, e sugeriu uma alteração na legislação para que ações militares sejam permitidas apenas após aprovação do Parlamento.
Em resposta, a primeira-ministra destacou que não apoiou o ataque por ser um pedido de Trump. "Fizemos isso por acreditar que era a coisa certa a se fazer, e não estamos sozinhos", acrescentou.
"Armas químicas não serão toleradas"
Na França, o primeiro-ministro Édouard Phillipe afirmou a parlamentares que os bombardeios não são o prelúdio de uma guerra e destacou que o uso de armas químicas pelo presidente sírio, Bashar al-Assad, não será tolerado.
"O ataque foi cuidadosamente proporcional a alvos circunscritos ao programa químico, realizado de forma seletiva para evitar danos aos civis e projetada para evitar uma escalada de violência", disse Phillipe ao prestar esclarecimentos sobre as ações do governo à Assembleia Nacional.
Phillipe seguiu a linha das declarações do presidente Emmanuel Macron, que afirmou no domingo que os bombardeiros eram indispensáveis para recuperar a credibilidade da comunidade internacional.
O primeiro-ministro criticou os vetos da Rússia no Conselho de Segurança da ONU sobre a Síria e citou que o Kremlin bloqueou em seis oportunidades resoluções sobre o uso de armas químicas de Assad. "Não entramos em guerra contra a Síria ou contra o regime de Assad. Mas nenhuma solução política será firmada se deixarmos impunes o uso de armas químicas", disse.
Phillipe afirmou que a utilização desse tipo de armamento é uma "linha vermelha" estabelecida por Macron desde que assumiu o poder. E esclareceu que o posicionamento é claro e não vai mudar.
O primeiro-ministro fez ainda um apelo ao multilateralismo para resolver o conflito na Síria, incluindo nas discussões a própria Rússia, aliada de Assad, e potências da região, como a Arábia Saudita.
CN/efe/lusa/ap
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Cronologia da guerra na Síria
O que se iniciou com protestos pacíficos em 2011 virou uma guerra civil brutal que já matou centenas de milhares de pessoas e fez milhões de refugiados. Reveja os principais acontecimentos.
Foto: Reuters/Stringer
2011: O início
Em 15 de março de 2011, protestos pacíficos contra a detenção de jovens acusados de fazer pichações antigoverno em sua escola, na cidade de Daraa, são reprimidos por forças de segurança, que abrem fogo contra manifestantes desarmados, matando quatro. Os protestos continuam por vários dias, fazendo 60 mortos e se espalham por todo o país. Segue-se um período de repressão violenta.
Foto: Anwar Amro/AFP/Getty Images
2011/2012: Isolamento internacional
O ex-presidente Barack Obama insta o presidente Bashar al-Assad a renunciar, e os EUA anunciam sanções a Assad em maio e congelam bens do governo sírio nos EUA em agosto de 2011. A União Europeia também anuncia sanções, em setembro. Em novembro, a Liga Árabe suspende a Síria e impõe sanções ao regime. Também a Turquia anuncia uma série de medidas, incluindo sanções, em dezembro.
Foto: AP
2012: Observadores internacionais desistem
Em dezembro de 2011, a Síria permite a entrada de observadores da Liga Árabe para monitorar a retirada de tropas e armas de áreas civis. A missão é suspensa em janeiro de 2012. Em fevereiro, os EUA fecham sua embaixada em Damasco. Em abril de 2012, chegam observadores da ONU, que partem dois meses depois por falta de segurança.
Foto: REUTERS
2013: Ataque com gás
Em março, um ataque com gás mata 26 pessoas, ao menos a metade deles soldados do governo, na cidade de Khan al-Assal. Investigação da ONU conclui que foi usado gás sarin. Em agosto, outro ataque com gás mata centenas em Ghouta Oriental, um subúrbio de Damasco controlado pelos rebeldes. A ONU afirma que mísseis com gás sarin foram lançados em áreas civis. Os EUA e outros países culpam regime sírio.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2013: Destruição de armas químicas
Em agosto, investigadores da ONU chegam à Síria para averiguar o uso de armas químicas, em meio a denúncias de médicos e ativistas. EUA afirmam que 1.429 pessoas morreram num ataque, e Obama pede ao Congresso autorização para ação militar. Em setembro, o Conselho de Segurança da ONU ameaça usar a força e, em outubro, Damasco inicia a destruição de seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: AFP/Getty Images
2014: EUA atacam "Estado Islâmico"
Em setembro, os EUA iniciam ataques aéreos a alvos do "Estado Islâmico" na Síria. Em outubro, o mediador da ONU, Staffan de Mistura, começa a negociar uma trégua ao redor de Aleppo, mas o plano fracassa meses depois.
Foto: picture-alliance/AP Photo/V. Ghirda
2015: Rússia entra no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao governo sírio nos bastidores, entra ativamente no conflito, bombardeando opositores do regime. A ajuda se mostra decisiva, e a guerra civil passa a pender para o lado de Assad, que nos meses seguintes recupera território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
A ONU e a Opac afirmam que tanto militares sírios quanto o "Estado Islâmico" usaram gás em ataques a opositores. O ano é marcado por várias tentativas de tréguas. Em setembro, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos por forças pró-Assad num fim de semana. Em dezembro, as forças governamentais assumem controle de Aleppo, encerrando quatro anos de domínio dos rebeldes.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque em Idlib
Em fevereiro, Rússia e China vetam resolução do Conselho de Segurança da ONU pedindo sanções ao governo sírio pelo uso de armas químicas. Em abril, ao menos 58 pessoas morrem na província de Idlib, dominada pelos rebeldes, no que aparenta ser um ataque com gás. Testemunhas afirmam que o ataque foi executado por jatos sírios e russos, mas tanto Moscou quanto Damasco negam bombardeio.
Foto: Getty Images/AFP/O. H. Kadour
2017: Resposta dos EUA
Em abril, os EUA lançam dezenas de mísseis sobre a base militar de onde se acredita ter saído o ataque em Idlib. Em maio, o presidente Donald Trump aprova planos para armar combatentes das milícias curdas YPG na luta contra o "Estado Islâmico". A medida enfurece a Turquia, que vê as YPG como um grupo terrorista. Em outubro, o "Estado Islâmico" perde o controle de Raqqa, sua autoproclamada capital.
Em janeiro, aviões turcos bombardeiam a região curda de Afrin, dando início à operação contra as YPG intitulada "Ramo de Oliveira". A Turquia anuncia a morte de centenas de "terroristas", mas entre os mortos estão dezenas de civis, dizem ativistas. Em fevereiro, as milícias YPG chegam a acordo com o regime sírio para o envio de tropas pró-governo para auxiliar no combate aos turcos em Afrin.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Ofensiva em Ghouta Oriental
Em 21 de fevereiro, tropas pró-regime executam ofensiva em larga escala contra enclave rebelde localizado ao leste de Damasco. Em torno de 400 mil civis ficam sitiados, com acesso limitado a alimentos e cuidados médicos. Os ataques matam centenas de pessoas. No dia 24 de fevereiro, o Conselho de Segurança da ONU aprova trégua humanitária de 30 dias vigente em todo o território sírio. Ela fracassa.
Foto: Reuters/B. Khabieh
2018: O bombardeio ocidental
Após dias de ameaça, em 14 de abril Trump anuncia o lançamento de mais de cem mísseis, em conjunto com França e Reino Unido, na Síria. O ataque é uma retaliação ao ataque químico na cidade de Duma, que matou dezenas de civis e que o Ocidente atribui ao regime de Bashar al-Assad.
Foto: picture-alliance/AP Photo/L. Matthews
2019: Estados Unidos começam a se retirar da Síria
Em janeiro de 2019, os Estados Unidos começaram a se retirar da Síria. O presidente americano afirmou que o Estado Islâmico havia sido derrotado e, por isso, a presença dos EUA não seria mais necessária. A decisão foi contestada dentro do próprio governo e também pelas milícias curdas na Síria, aliadas dos EUA, que temiam enfraquecer-se.
Foto: Getty Images/AFP/D. Souleiman
2019: fim do autoproclamado califado do EI
Em março de 2019, as Forças Democráticas Sírias (FDS), aliança liderada por curdos, anunciaram que o autoproclamado califado do Estado Islâmico foi totalmente eliminado, após combates em Baghouz, considerado o último reduto jihadista na Síria. Militantes curdos e árabes das FDS, apoiados pela coalizão internacional liderada pelos EUA, combatiam há várias semanas os jihadistas.