Comunicado do governo afirma que alvo no nordeste do Iraque foi totalmente destruído. França é o primeiro país a se aliar aos EUA na investida contra os jihadistas.
Anúncio
A França executou nesta sexta-feira (19/09) um ataque aéreo contra um alvo do grupo extremista "Estado Islâmico" (EI) no nordeste do Iraque. A investida ocorre apenas um dia depois de o presidente François Hollande ter anunciado que a França iria se unir aos Estados Unidos nas intervenções militares aéreas em território iraquiano.
Segundo um comunicado oficial do governo francês, caças Rafale atacaram um depósito logístico do grupo terrorista no nordeste do Iraque. O alvo foi "totalmente destruído". O local exato do ataque não foi precisado.
Aviões franceses iniciaram as missões de reconhecimento nesta segunda-feira, a partir de uma base aérea mantida pela França desde 2009 perto de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. No local há cerca de mil soldados e seis caças Rafele.
A França é o primeiro país a se unir à campanha aérea dos EUA contra os jihadistas no Iraque. Em pronunciamento nesta quinta-feira, Hollande deixara claro que as ações militares franceses serão restritas ao Iraque e que não haverá operações na Síria, país onde o "Estado Islâmico" também ganhou terreno nos últimos meses.
Onze anos depois de se recusar a participar da guerra liderada pelos EUA no Iraque em 2003, o governo francês justificou a decisão com base no pedido feito pelo governo iraquiano. "Eu decidi responder ao pedido das autoridades iraquianas para fornecer apoio aéreo", disse Hollande, que esteve em Bagdá na semana passada. "Mas não vamos além disso. Não haverá tropas terrestres e só vamos intervir no Iraque", acrescentou o presidente, seguindo assim a mesma linha adotada pelo presidente dos EUA, Barack Obama.
Já o presidente sírio, Bashar al-Assad, disse que qualquer ataque aéreo unilateral no território da Síria será considerado uma agressão.
Nesta quinta-feira, o Senado dos EUA aprovou a entrega de armas a rebeldes sírios moderados – opositores do regime de Assad – para combater os jihadistas do "Estado Islâmico". Os EUA também estão autorizados a fazer operações de treinamento dos rebeldes.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.