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François Hollande faz discurso histórico na Argélia

20 de dezembro de 2012

Durante visita de dois dias à Argélia, presidente francês criticou duramente o sistema colonial imposto por seu país no Norte da África. Hollande defendeu que ambas as nações iniciem "um novo capítulo" em suas relações.

Foto: Reuters

Em discurso perante o Parlamento argelino durante visita de Estado à antiga colônia francesa, nesta quinta-feira (20/12), François Hollande tornou-se o primeiro presidente francês a criticar com toda clareza o sistema colonial instaurado na Argélia pela França e a reconhecer os sofrimentos do povo argelino.

"Durante 132 anos, a Argélia foi submetida a um sistema profundamente injusto e brutal. Este sistema tem um nome: colonização", disse Hollande em declaração histórica para a relação entre os dois países. "Eu reconheço aqui os sofrimentos que a colonização infligiu ao povo argelino", sublinhou Hollande no segundo dia de sua visita ao país norte-africano.

As expectativas em torno da visita de dois dias de François Hollande eram grandes na Argélia. Somente em 1962, após oito anos de uma guerra sangrenta que deixou centenas de milhares de mortos, a Argélia conseguiu sua independência da França.

Evocando a "verdade"

Já antes da visita, representantes do governo e dos partidos argelinos exigiam um pedido de desculpas pelos crimes franceses. No entanto, da mesma forma que seu antecessor conservador Nicolas Sarkozy, que em 2007 havia classificado o sistema colonial como "profundamente injusto", o novo presidente francês não quis expressar desculpas nem arrependimento pelo período colonial.

Em vez disso, Hollande defendeu, frente às duas câmaras do Parlamento, que ambos os países iniciem "um novo capítulo" em suas relações, pedindo em seu discurso "a disposição de não se deixar bloquear pelo passado, mas de trabalhar pelo futuro".

Francois Hollande e Abdelaziz Bouteflika na capital argelinaFoto: Reuters

A base para tal deveria estar em dizer a "verdade", disse Hollande. "Mesmo quando é trágica, dolorosa, a história deve ser dita", sublinhou o presidente francês no momento em que a Argélia celebra 50 anos de independência. "Nada é construído a partir da dissimulação, do esquecimento, da negação."

Segundo Hollande, entre esses pontos, estaria o reconhecimento de "injustiças", "massacres" e "tortura". O presidente francês evocou notadamente os massacres de Sétif, Guelma e Kherrata, repressão sanguenta de motins nacionalistas em maio de 1945. Para favorecer a "paz das memórias", François Hollande defendeu ainda a abertura dos arquivos de ambos os países.

Opinião pública dividida

Em pesquisa de opinião publicada nesta quarta-feira pelo instituto de estudos CSA, 35% dos franceses entrevistados disseram ser contra um pedido de desculpas por parte do presidente francês. Outros 26% afirmaram que Hollande deveria fazê-lo só se a Argélia também se desculpasse com a França. Somente 13% exigiram um pedido de desculpas claro do lado francês – os demais 26% não quiseram dar opinião.

Recebido na quarta-feira pelo presidente Abdelaziz Bouteflika, Hollande foi acompanhado de uma grande delegação de ministros e empresários em sua visita à Argélia. Durante os dois dias foram assinados vários acordos bilaterais. A montadora Renault fechou um acordo de joint venture para construir uma fábrica no oeste do país, com produção de 75 mil carros por ano.

Hollande anunciou ainda que irá se esforçar por uma maior facilidade de vistos de entrada na França para estudantes, empresários, artistas e familiares de argelinos. O presidente também estimulou a criação de um sistema de intercâmbio estudantil para os vizinhos do Mediterrâneo, seguindo o modelo do programa europeu Erasmus.

CA/afp/dpa/rtr
Revisão: Francis França

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