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'Era mais barato'

6 de janeiro de 2012

Em depoimento, Jean-Claude Mas afirma que o gel caseiro usado por ele na fabricação de próteses de silicone não oferece riscos à saúde. "Eu sabia que não era homologado, mas era mais barato e de melhor qualidade."

Jean-Claude Mas não deu sinais de arrependimentoFoto: picture-alliance/dpa

O fundador da empresa francesa Poly Implant Prothese (PIP), Jean-Claude Mas, 72 anos, admitiu para a polícia ter usado conscientemente material não autorizado pelas autoridades de saúde para fabricar próteses de silicone mamáreo. Ele afirmou, no entanto, que o material não oferecia riscos à saúde.

"Eu sabia que esse gel não era homologado, mas eu o usei conscientemente porque o gel PIP era mais barato e de bem melhor qualidade", afirmou, segundo ata do interrogatório policial de outubro passado ao qual a agência de notícias francesa AFP teve acesso.

Segundo o próprio Mas, ele orientava seus funcionários a driblar a fiscalização da Associação de Controle Técnico da Alemanha (TÜV), que atesta a qualidade dos produtos. "O TÜV avisava sobre a visita dez dias antes", explicou o fundador, afirmando ter dado ordens nesse sentido já em 1993.

O francês disse que 75% das próteses eram feitas com gel de silicone mais barato, feito em casa. Apenas um quarto usava o gel autorizado, da marca americana Nusil. De acordo com o ex-técnico da PIP Thierry Brinon, a prática começou em 2001.

A diferença de preço, segundo Brinon, era gritante: enquanto o gel autorizado custava 35 euros por litro, o material fabricado domesticamente custava apenas 5 euros por litro, em valores de 2009.

Ainda segundo Brinon, a PIP não economizava apenas no gel, mas também nas bolsas dos implantes. O resultado ficou bem claro em 2009, quando até 40% das próteses se romperam. No mês passado, as autoridades de saúde da França recomendaram às 30 mil mulheres no país com implantes da PIP a retirá-los, justamente pelo risco de as próteses poderem se romper, causando infecções e irritações.

Milhares de próteses da PIP foram descartadas em 2010Foto: Picture-Alliance/dpa

Apesar de o risco de câncer associado ao uso dos implantes da empresa francesa não ter sido comprovado, as autoridades notificaram 20 casos da doença e duas mortes no ano passado em mulheres que usavam as próteses.

Mas enfrenta em seu país dois processos judiciais e mais de duas mil queixas contra ele. No Reino Unido, mais de 200 mulheres apresentaram queixa contra as clínicas onde fizeram a cirurgia.

Proibido no Brasil

No Brasil, a comercialização das próteses de silicone da PIP está proibida desde abril de 2010, quando o governo da França divulgou informações sobre a possível fragilidade e a possibilidade de rompimento do produto. Até a suspensão da importação do silicone francês, porém, 25 mil próteses da PIP haviam sido vendidas no Brasil.

Calcula-se que em todo o mundo há entre 400 mil e 500 mil mulheres com os implantes de silicone da empresa.

MSB/lusa/afp/dpa
Revisão: Alexandre Schossler

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