Fronteira Brasil-Venezuela volta a registrar conflitos
24 de fevereiro de 2019
Após trégua, venezuelanos que vivem em Roraima e militares do regime chavista entraram em confronto neste domingo. Exército brasileiro monta cordão de isolamento para afastar manifestantes.
Anúncio
Membros da Guarda Nacional Bolivariana e manifestantes venezuelanos antichavistas que vivem em Roraima voltaram a entrar em conflito no início da tarde deste domingo (24/02) na fronteira entre o Brasil e a Venezuela.
Após um sábado marcado por conflitos, a cidade brasileira de Pacaraima teve uma manhã relativamente tranquila neste domingo, mas, pouco depois do meio-dia, manifestantes antichavistas voltaram a atirar pedras contra os militares venezuelanos que reforçam um bloqueio junto à divisa.
Assim como já havia ocorrido no sábado, os militares atiraram bombas de gás lacrimogênio e balas de borracha nos manifestantes próximos da linha de fronteira. Além de atirarem pedras, alguns manifestantes insultaram os militares, queimaram uma foto do ex-presidente Hugo Chávez e depois atearam fogo a um pneu.
Várias bombas de gás atiradas pelos membros da Guarda Bolivariana caíram em território brasileiro. Alguns manifestantes também voltaram a atacar um posto militar venezuelano que já havia sido incendiado no sábado.
Os militares foram enviados ao local para impedir que a oposição entre na Venezuela com carregamentos de ajuda humanitária. A divisa foi fechada na quinta-feira, por ordem do governo de Nicolás Maduro.
Após o novo confronto, militares do Exército brasileiros que estão em Pacaraima montaram um cordão de isolamento do lado brasileiro da fronteira para afastar os manifestantes, com reforço de membros da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Federal e da Força Nacional.
No sábado, a oposição venezuelana liderada por Juan Guaidó com o apoio do Brasil, da Colômbia e de outros países da região tentou reforçar a pressão sobre o regime de Maduro com o envio de ajuda humanitária para a Venezuela, que passa por uma grave crise econômica e social. Maduro rechaçou o plano e ordenou o fechamento das fronteiras do seu país com a Colômbia e o Brasil, além de reforçar os bloqueios com a presença de militares.
Foram registrados diversos choques entre manifestantes e tropas venezuelanas na fronteira com a Colômbia. Pelo menos três caminhões com ajuda foram queimados. Ao final, nenhum carregamento conseguiu furar os bloqueios.
Paralelamente, duas caminhonetes com auxílio organizado pelo governo brasileiro partiram para Pacaraima, em Roraima, com o objetivo de entrar na Venezuela pela fronteira sul do país. Quando as caminhonetes foram bloqueadas e retornaram a Pacaraima, dezenas de venezuelanos que moram no lado brasileiro ficaram revoltados e passaram a atirar pedras e coquetéis molotov contra os militares venezuelanos.
Relatos da oposição apontam que ao menos 14 pessoas morreram e mais de 20 ficaram feridas durante confrontos com paramilitares chavistas na cidade venezuelana de Santa Elena de Uairén, perto da divisa com o Brasil.
Após o fracasso das tentativas de furar os bloqueios, Guaidó acusou Maduro de crime de lesa humanidade. "Seguimos recebendo o respaldo da comunidade internacional, que pode ver, com seus próprios olhos, como o regime usurpador viola a Convenção de Genebra, que diz claramente que destruir ajuda humanitária é um crime de lesa humanidade", escreveu o oposicionista no Twitter.
O sábado também foi marcado por deserções de mais de cem militares venezuelanos que fugiram para a Colômbia. Vários deles declararam apoio a Guaidó. Três militares também fugiram para o Brasil. Maduro ainda anunciou o rompimento de todas as relações com Bogotá e ordenou a retirada dos funcionários diplomáticos colombianos do país.
Maduro reprime tentativa da oposição de entrar no país com ajuda humanitária a partir da Colômbia e do Brasil. Confrontos entre manifestantes e militares deixam mortos e centenas de feridos em cidades fronteiriças.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/H. Matheus
Comboios de ajuda humanitária
A oposição liderada por Juan Guaidó com apoio dos governos brasileiro, colombiano e de outros países da região buscou reforçar a pressão sobre o regime de Nicolás Maduro com o envio de ajuda humanitária para a Venezuela a partir do Brasil e da Colômbia, mas a tentativa foi duramente reprimida pelo governo venezuelano ao longo do sábado (23/02).
Foto: Getty Images/AFP/N. Almeida
Fronteiras reforçadas
Maduro mandou fechar as fronteiras da Venezuela com o Brasil e com a Colômbia para impedir a entrada de ajuda humanitária, reforçando os bloqueios com militares das Forças Armadas venezuelanas instalados nas divisas. O líder chavista alega que o ingresso de ajuda não passa de um pretexto para os Estados Unidos promoverem um golpe de Estado no país.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Llano
Confrontos na fronteira brasileira
Na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, conflitos irromperam quando dois veículos carregados de ajuda humanitária foram impedidos de prosseguir. Militares do regime chegaram a lançar gás lacrimogêneo contra manifestantes opositores que estavam do lado brasileiro, enquanto estes atiraram coquetéis molotov contra soldados venezuelanos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/I. Valencia
Mortos e feridos
Choques na cidade fronteiriça de Santa Elena de Uairén, na divisa com Roraima, teriam deixado ainda ao menos quatro mortos, segundo informações de uma ONG e de um deputado venezuelano da oposição. Além disso, vários feridos foram levados para hospitais no Brasil, muitos com ferimentos a bala. Na véspera, outras duas pessoas já haviam sido mortas por forças do regime na região.
Foto: Reuters/R. Moraes
Choques na fronteira colombiana
Confrontos violentos também foram registrados na fronteira da Venezuela com a Colômbia. Na cidade venezuelana de Ureña, onde fica uma das pontes que conectam os dois países, tropas chavistas dispararam gás lacrimogêneo e balas de borracha contra manifestantes.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Llano
Veículos incendiados
Caminhões carregando ajuda humanitária também foram impedidos de entrar na Venezuela a partir da fronteira com a Colômbia. Na ponte Francisco de Paula Santander, que liga a cidade de Cúcuta a Ureña, pelo menos dois veículos foram incendiados. Manifestantes conseguiram salvar parte da carga. A oposição culpou membros de grupos paramilitares chavistas pelos incêndios.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R. Abd
Centenas de feridos
Na ponte Simón Bolívar, mais ao sul, também houve uma série de confrontos, com manifestantes atirando pedras e coquetéis molotov nos militares venezuelanos a partir do lado colombiano. Os choque ao longo de toda a fronteira entre a Colômbia e a Venezuela deixaram ao menos 285 feridos, sendo 255 cidadãos venezuelanos e 30 colombianos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Llano
Maduro em Caracas
Enquanto os confrontos eclodiam nas fronteiras, Maduro resolveu encenar uma demonstração de força na capital, Caracas. Em um discurso de mais de uma hora diante de uma multidão de apoiadores, ele lançou acusações contra os Estados Unidos, prometeu defender a Venezuela de intervenções estrangeiras e anunciou o rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia.
Foto: Reuters/M. Quintero
Guaidó em Cúcuta
Por sua vez, o líder oposicionista Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente interino da Venezuela e foi reconhecido por 50 países, defendeu a entrada de ajuda humanitária em seu país e ajudou a organizar uma procissão de caminhões carregando mantimentos a partir da Colômbia. Após o fracasso das tentativas de furar os bloqueios militares, ele acusou Maduro de crime de lesa humanidade.
Foto: Reuters/M. Bello
Deserção de militares
O dia de tensões também foi marcado pela deserção de dezenas de militares venezuelanos. Segundo Bogotá, mais de 60 membros das Forças Armadas da Venezuela fugiram do país e buscaram refúgio na Colômbia ao longo do sábado. Entre eles há oficiais do Exército, da Marinha, da Guarda Nacional, da Polícia Nacional Bolivariana e das Forças Especiais.