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Frustração marca um ano do início dos protestos na Turquia

Senada Sokollu (ca)28 de maio de 2014

Em 28 de maio de 2013, ambientalistas montaram barracas no Parque Gezi, em Istambul, e logo tiveram início manifestações em todo o país contra o governo. Um ano depois, ativistas reclamam que nada melhorou.

Türkei Istanbul Taksim Platz Stiller Protest
Foto: MARCO LONGARI/AFP/Getty Images

Para o artista turco Erdem Güngüz não há motivo para comemorar o primeiro aniversário do início dos protestos no Parque Gezi. Há um ano, ele passou horas na Praça Taksim, imóvel, com o olhar voltado para o retrato do fundador da República da Turquia, Mustafá Kemal Atatürk. Güngüz protestava em silêncio contra a violência policial durante as manifestações.

Milhares de pessoas o imitaram. Como o "homem em pé", ele se tornou um símbolo do movimento de protesto. Em entrevista à DW, o ativista de 34 anos diz que, hoje, o governo turco ainda controla tudo – "a mídia, a Justiça e o aparato policial". E continua aplicando a força para controlar as vozes opositoras.

"Se dez manifestantes saem às ruas, então logo aparecem 60 policiais e um canhão de água. Nós não ganhamos nada com as manifestações. Não há progresso nenhum. A mídia ainda não é livre e independente. Nós nos encontramos na mesma situação, se não pior, que um ano atrás", conta.

Gündüz lembrou o acidente na mina de carvão em Soma, que provocou, recentemente, a morte de mais de 300 mineiros. Para que o aniversário dos protestos faça algum sentido, segundo ele, as pessoas deveriam se dirigir aos túmulos das vítimas em Soma.

A importância da mídia social

No ano passado, a restrita liberdade de imprensa esteve no foco dos protestos de massa. Enquanto a mídia turca, inicialmente, pouco noticiou sobre o movimento no Parque Gezi, em redes sociais registrou-se um verdadeiro estado de emergência.

Milhões de cidadãos furiosos utilizaram a internet para divulgar as suas causas. Em questão de segundos, vídeos e fotos foram divulgados. Imagens de pessoas detidas e jornalistas agredidos correram o mundo – como um vídeo que mostra o jornalista Gökhan Bicici sendo pisoteado por quatro policiais. "A solidariedade nas redes sociais me toca até hoje", diz Bicici.

Erdem Gündüz, conhecido como o 'homem em pé'Foto: DW/Susanne Lenz-Gleißner

Em entrevista à DW, ele conta que a internet se tornou um poderoso instrumento da sociedade. "Essa era a única forma de contornar a censura. Até hoje, o governo vê as redes sociais como um perigo." Por isso, continua o jornalista de 35 anos, o Twitter e o YouTube foram bloqueados.

Desde os protestos do Parque Gezi, surgiram muitos projetos jornalísticos na internet, conta Bicici. Neste ano, ele criou a agência de notícias Dokuz8haber, que agrega diversas redes sociais. "O interesse das pessoas cresce a cada dia", afirma o jornalista.

Esperança na sociedade civil

Mas precisamente devido aos protestos do Parque Gezi o estilo de governo em Ancara tornou-se mais autoritário, critica o cientista político e colunista Cengiz Aktar. Ele afirma que as manifestações de massa foram o primeiro grande desafio para o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan. "Ele não tem medo dos partidos de oposição, mas do poder das ruas e dos protestos", assinala.

Além disso, o cientista político enfatiza que na Turquia, mesmo um ano após os protestos, não existe alternativa política significativa para o partido islâmico conservador no governo, o AKP. Após o êxito de Erdogan nas eleições municipais, de acordo com ele, quem está por fora pode realmente achar que os protestos não levaram a nada.

Protestos geraram nova dinâmica na sociedade turca, diz cientista políticoFoto: Reuters

"Mas as manifestações foram um divisor de águas na mente das pessoas. O medo de expressar livremente a opinião diminuiu agora", opina.

Segundo Bicici, através dos protestos do Parque Gezi, surgiu uma sociedade civil corajosa e dinâmica: "Particularmente o procedimento duro do governo é uma prova disso."

Mas não se deve esquecer, afirma o jornalista, que o poder de um governo tem sempre uma limitação temporal – ao contrário de mudanças sociais sustentáveis, que podem ter um efeito de longo prazo: "A sociedade civil é o futuro da Turquia."

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