Funai inicia expedição para contatar indígenas isolados
7 de março de 2019
Com maior expedição do tipo em mais de 20 anos, órgão pretende proteger grupo que vive isolado na Amazônia, evitando confronto entre Korubo e Matis. Migração fez com que etnias ocupassem territórios muito próximos.
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A Fundação Nacional do Índio (Funai) iniciou nesta quinta-feira (07/03) sua maior expedição dos últimos 20 anos para contatar indígenas isolados e evitar confrontos entre etnias que vivem no vale do Javari, na Amazônia.
A expedição tem como objetivo evitar um conflito iminente entre indígenas das etnias Korubo, em situação de isolamento voluntário, e Mati, que mantêm contato com outros grupos desde a década de 1970.
Ambas as etnias vivem na Terra Indígena Vale do Javari, situada no extremo oeste do estado do Amazonas, na fronteira com o Peru, e uma das maiores terras indígenas delimitadas no país, com mais de 8 milhões de hectares. O território concentra provavelmente o maior número de grupos indígenas isolados do mundo, com dez confirmados e três em estudo.
As tensões entre os povos na região aumentaram nos últimos anos. Segundo o coordenador de Política de Proteção e Localização de Índios Isolados da Funai, Marco Aurélio Milken Tosta, o potencial de conflito se deve ao fato de as duas etnias terem se aproximado fisicamente e ocuparem "os territórios alheios".
Os Matis contataram os Korubo em 2013, inicialmente de maneira amistosa. Um ano depois, eles instalaram roças próximas à área habitada pelos Korubo. A situação se agravou em 2015, quando um grupo de 21 indígenas Korubo rompeu seu isolamento depois de ser abordado pelos Matis enquanto atravessavam o rio Branco, resultando em mortes.
Assim que tomou conhecimento do contato, a Funai afirma ter atuado para minimizar seus impactos, oferecendo assistência médica devido à exposição a doenças contra as quais os Korubo ainda não tinham imunidade.
Depois do incidente, alguns Korubo migraram para outra região e relataram que os que ficaram acreditam erroneamente que seus parentes foram mortos por Matis. Em 2016, os Matis chegaram a invadir uma base da Funai para pedir uma operação do órgão para solucionar o impasse e evitar possíveis confrontos. Segundo o órgão, esse grupo indígena acredita que os Korubo isolados estão planejando uma vingança.
"Já houve conflito e morte. A proximidade de 20 quilômetros entre eles é um cenário catastrófico. Se houver um novo confronto com os Matis, os Korubo responderão de maneira tradicional, com violência", afirmou o indigenista Bruno Pereira, que coordena a expedição.
Os Korubo que deixaram a região, além disso, querem rever seus parentes a fim de "retomar os laços", de acordo com Tosta. Alguns deles participam da expedição e serão responsáveis por fazer o primeiro contato com o grupo isolado.
"Os Korubo não sabem o que aconteceu com o grupo. É uma questão complicada. Os que estão na selva não têm informação, e a reação é muito difícil de dimensionar. Como pode estar a cabeça desses indígenas que não sabem o que aconteceu? Eles provavelmente consideram que eles foram assassinados, essa é a minha leitura", acrescentou Tosta.
Para Pereira, o pior cenário seria se os Korubo iniciassem uma luta com os visitantes. A Funai espera, porém, que eles aceitem os parentes e decidam parar de se aproximar da área habitada pelos Matis.
Planejada durante o governo Michel Temer, a chamada Expedição de Proteção e Monitoramento de Indígenas Isolados Korubo do Rio Coari contará com o apoio da Polícia Federal, da Secretaria de Segurança Pública do estado do Amazonas e do Exército.
A equipe buscará um grupo de ao menos 22 indígenas Korubo que vivem isolados. A última expedição da Funai desse porte foi realizada em 1996 nesta mesma região.
CN/efe/ap/ots
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A diversidade dos povos indígenas na América Latina
Unicef registra 522 grupos étnicos nativos na região. Vítimas frequentes da pobreza, eles sofrem perigos que vão de aculturação e exclusão social à violência. Ao mesmo tempo, são peças-chave na proteção do clima.
Foto: Christopher Pillitz
Amazônia, fonte de diversidade
Segundo o "Atlas Sociolinguístico de Povos Indígenas na América Latina", do Unicef, a Amazônia é a região de maior diversidade de povos nativos, com 316 grupos, dos quais 241 só no Brasil, seguido pela Colômbia (83), México (67) e Peru (43). Outras regiões ricas em diversidade indígena são a Mesoamérica, a Bacia do Orinoco, os Andes e o Chaco. A América Latina como um todo abarca 522 povos.
Foto: DW/T. Fischermann
Pluralidade de povos e línguas
Cinco povos agrupam vários milhões de representantes – Quechua (foto), Nahua, Aymara, Maya yucateco e Ki'che –, outros seis têm entre meio milhão e 1 milhão de membros – Mapuche, Maya q'eqchí, Kaqchikel, Mam, Mixteco e Otomí. Cerca de um quinto dos indígenas perdeu seu idioma nativo nas últimas décadas: de 313 línguas, 76% são faladas por menos de 10 mil pessoas.
Foto: picture-alliance/Robert Hardin
Cada vez mais urbanos
Embora mais de 60% da população indígena do Brasil, Colômbia, Equador, Honduras e Panamá ainda viva em zonas rurais, mais de 40% da de El Salvador, México e Peru reside em áreas urbanas. No Chile (foto) e Venezuela, uma parcela superior a 60% dos nativos vive em cidades, dispondo de 1,5 vez mais acesso a eletricidade e 1,7 vez mais a água corrente do que a das zonas rurais.
Foto: Rosario Carmona
Convivendo com a pobreza
Segundo um informe do Banco Mundial, a pobreza afeta 43% dos lares indígenas – mais do que o dobro dos demais – e 24% vivem em condições de pobreza extrema – 2,7 vezes mais do que os não indígenas. Na Guatemala, em 2011 três de cada quatro habitantes de zonas de pobreza crônica pertenciam a um lar indígena.
Foto: picture-alliance/Demotix
Brecha digital, exclusão social
Apesar da aparente familiaridade deste membro da tribo brasileira dos Kayapó com a tecnologia, ela não tem beneficiado os povos indígenas em geral. Na Bolívia, eles têm quatro vezes menos acesso à internet do que os demais; e no Equador, seis vezes menos. Além disso, o acesso dos nativos a computadores na Bolívia equivale à metade da dos não indígenas.
Foto: AP
Envolvidos na política
Muitos indígenas participam ativamente da vida política de suas comunidades, através de parlamentos locais ou nacionais, estaduais e municipais. Seus líderes ou estão integrados a partidos nacionais ou criaram suas próprias legendas políticas. Assim, existem partidos indígenas muito influentes sobretudo na Bolívia e no Equador, mas também na Venezuela, Colômbia e Nicarágua.
Foto: Reuters/J. L. Plata
Na mira da violência
Por outro lado, representantes de povos indígenas são vítimas de criminalização e hostilidades, sofrendo ameaças, violência e até homicídios por se posicionar contra a instalação de grandes infraestruturas em seu território. Na foto, membro dos Munduruku, no Pará, cujo território é ameaçado pelo extrativismo e por projetos hidrelétricos.
Foto: DW/N. Pontes
Figuras-chave na proteção do clima
O reconhecimento e proteção dos territórios indígenas é uma estratégia eficaz para evitar o desmatamento e combater a mudança climática global. Entre 2000 e 2012, o desflorestamento da Amazônia brasileira nas áreas sob proteção legal foi de 0,6%, contra 7% fora delas.
Foto: Ádon Bicalho/IPAM
Os grandes desconhecidos
Algumas comunidades indígenas seguem se negando a ter contato com o mundo exterior, vivem em áreas isoladas e usam lanças e dardos envenenados para caçar macacos e pássaros. Esse é o caso dos Huaorani, habitantes da selva amazônica do Equador. Nas últimas décadas, muitos deixaram de viver como caçadores para se assentar no Parque Nacional Yasuní.
Foto: AP
Civilização fatal
Infelizmente, alguns dos que foram contatados sofreram consequências drásticas. Os Matsés ou Mayorunas, conhecidos como "povo do jaguar", que vivem à margem do Rio Yaquerana, na fronteira entre o Brasil e o Peru, foram contatados pela primeira vez em 1969. A partir desse encontro, muitos morreram de enfermidades, como tuberculose e hepatite.