Furacão Maria causou mais de 4,6 mil mortes em Porto Rico
29 de maio de 2018
Pesquisadores estimam mortes causadas direita e indiretamente pelo desastre natural. Número calculado em estudo é 72 vezes maior do que a estimativa oficial. Furacão atingiu região em setembro.
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A passagem do furacão Maria no ano passado em Porto Rico deixou mais de 4,6 mil mortos, segundo um estudo divulgado nesta terça-feira (29/05). O número é 72 vezes maior do que o divulgado pelas autoridades.
"Nossos resultados indicam que o número oficial de 64 é uma subavaliação substancial da verdadeira mortalidade causada pelo furacão Maria", diz o estudo elaborado pela Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard, em colaboração com as universidades Carlos Albizu e Ponce, em Porto Rico.
O estudo se baseou em uma pesquisa aleatória de 3.299 famílias em Porto Rico, cujos membros foram perguntados sobre as mortes e as causas desses falecimentos entre a chegada da tempestade e o fim do ano. A partir deste trabalho de campo, os pesquisadores constataram que, nos três meses seguintes ao furacão, a taxa de mortalidade na região aumentou 62% em comparação com os níveis registrados no mesmo período em 2016.
Diante destas estatísticas, os pesquisadores estimam que mais de 4,6 mil mortes são resultados direitos e indiretos do pior desastre natural de Porto Rico dos últimos 90 anos. Essas mortes ocorreram entre o dia 20 de setembro, data em que a tempestade tocou terra na ilha caribenha, e dezembro de 2017. Um terço das vítimas morreu devido a atrasos ou interrupções em tratamentos médicos.
A destruição causada pelo furacão Maria em Porto Rico
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Com rajadas de ventos de quase 250 km/h e fortes chuvas que causaram inundações catastróficas, a passagem do furacão, que oscilou entre as categorias 4 e 5 (a mais elevada) quando atingiu a ilha, deixou um rasto de destruição e dezenas de milhares de pessoas desabrigadas. Muitos habitantes ficaram sem acesso à eletricidade, água, telefone ou transporte.
"A nossa estimativa é coerente com os artigos publicados na imprensa que avaliaram o número de mortes no primeiro mês após o furacão", afirmam os pesquisadores no estudo que foi publicado na revista científica The New England Journal of Medicine (NEJM).
As autoridades locais contabilizaram oficialmente 64 mortes relacionadas com o furacão, mas este número foi rapidamente contestado. Em dezembro passado, o jornal americano The New York Times analisou as certidões de óbito registadas em Porto Rico e constatou que os dados indicavam que mais de 1.000 mortes tinham ocorrido nos 40 dias seguintes à tempestade.
Segundo o estudo, para integrar o balanço oficial do desastre natural, a morte tinha de ser confirmada pelo Instituto de Medicina Legal de Porto Rico, algo que se tornou difícil por causa da destruição das estradas e da escassez de transportes. Assim, as certidões de óbitos registradas nos meses seguintes não mencionavam necessariamente se as mortes estavam relacionadas com o furacão.
Os pesquisadores afirmaram que "esses números servirão como um importante comparativo independente em relação às estatísticas oficiais de mortes registradas, que estão atualmente sendo revisadas, e evidenciam a falta de atenção do governo dos EUA às infraestruturas frágeis de Porto Rico".
Nesse sentido, o estudo destacou que 83% das famílias entrevistadas ficaram sem acesso à energia elétrica durante os últimos três meses do ano passado.
Se esses dados forem confirmados, Maria teria provocado mais mortes que o Katrina, que arrasou Nova Orleans em 2005 e deixou um saldo de mais de 1.880 mortos.
CN/efe/lusa/rtr/afp
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Porto Rico após o furacão Maria
Com ventos de mais de 240 quilômetros por hora, ciclone foi chamado de a "tempestade do século" pelas autoridades. “A vida como a conhecemos mudou”, disse a prefeita da capital San Juan.
Foto: Reuters/C.G. Rawlins
Pilha de destroços
As ruas do centro histórico na capital, San Juan, ficaram repletas de destroços de varandas, telhados, aparelhos de ar condicionado, postes, linhas de transmissão derrubadas e pássaros mortos. Um homem morreu na região de Bayamón após ser atingido por uma tábua que usava para cobrir suas janelas.
Foto: Getty Images/AFP/H. Retamal
Árvores caídas
Poucas árvores permaneceram sem danos após a tempestade, que trouxe ventos de mais de 240 quilômetros por hora. Moradores e motoristas tinham que achar seu caminho em meio a um labirinto de árvores caídas e ruas inundadas que bloqueavam muitas passagens.
Foto: Getty Images/AFP/H. Retamal
Enchentes relâmpago
As ruas foram transformadas em correntes, e vastas partes da ilha ficaram alagadas após inundações repentinas. As autoridades descreveram as enchentes como "catastróficas". Na imagem, moradora do bairro de Puerto Novo, em San Juan, caminha em rua inundada.
Foto: Getty Images/AFP/H. Retamal
No escuro
A ilha toda ficou sem energia elétrica, e a rede de telefonia foi em partes desativada com a passagem do furacão. O chefe da agência do governo federal dos EUA para emergências Fema disse que pode levar dias até que a energia seja restaurada em Porto Rico e nas Ilhas Virgens Americanas.
Foto: Reuters/C.G. Rawlins
Saques e prisões
Após o governo anunciar um toque de recolher para o período da noite, casos isolados de saques foram relatados na ilha e dez suspeitos foram presos. A tempestade deixou telhados de casas e lojas, como o supermercado na foto, danificados.
Foto: Reuters/C.G. Rawlins
Busca por abrigo
O governo disponibilizou 500 abrigos de emergência para 67 mil pessoas. Dezenas de milhares de habitantes da ilha tiveram que buscar proteção. Na imagem, equipes de resgate ajudam uma idosa a ir para um centro de operações de emergência. Pelo menos dez pessoas morreram na região do Caribe.
Foto: Reuters/C.G. Rawlins
Pertences para trás
Moradores de Porto Rico tiveram que deixar seus pertences para trás enquanto buscaram proteção em abrigos. Na imagem, homem busca itens de valor em casa danificada de um parente na área de Guayama.
Foto: Reuters/C.G. Rawlins
“Nossa vida como a conhecemos mudou”
A prefeita de San Juan, Carmen Ulin Cruz, caiu em lágrimas ao falar sobre a devastação provocada pela tempestade. “Nossa vida como a conhecemos mudou”, disse ela a jornalistas em um abrigo, cujo teto tremia enquanto Cruz dava a entrevista.
Foto: Getty Images/AFP/H. Retamal
Danos totais são desconhecidos
O tamanho dos danos ainda é desconhecido, já que partes da ilha permanecem isoladas e sem comunicação. Na baía de San Juan, 80% das casas em uma pequena comunidade de pescadores ficou destruída.
Foto: Reuters/C.G. Rawlins
Recuperação lenta
O governador da ilha, Ricardo Rosselló, chamou o fenômeno de “tempestade mais destruidora do século”. Segundo ele, pode levar meses até que os danos sejam reparados. Porto Rico atravessa no momento uma série de problemas financeiros, com a maior crise de dívida municipal na história dos EUA. O governo e empresas de serviços públicos pediram proteção judicial em meio a disputas com credores.
Foto: Reuters/A. Baez
Pior que Irma
Porto Rico também foi atingida pelo furacão Irma em 6 de setembro. Apesar de 1 milhão de pessoas terem ficado sem energia, não houve mortes ou sérios danos como em ilhas vizinhas. O Maria, porém, além de destruir inúmeras casas, arrancou janelas de hospitais e estações de polícia na ilha norte-americana.
Foto: Getty Images/AFP/H. Retamal
Mudanças climáticas
Muitos cientistas estimam que tempestades severas como Maria, Irma e Harvey estejam ganhando intensidade como consequência das mudanças climáticas, embora sejam consideradas essencialmente fenômenos naturais.