Produzir mais energia do que se consome, de forma limpa, a partir de combustível quase ilimitado: fusão nuclear promete cumprir um sonho que parece ficção científica.
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À medida que se tornam inegáveis os perigos e sequelas da energia atômica convencional, produzida por fissão nuclear e o mundo a abandona gradualmente, a fusão nuclear ganha importância como eventual resposta aos problemas energéticos. Trata-se da forma como o Sol produz energia.
Como o nome revela, na fusão os núcleos não são "partidos", mas sim "esmagados", fundindo-se para formar núcleos maiores. O processo, que só ocorre sob grande pressão e a temperaturas de vários milhões de graus centígrados, libera quantidades imensas de energia.
Ideal de produção de energia
O reator experimental de fusão Wendelstein 7-X, do tipo stellarator, foi construído no Instituto Max Planck de Física do Plasma (IPP) de Greifswald, no norte da Alemanha. Ele faz parte do programa de pesquisa Reator Termonuclear Experimental Internacional (Iter, na sigla em inglês). Iniciado em 1988, o projeto de 4 bilhões de euros envolve cientistas europeus, japoneses, russos e americanos, entre outros.
O Iter promete realizar um dos grandes sonhos da física contemporânea: um reator que produza mais energia do que consome ao produzir plasma de fusão. As vantagens da fusão nuclear como forma de produção energética são eloquentes: o combustível – deutério, ou hidrogênio pesado, e lítio – é praticamente inesgotável e sua disponibilidade ilimitada. Portanto, não causará dependências geográficas, como no caso do petróleo.
Tampouco há emissão de gases causadores do efeito estufa ou a possibilidade de uma reação em cadeia que possa escapar do controle. Em comparação à fissão, a fusão resulta em lixo atômico menos abundante e com um período de meia-vida mais breve. Além disso, a técnica desenvolvida não se presta, em princípio, para a produção de armamentos atômicos.
Sonho caro e a perder de vista
No momento, os reatores de fusão não passam de visões do futuro. Sua pesquisa iniciou-se em já 1960, e a ex-União Soviética foi o primeiro país a provocar uma fusão controlada no Tokamak 3, em 1970. Especialistas calculam que só por volta do ano 2050 a construção comercial desse tipo de reator será viável.
Inaugurado em 2014, o Wendelstein 7-X é um primeiro passo nessa direção. O projeto custou 370 milhões de euros, dos quais 80% financiados pela Alemanha (90% do governo federal, 10% do estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental) e 20% pela União Europeia.
O reator experimental de Greifswald produziu em dezembro de 2015 seu primeiro plasma, de hélio, a 1 milhão de graus centígrados. No fim de novembro do ano seguinte, os pesquisadores divulgaram o completo sucesso do primeiro ciclo de atividade, com a geração de linhas de campo magnético altamente precisas e, pela primeira vez na história, plasmas de hidrogênio durando cerca de seis segundos.
AV/ots
Da energia à bomba nuclear
O Irã afirma que seu programa nuclear é exclusivamente para uso civil. No entanto, há muita semelhança entre a tecnologia nuclear para fins civis e a que tem objetivos militares.
Foto: aeoi.org.ir
Intenções obscuras
Há anos, o Irã amplia seus conhecimentos em tecnologia nuclear. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) está segura de que o país trabalhou em armas nucleares pelo menos até 2010.
Foto: aeoi.org.ir
Querer não é poder
Sem dúvida, a construção de uma arma nuclear com um sistema de transporte confiável impõe consideráveis desafios ao país. De forma simplificada, isso envolve cinco passos:
Foto: picture-alliance/dpa
Primeiro passo: obtenção da matéria-prima
Para fabricar uma bomba atômica, é necessário urânio altamente enriquecido ou plutônio quase puro. O Irã possui urânio suficiente, e o metal é extraído também para a indústria nuclear civil, como na minas de Saghand.
Foto: PD
Segundo passo: enriquecimento
Para seu enriquecimento, o urânio é concentrado em centrífugas de gás especiais, para facilitar a fissão. Para armas nucleares, é necessário um enriquecimento de 80%. Até novembro de 2012, o Irã alcançou oficialmente 20%. Mas após um acordo, a AIEA confirmou, em meados de 2013, que o país deixou de enriquecer urânio acima de 5% de pureza - nível suficiente para produzir energia.
Foto: picture-alliance/dpa
Terceiro passo: a ogiva
Ter urânio altamente enriquecido não basta. Para fabricar uma ogiva nuclear explosiva, os técnicos devem primeiro dar forma ao material puro e conseguir uma reação em cadeia através de um impulso controlado. Não se sabe até que ponto o Irã domina essas técnicas.
Foto: picture-alliance/dpa
Quarto passo: o detonador
A tecnologia para o detonador de uma arma nuclear é semelhante à de uma arma convencional. O Irã domina esse conhecimento. Além disso, cientistas iranianos realizaram extensos cálculos baseados em modelos e experimentos, simulando as propriedades de um detonador. Isso está comprovado por publicações das universidades Shahid Behesti e Amir Kabir.
Foto: AFP/Getty Images
Quinto passo: transporte
O Irã possui um sistema de transporte para armas nucleares. O míssil de médio alcance Shahab 3 é uma variante iraniana do Nodong-1, da Coreia do Norte. Ele alcança uma distância de 2 mil quilômetros e pode assim atingir alvos em Israel, a partir do Irã.
Foto: picture-alliance/dpa
A vontade de construir uma bomba
Sem controle, é difícil distinguir um programa nuclear civil de um militar, pois os recursos técnicos necessários são basicamente os mesmos. Precisa-se de centrífugas tanto na tecnologia nuclear civil quanto na militar. Se o Irã estará apto a fabricar uma bomba atômica e se vai realmente colocar isso em prática, depende decisivamente da vontade de quem está no poder.
Foto: dapd
Sem diálogo com Ahmadinejad
Após o programa nuclear do Irã ser descoberto, em 2002, os EUA e os aliados europeus pressionaram o país a suspender o enriquecimento de urânio. Mas a eleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em 2005, interrompeu qualquer avanço nas negociações. Nos oito anos de seu governo, o número de centrífugas para o enriquecimento de urânio foi ampliado de 100 para 19 mil.
Foto: picture-alliance/dpa
Declínio econômico força Irã a negociar
Somente após a eleição do presidente Hassan Rohani, em agosto de 2013, o processo de negociações voltou a funcionar. O chefe de governo iraniano – na foto com o diretor geral da AIEA, Yukuya Amano – insta a um acordo, porque ele quer a suspensão das sanções econômicas que assolam o país há mais de uma década. As negociações diplomáticas, porém, durariam mais dois anos.
Foto: picture-alliance/dpa
"Novo capítulo"
Em 14 de julho de 2015, o Irã fechou um acordo histórico com as potências do grupo P5+1 (Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha). Enquanto a República Islâmica garante não produzir bomba nuclear, EUA e União Europeia prometem aliviar as sanções que têm afetado as exportações de petróleo e a economia iraniana. UE vê decisão como um "novo capítulo nas relações internacionais".
Foto: Reuters/L. Foeger
Parlamento aprova acordo
O acordo foi aprovado pelo Parlamento do Irã em 13 de outubro de 2015, efetivamente encerrando o debate entre os legisladores do país sobre o tratado e, assim, abrindo caminho para sua implementação formal. Líderes afirmam que as inspeções internacionais precisam ser aprovadas pelo Conselho dos Guardiões da Constituição. Já as sanções devem ser suspensas no final do ano ou até janeiro de 2016.