1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Futebol alemão já tem o seu perdedor do ano

Gerd Wenzel
Gerd Wenzel
29 de dezembro de 2020

As virtudes de Joachim Löw, o técnico que levou a Alemanha ao título mundial de 2014, se transformaram em defeitos. Sua convicções tornaram-se obsessões. E o preço está sendo pago pela seleção alemã, imersa em incerteza.

Em entrevistas coletivas, Löw costumam afirmar que a seleção se encontra no bom caminhoFoto: DFB/REUTERS

Bons tempos aqueles quando Joachim Löw e Hansi Flick traçavam os planos para a seleção alemã no bucólico Campo Bahia, na pequena Vila de Santo André. no município de Santa Cruz Cabrália, à beira mar durante a Copa do Mundo de 2014. Olhando para trás, parece que foi há tanto tempo, um tempo distante já perdido e lembrado apenas por alguns momentos nas rodas nostálgicas dos torcedores que acompanharam de perto aquela memorável jornada.

Seis anos depois, esses dois protagonistas do futebol alemão não poderiam estar mais longe um do outro. Enquanto Hansi Flick alcançava alturas nunca antes imaginadas em apenas 11 meses de trabalho comandando o Bayern, Joachim Löw, seu comandante de jornada no Brasil, assiste a seu próprio declínio. Sob sua direção, a Mannschaft obteve resultados catastróficos, tanto na Copa de 2018 como na Liga das Nações.

Se olharmos então para 2020, a discussão sobre o desempenho da equipe não tem fim. Os otimistas argumentam que, afinal, apenas um jogo foi perdido. Em compensação, os comandados de Löw registraram três vitórias – duas contra a fraca Ucrânia e uma contra a frágil seleção da República Tcheca. Seguiram-se apresentações frustrantes como contra a Suíça (3  x 3) e um 0 x 6 estontante diante da Espanha, a maior derrota da Alemanha desde 1931.

Mas não são apenas os resultados que causam frustrações no torcedor. Joachim Löw dispõe de uma equipe que tem talentos ofensivos do calibre de Timo Werner, Kai Havertz, Leroy Sané, Serge Gnabry, Julio Brandt e Leon Goretzka.  Mesmo assim, costuma escalar o time titular com três zagueiros. Apenas reage ao adversário em vez de impor o seu jogo. A defesa tomou 16 gols em oito jogos.  

As aposentadorias precoces de Boateng, Hummels e Müller continuam sendo um dos temas prediletos dos críticos de Löw. Foi uma decisão no mínimo polêmica especialmente no que se refere a Thomas Müller, considerando especialmente suas impecáveis atuações pelo Bayern na campanha da tríplice coroa.   

A insistência de Löw em afirmar durante toda coletiva de imprensa que a seleção se encontra no bom caminho é constrangedora, pois revela sua alienação da realidade do futebol apresentado pela equipe. Só acredita nessa conversa quem não tem visto os últimos jogos da Alemanha. E o pior: não há melhoria à vista para 2021. A maioria dos torcedores (70%) até teme pelo destino da equipe de Joachim Löw na Eurocopa, a realizar-se no próximo ano.       

Uma pesquisa de opinião feita pela conceituada agência Civey aponta que 52% consideram Löw um bom técnico, mas 35% afirmam o contrário. Se não bastasse isso, apenas 13% acham que a renovação iniciada logo depois do fracasso na Copa de 2018 está no caminho certo, enquanto 71% entendem que as medidas tomadas foram insuficientes ou mesmo equivocadas.

Acrescente-se a esses  dados outra pesquisa, sobre quem o torcedor gostaria de ver no comando técnico da seleção.  O resultado para Löw é devastador. Apenas 5,6% votaram nele. Jürgen Klopp recebeu 45,5% dos votos, e Hansi Flick teve 11,3%.

E por falar em Hansi Flick, o treinador do Bayern acaba de ser eleito a personalidade esportiva do ano pela revista kicker. Tudo deu certo para esse treinador que inicialmente era para ser apenas uma solução provisória. Formatou um time altamente competitivo e venceu cinco títulos. Nada mal para quem nunca tinha exercido o cargo de técnico num clube da primeira divisão.

Enquanto a estrela de Flick sobe no firmamento do futebol internacional, a de Löw parece estar morrendo. Suas virtudes se transformaram em defeitos. Sua convicções tornaram-se obsessões. Predomina a teimosia, a alienação, o distanciamento da realidade, a arrogância. E tudo isso resumido nas suas próprias palavras: "Não dou a mínima para o que os outros dizem. Vou continuar fazendo o meu trabalho”. (Joachim Löw, 2020).       

Pular a seção Mais sobre este assunto
Pular a seção Mais dessa coluna

Mais dessa coluna

Mostrar mais conteúdo
Pular a seção Sobre esta coluna

Sobre esta coluna

Halbzeit

Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Na coluna Halbzeit, ele comenta os desafios, conquistas e novidades do futebol alemão.