Futura fábrica da Tesla divide moradores na Alemanha
Hardy Graupner ca
20 de janeiro de 2020
Quando montadora americana anunciou plano de construir "gigafábrica" nos arredores de Berlim, euforia se espalhou entre políticos alemães e moradores da região. Mas agora é a vez dos céticos entrarem em ação.
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No início deste ano, o CEO da Tesla, Elon Musk, anunciou que construiria a quarta "Gigafactory" ("gigafábrica") da montadora perto de Grünheide, nos arredores de Berlim. A localidade tem pouco menos de 8 mil habitantes. Com suas vastas florestas e numerosos lagos e rios, é para lá que as pessoas se mudam quando querem escapar da agitação da capital alemã.
É óbvio que qualquer plano para transformar a tranquila comunidade num importante centro industrial encontraria resistência por parte de alguns moradores locais. Mas não são mais apenas "alguns".
Atualmente, a ala dos descontentes se tornou maioria, pelo menos são mais vociferantes e obviamente mais fáceis de mobilizar do que os apoiadores do planejado investimento da montadora americana de carros elétricos.
Tesla odeia atrasos
A construção da "gigafábrica" deve começar este ano. Antes que algo novo seja criado, algo antigo precisa desaparecer, ou seja, uma floresta de 300 hectares. Os primeiros veículos elétricos estão planejados para deixar a fábrica em 2021. Esse é um cronograma muito ambicioso, mas este morador local insiste que é viável e vale a pena:
"É preciso considerar o impacto de longo prazo da 'Gigafactory' não apenas regionalmente, mas em geral", disse o residente à DW. "Será bom para o meio ambiente, apesar das árvores que precisam ser cortadas – sim, existem desafios pela frente, mas não tenho dúvidas de que haverá soluções tecnológicas para todos os problemas em questão."
"Acho terrível estarmos vendo uma cultura de 'você não é bem-vindo' ganhar força em Grünheide", afirmou outro ativista pró-Tesla. "Vamos cuidar junto à Tesla para que a produção seja realmente neutra em CO2 e, portanto, prestaremos uma contribuição para enfrentar o problema mais iminente, as mudanças climáticas."
"Sim, muitos moradores estão preocupados com a floresta que tem de dar lugar à 'gigafábrica'", admitiu outro. "Mas o que eles não veem é que muito mais árvores não terão de ser derrubadas, no final, com mais carros elétricos nas estradas e menos carros com motores de combustão consumindo biocombustíveis cultivados em vastas áreas que antes eram ocupadas por florestas."
Grünheide ainda não resolveu os problemas
"O problema é que as autoridades locais continuam nos dizendo que a floresta de pinheiros em questão é de baixa qualidade e não seria grande perda vê-la desaparecer", disse um dos muitos opositores da fábrica da Tesla à DW. "A questão é que eles podem não parecer muito fortes, mas pinheiros são as únicas árvores que criam raízes com profundidade suficiente para aguentar verões extremamente quentes e secos", argumentou o morador.
"Como sempre – nós, alemães, apontamos para o que está acontecendo com as florestas no Brasil, enquanto em casa não hesitamos em deixar uma área florestal intacta ceder lugar para um projeto industrial. Por que as autoridades locais não sugeriram um local mais ao sul do estado de Brandemburgo, onde a mineração de carvão está sendo extinta e vastas extensões de terra estão disponíveis para um projeto como esse", indagou o residente. "As pessoas ali estão procurando desesperadamente por qualquer outro emprego."
Bacia hidrográfica
Para muitos, uma irritação adicional é a falta de informações sobre o impacto da planta da Tesla sobre os depósitos de água subterrânea e água potável da região. Grünheide está localizada no meio de um vasto perímetro sanitário de proteção de poços.
Houve alguns relatos de que a Tesla estaria planejando operar seu próprio poço no complexo de sua "Gigafactory", para conseguir acesso às enormes quantidades de água necessárias no processo de produção. Outras reportagens dizem que esse plano está fora de questão, o que exigiria que a empresa procurasse água ainda mais longe, provavelmente causando problemas no nível das águas subterrâneas.
O problema da água está gerando debates acalorados entre os moradores locais. "Se a Tesla realmente usar seu próprio poço, veremos o nível da água em nossos lagos diminuir drasticamente por aqui", disse outro crítico da fábrica da montadora americana. "Mas as autoridades locais estão obviamente dispostas a tolerar esse fato – é alarmante ver quão pouco uma zona de proteção da água potável vale hoje."
"Muito menos a questão das águas residuais", acrescentou. "A Tesla administrará uma fundição por aqui, além de uma oficina de pintura e, finalmente, uma unidade de produção de baterias – então estamos falando de muitas substâncias perigosas que podem adentrar as águas subterrâneas no caso de um acidente."
Falta de infraestrutura
"Vamos ser sinceros, Grünheide não está preparada para a 'Gigafactory' de várias maneiras; as estradas já estão superlotadas e há pouco espaço para novas áreas habitacionais", disse outro morador.
Sua esposa acrescentou que os habitantes locais não vão lucrar com os 8 mil empregos a serem supostamente criados. "Em primeiro lugar, a grande maioria das pessoas aqui somente vive em Gruenheide, mas trabalha na vizinha Berlim ou em outro lugar, não há muitas oportunidades de emprego por aqui", observou.
"Em segundo lugar, os moradores locais não seriam contratados de qualquer forma pela Tesla, já que aqui não há especialistas na produção de veículos elétricos – os empregados virão de lugares mais distantes na Alemanha e no exterior. Portanto, a conclusão final é que não lucraremos diretamente, mas perderemos nossa comunidade idílica, e isso não é um bom negócio."
Para dirigir na Alemanha é preciso conhecer alguns aspectos que são diferentes no Brasil. Confira dicas para guiar bem e ficar dentro da lei de trânsito no país da Autobahn.
Foto: imago/blickwinkel
Afinal, eu posso dirigir?
A carteira de motorista estrangeira, como a brasileira, vale por até seis meses após a chegada na Alemanha. Depois disso, é preciso tirar uma habilitação alemã (Führerschein). Como brasileiros, temos a vantagem de não precisar, obrigatoriamente, tomar aulas na auto-escola, mas elas são recomendáveis. A carteira internacional também perde a validade depois de seis meses.
Foto: Jürgen Fälchle - Fotolia
Retrovisor, grande amigo
Bicicletas estão por todo lado, menos na Autobahn. Por isso, o motorista sempre tem de conferir os pontos cegos do veículo antes de mudar de faixa, dobrar uma rua ou estacionar. Não se envergonhe de usar todos os espelhos e virar bem o pescoço para conferir se não tem ninguém mesmo vindo atrás.
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Seta verde
Quando não houver sinalização especificando a preferencial, quem vem da direita sempre tem prioridade. Uma peculiaridade é a seta verde (Grüner Pfeil) em alguns semáforos. Quando o sinal está vermelho, ela permite dobrar à direita se o trânsito permitir. Mas, atenção, é obrigatório parar antes de dobrar.
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O caminho para a esquerda
As conversões à esquerda funcionam de forma diferente. Nas vias brasileiras, vamos para o acostamento para cruzar a pista. Na Alemanha, ou existe uma faixa central somente naquele trecho ou o motorista aguarda na própria pista e espera a chance de entrar na pista transversal.
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Faixa de segurança
Pode ser que no Brasil ela não seja levada ao pé da letra, mas na Alemanha a faixa de segurança (Zebrastreifen) é respeitada.
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Regra do zíper
Há mais de 40 anos, foi introduzida no trânsito alemão a regra do zíper (Reißverschlussverfahren). Quando pistas convergem para uma só, os especialistas recomendam ir até o final para só então entrar na nova pista, alternadamente, carro a carro. Quem pensa que deve mudar já bem antes de acabar a pista, se engana. Ele acaba atrapalhando ainda mais o trânsito.
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Limites de velocidade
Engana-se quem pensa que não há restrição de velocidade na Alemanha. Enquanto na Autobahn, caso não haja nada especificado, a velocidade recomendada é 130 km/h (a mínima é de 60 km/h), nos perímetros urbanos, o limite é de 50 km/h e em alguns locais de 30 km/h. Em vias secundárias, de pista simples, a velocidade permitida varia de 70 km/h a 100 km/h.
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Não pare na pista
Nas placas de estacionamento (foto), a seta indica exatamente onde começa a proibição. Há ainda outras, que mostram o final do trecho, o meio da área de estacionamento ou os horários em que ele é permitido. Outro recurso é o disco de estacionamento (Parkscheibe), colocado dentro do carro com o horário de chegada. Ele só pode ser usado onde está especificado por quanto tempo é gratuito estacionar.
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Colete refletor, triângulo e primeiros socorros
Todo carro que circula na Alemanha precisa ter um kit de primeiros socorros, um triângulo de sinalização e ao menos um colete refletor. Extintor de incêndio não é obrigatório. Na época de frio, chuva e neve, pneus de inverno são obrigatórios. E nos locais que ficam perigosos quando a via está coberta por neve, há placas mostrando a obrigatoriedade do uso de correntes de neve nas rodas.
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Cadê o frentista?
Nos postos de abastecimento alemães, não há! O próprio motorista se serve e informa o número da bomba ao caixa. Muitos lava-jatos também não têm atendentes. Outra diferença é que muitos carros são movidos a diesel, cujo preço é mais baixo, mas o imposto é mais alto. Alguns postos também oferecem etanol. E são cada vez mais comuns pontos para abastecer carros elétricos.
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Passagem de sapos
Em épocas específicas do ano, podem ser vistas placas de trânsito para proteger animais, como esta, advertindo que sapos atravessam a faixa.
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Preocupação com o ambiente
Desde 2008, as principais cidades alemãs têm zonas urbanas de atmosfera protegida (Umweltzone), onde não podem transitar carros muito poluentes. Para controlar isso, os veículos precisam ter um selo no para-brisa, nas cores verde, amarelo ou vermelho, de acordo com as emissões de poluentes pelo veículo.
Foto: picture-alliance/dpa/P. Pleul
Sem pedágios
A Alemanha não cobra pedágio para circulação, ao contrário de muitas nações vizinhas. É um dos poucos países onde carros de passeio podem viajar livremente sem pagar. Já para caminhões existe um sistema de pedágio nas autoestradas alemãs.
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O corredor de salvamento
Em caso de acidente ou de uma emergência na Autobahn, os motoristas devem obrigatoriamente criar um corredor para carros de polícia, ambulâncias e bombeiros. Já na auto-escola se aprende que este corredor, que precisa ser respeitado também em engarrafamentos, é aberto entre a faixa bem da esquerda e a seguinte.
Foto: picture-alliance/dpa
Motoristas na contramão
É comum algumas emissoras alemãs de rádio transmitirem informações sobre a situação do trânsito a cada meia hora. Algumas vezes, há advertências chocantes, sobre alguém que está vindo na contramão (Geisterfahrer, ou motorista fantasma). Ele pode ter intenções suicidas ou se enganou ao entrar na autoestrada. Neste caso, como é proibido retornar na Autobahn, ele precisa procurar a próxima saída.
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Não tem psicotécnico
Para fazer uma carteira de motorista na Alemanha, não é preciso fazer o teste dos risquinhos. Mas é necessário ir ao oculista e ainda fazer a prova teórica e a prática. Antes das provas, há um curso obrigatório de um dia sobre primeiros socorros. Para o caso de brasileiros que já tenham carteira de habilitação, o primeiro passo é traduzi-la.
Foto: Bilderbox
Prova em português
Quem mora na Alemanha e pensa em pedir a licença para dirigir, pode escolher o idioma das provas teórica e prática. Entre as opções, estão inglês, espanhol e português. Mas fique atento: é português europeu, de Portugal. Não seja surpreendido por termos como "marcha-atrás" ou "mudança de velocidades".
Foto: DW/Victor Weitz
Carteira eterna
A boa notícia para passa nas provas de direção na Alemanha é que habilitação vale para sempre. A menos que você cometa uma infração grave, que implique a perda da licença para conduzir. Para conter falsificações, fotos muito velhas e evitar que quem perdeu a carteira não a faça em país vizinho, desde 2013 elas têm de ser renovadas a cada 15 anos. As de antes de 2013 devem ser trocadas até 2033.