União Européia
12 de janeiro de 2008O cargo de presidente, esboçado no tratado assinado pelos 27 membros da União Européia no fim de 2007, irá substituir o atual sistema de presidências rotativas do bloco, que mudam a cada seis meses.
Os próximos presidentes da UE ocuparão o posto por um período de dois anos e meio a partir de 2009, caso os países-membros consigam realmente cumprir com suas agendas e ratifiquem individualmente o tratado até o próximo ano.
Aliança Sarkozy-Blair
Tudo indica que o ex-premiê britânico, Tony Blair, tomou as primeiras providências neste sentido, ao voar até Paris, neste sábado (12/01), para se encontrar com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, numa reunião do partido direitista União por um Movimento Popular (UMP).
Mesmo que o enconotro não tenham nenhuma ligação direta com as intenções de Blair de ocupar o cargo, nos bastidores os boatos são de que seu propósito de se tornar presidente da UE tenha sido a verdadeira razão da viagem à França.
"Posso vislumbrar algo acontecendo com o UMP e com o presidente francês, possivelmente manobras táticas para preparar a candidatura de Tony Blair para a presidência da União Européia", afirmou Jean-Marc Ayrault, presidente da bancada socialista no parlamento francês.
Rosto às instituições anônimas da UE
Sarkozy não esconde sua admiração por Blair, tendo sido o primeiro a defender o nome do ex-premiê britânico para ocupar a futura presidência da UE. "Ele é um homem notável. O mais europeu dos britânicos. Seria um sinal de inteligência pensar no nome dele", declarou o presidente francês no ano passado.
Sarkozy não é, diga-se de passagem, o único a pensar no nome de Blair para ocupar o cargo máximo da UE. "Ele é, definitivamente, um homem muito dinâmico, com certo carisma e energia. Não é um mau líder, tendo atingido muita coisa durante a presidência britânica da UE em 2005, como por exemplo o acordo acerca do orçamento do bloco até 2013", comenta um comissário do bloco.
As vozes em defesa de Blair lembram ainda sua proximidade dos EUA, que ajudariam a fortalecer as relações transatlânticas, além de seu perfil político internacional. A idéia é que o posto de presidente da UE dê um rosto às instituições, às vezes muito anônimas, do bloco. Uma função que Blair poderia desempenhar bem, acreditam analistas, devido à sua personalidade pública, conhecida internacionalmente, e sua habilidade diplomática.
Vozes críticas: boa memória
No entanto, a discussão em torno do nome de Blair para o cargo máximo da UE não suscita apenas elogios, mas também críticas. "A exclusão do Reino Unido da união monetária deve-se a ele. Suspeito que Blair tenha sido excluído da lista, seu nome não é uma opção realista para ocupar o cargo. Seria um erro pegar um ex-premiê de um país-membro de peso, uma vez que o balanço entre países grandes e pequenos é uma questão sensível dentro do bloco", observa Andrew Duff, do partido liberal democrata e especialista em questões institucionais.
Para outros analistas, a atitude britânica de "quase separação" em relação aos outros países europeus também conta pontos contra Blair. Além de não ter adotado o euro como moeda, o Reino Unido não faz parte da zona do Acordo de Schengen, que aboliu as fronteiras entre vários países da UE, e fez questão de manter algumas posições de exceção no mesmo tratado que definiu a criação do cargo de presidente do bloco.
Sua proximidade dos EUA, propagada como uma vantagem pelos defensores do seu nome para o posto, é citada por seus opositores como uma das razões pelas quais ele não seria o presidente europeu ideal. Para isso, seus críticos remexem o baú da memória para lembrar que, por ocasião da guerra do Iraque, o então premiê britânico preferiu olhar para o outro lado do Atlântico que para o Canal da Mancha. (nada/sv)