Gülen pede investigação sobre tentativa de golpe na Turquia
23 de setembro de 2016
Acusado por Erdogan de arquitetar plano tirá-lo do poder, teólogo islâmico responsabiliza presidente turco por golpe frustrado e diz que rival está tirando proveito da situação para silenciar opositores.
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O teólogo islâmico Fethullah Gülen pediu que uma investigação internacional sobre as acusações feitas pelo presidente turco Recep Tayyip Erdogan de que ele estaria por trás da tentativa de golpe de Estado na Turquia, em 15 de julho deste ano. A afirmação foi feita numa entrevista divulgada nesta sexta-feira (23/09) pela emissora alemã de televisão ZDF.
Gülen, que vive em exílio autoimposto na Pensilvânia, nos Estados Unidos, desde 1999, ressaltou que não há evidências que o liguem à tentativa de golpe.
"Uma organização internacional deve analisar essas acusações. Se elas estiverem corretas, estou apto a aceitar o que eles querem. Mas eles não provaram nada ou responderam as minhas sugestões. Se provarem que falei pessoalmente ou por telefone com os responsabilizados pela tentativa de golpe, ficarei feliz em arcar com as conseqüências", disse o teólogo.
Erdogan acusa o rival de ser o líder da tentativa frustrada de golpe e de construir durante décadas uma rede de seguidores dentro das forças armas e de órgãos estatais, visando tomar o controle do governo. O presidente exige ainda dos Estados Unidos a extradição de Gülen. Os EUA alegam estar cooperando com Ancara, mas precisam de evidências para autorizar o processo.
Na entrevista, Gülen disse que se Washington aprovar a extradição, isso não será um problema. "Se os EUA disserem sim, então, eu irei. Passarei o resto dos meus dias sendo atormentado [pelo governo turco] e assim posso me libertar de todos os meus pecados e erros e alcançarei Deus como um homem puro", completou.
O teólogo acusou ainda Erdogan de ser o verdadeiro mandante do golpe. O presidente planejou o movimento há alguns anos e esperava somente a oportunidade certa, disse Gülen, acrescentando que o líder turco está usando o movimento frustrado para solidificar o seu poder.
Gülen alegou também que Erdogan está utilizando o golpe frustrado para silenciar seus opositores. A Turquia demitiu ou afastou mais de 100 mil funcionários públicos desde a tentativa de derrubar o presidente.
CN/dpa/rtr/lusa
Hagia Sophia na disputa das religiões
A Basílica de Santa Sofia, ou Hagia Sophia, em Istambul, é objeto de uma disputa. Nacionalistas turcos querem transformar atual museu em mesquita; enquanto o patriarca dos cristãos ortodoxos quer que volte a ser igreja.
Foto: picture-alliance/Marius Becker
Marco arquitetônico
No ano de 532, o imperador romano Justiniano 1º, que residia em Constantinopla, ordenou a construção de uma imponente igreja, "como não existe desde a época de Adão e nunca existirá novamente". Mais de 10 mil operários trabalharam nela. Dentro de apenas 15 anos, a estrutura externa era inaugurada. Durante um milênio a basílica foi o maior templo do cristianismo.
Foto: imago/blickwinkel
Palco de representação estatal
Consta que Justiniano 1º investiu quase 150 toneladas de ouro na construção da Hagia Sophia ("Sagrada Sabedoria" em grego). Mas em breve ela precisou ser reformada: projetada com uma forma plana demais, sua cúpula desabou durante um terremoto. Em breve a basílica passou a ser utilizada como igreja do Estado. Desde meados do século 7º, quase todos os soberanos bizantinos foram coroados nela.
Foto: Getty Images
De igreja a mesquita
O domínio bizantino sobre Constantinopla teve fim em 1453, quando o sultão otomano Mehmet 2º conquistou a cidade e transformou a Hagia Sophia em mesquita. Cruzes cederam lugar à lua crescente, sinos e altar foram destruídos ou desmontados, mosaicos e pinturas murais foram caiados por cima. Com a construção do primeiro minarete, o prédio sacro ganhou aparência muçulmana também por fora.
Foto: public domain
De mesquita a museu
Em 1934, o fundador da República da Turquia, Mustafa Kemal Atatürk (foto), transformou em museu a "Ayasofya", como é denominada em turco, na atual metrópole de Istambul. A secularização acarretou minuciosos trabalhos de restauração. Os antigos mosaicos bizantinos foram revelados, porém cuidou-se também para não destruir os posteriores acréscimos muçulmanos.
Foto: AP
Islã e cristianismo lado a lado
A agitada história da Hagia Sophia se apresenta a cada passo aos visitantes atuais: nesta foto, os nomes "Maomé" (esq.) e "Alá" (dir.) ladeiam Nossa Senhora com Jesus no colo (ao fundo). Notáveis são também as 40 janelas da grande cúpula: além de deixar entrar a luz, elas impedem que rachaduras se expandam, destruindo a estrutura cupular.
Foto: Bulent Kilic/AFP/Getty Images
Ícones bizantinos
O mosaico mais imponente da Basílica de Santa Sofia (como também é conhecida no mundo cristão) é uma imagem do século 14, na parede da galeria sul. Mesmo não estando completamente preservado, os rostos ainda estão bem visíveis: no meio aparece Jesus, como senhor do mundo, Maria está à sua esquerda e João, à direita.
Foto: STR/AFP/Getty Images
Proibido rezar
Hoje em dia é proibido orar na Hagia Sophia. Bento 16 também obedeceu essa determinação durante a visita que fez ao local, em 2006, a qual transcorreu sob forte esquema de segurança, devido aos protestos dos nacionalistas contra a presença do papa. Recentemente a associação nacionalista-conservadora Juventude Anatólia reuniu 15 milhões de assinaturas, para que o museu volte a ser mesquita.
Foto: Mustafa Ozer/AFP/Getty Images
Alto valor simbólico
Não faltam construções sacras muçulmanas nas cercanias da Hagia Sophia. Logo ao lado erguem-se os minaretes da Mesquita do Sultão Ahmed, também conhecida como Mesquita Azul (dir.). Os nacionalistas exigem a transformação da basílica em mesquita: ela simbolizaria a tomada de Constantinopla pelos otomanos, constituindo, portanto, um legado islâmico que precisa ser preservado.
Foto: picture-alliance/Arco
Reivindicações ortodoxas
O patriarca de Constantinopla Bartolomeu 1º também reivindica a Hagia Sophia. Há anos o líder honorífico de todos os cristãos ortodoxos apela para que a basílica seja reaberta à liturgia. "A Hagia Sophia foi construída para ser testemunha da fé cristã", argumenta o bispo ortodoxo.
Foto: picture-alliance/dpa
Destino em aberto
O futuro da Hagia Sophia é incerto. Até agora, somente o partido nacionalista MHP reivindica a transformação do museu em mesquita. Dois requerimentos seus já fracassaram no Parlamento. O governo turco não se manifesta sobre essa questão, aparentemente em reação a protestos internacionais. A Unesco também está preocupada: afinal, desde 1985 a Hagia Sophia é Patrimônio Cultural da Humanidade.