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Günter Grass comemora 85 anos envolvido em polêmicas

16 de outubro de 2012

O Prêmio Nobel de 1999 sempre foi um intelectual capaz de provocar desconforto, alguém que provoca a opinião pública e divide opiniões, um crítico politicamente engajado. E, sobretudo, um grande escritor.

Günter GrassFoto: dapd

Sua vida cheia de altos e baixos, de momentos brilhantes e também de falhas começou no dia 16 de outubro de 1927. Günter Grass nasceu numa família humilde. Seus pais eram proprietários de uma loja de artigos coloniais em Gdansk (Danzig, à época do domínio alemão), a clientela era pobre e muitas vezes compravam fiado, a casa era pequena e a região onde morava era católica.

"Uma infância entre o Espírito Santo e Hitler", escreveu o biógrafo Michael Jürgs. Em 1944, aos 17 anos, Grass viveu o horror da Segunda Guerra Mundial como auxiliar de artilharia antiaérea e depois como membro da Waffen-SS. A passagem por essa tropa de elite nazista ele tornaria pública somente décadas mais tarde, provocando um escândalo.

Günter Grass fala à imprensa em 2009Foto: AP

O começo de uma carreira de sucesso

Em 1952 na jovem Alemanha Ocidental, o também jovem Grass ocupava seu tempo com a arte. Grass estudou escultura e artes gráficas, tocou numa banda de jazz, viajou muito e, em 1956, decidiu passar um tempo em Paris. Na cidade levava uma vida modesta, sem esplendor, com sua primeira esposa – o começo de uma grande carreira literária.

Grass escreveu em Paris seu primeiro romance, O tambor, publicado em 1959. O livro causou furor na conservadora sociedade alemã da época, mas acabou se tornando um sucesso mundial, traduzido para várias línguas e adaptado para o cinema. Exatamente quatro décadas após O tambor, seu criador ganharia o Prêmio Nobel de Literatura por este livro – e também por toda a sua obra.

Criativo, produtivo

Günter Grass escreveu dramas, poemas e principalmente ficção, a lista de suas obras é longa. Entre elas estão os conhecidos romances Meu século, A ratazana, Um campo vasto, Maus presságios e Passo de caranguejo. Seus livros tratam de temas políticos e revoluções sociais, como, por exemplo, o papel dos intelectuais na revolta de 1953 na Alemanha Oriental, as revoltas estudantis de 1968, as campanhas eleitorais para o Parlamento alemão, a Guerra Fria, o naufrágio de um navio de refugiados no Mar Báltico em 1945 e também sobre o futuro.

A reconciliação da Alemanha com a Polônia foi um desejo sempre presente na vida do escritor nascido em Gdansk.

Grass não alcançou, com seus livros posteriores, um entusiasmo semelhante ao despertado pela história de Oskar Matzerath em O tambor. Entretanto, todos eles foram grandes sucessos e também contribuíram para fomentar o debate nos meios literários alemães. Para alguns leitores, porém, os livros de Grass se tornavam demasiado políticos e pouco artísticos.

O então candidato à chanceler federal Gerhard Schröder, Willy Brandt e Günter Grass em 1985Foto: picture-alliance/dpa

Moral e política

Günter Grass é até hoje admirado por sua criatividade e seu multitalento artístico: autor de romances, poeta, escultor, gráfico e, às vezes, ilustrador de seus próprios livros. Ele também se destacou por seu envolvimento na política e durante muitos anos foi uma espécie de "instância moral" na Alemanha.

Desde 1961 ele apoia o Partido Social Democrata (SPD), inicialmente sem se filiar. Em 1969 participou da campanha eleitoral de Willy Brandt, e anos mais tarde filiou-se ao SPD. Todavia, deixou rejeitou sua filiação durante as discussões sobre as mudanças no direito de asilo político.

Grass continuou sendo o que sempre foi: um observador crítico de seu tempo, às vezes ruidoso, um ativista independente de esquerda, que usou sua reputação para protestar contra a perseguição aos curdos, a favor dos direitos humanos, pelas vítimas de trabalhos forçados durante o regime nazista, por autores perseguidos, contra a guerra, a favor guerra – e que, em 2006, teve de admitir que também ele cometeu erros durante a Segunda Guerra Mundial.

Sua autobiografia revelou a filiação do então jovem de 17 anos à Waffen-SS, causando debates públicos exaltados na Alemanha e também em outros países. Sobre a sua integridade moral pairava agora a sombra da conivência e do silêncio. Grass se ofendeu. De repente, justamente ele, que sempre se declarou a favor de um tratamento aberto em relação ao passado nazista da Alemanha, era taxado de hipócrita.

O poema "O que precisa ser dito" ataca a política externa de IsraelFoto: picture-alliance/dpa

Um poema como provocação

O experiente escritor e a opinião pública acabaram se distanciando. Aparentemente, a instância moral que colocava um espelho diante do rosto dos alemães não era mais necessária. E – de repente – um texto de Grass publicado em abril de 2012 com o título O que precisa ser dito foi novamente responsável por um escândalo que ultrapassou as fronteiras da Alemanha. O texto escrito em forma de poema foi uma crítica aberta à política externa de Israel. Nele, Grass faz um alerta sobre um possível ataque nuclear de Israel ao Irã e descreve o país judeu, seu poderio nuclear e sua política de ocupação como um perigo para a paz mundial.

O poema causou indignação, o autor se tornou persona non grata em Israel e também foi acusado de antissemitismo. Ainda assim, Grass continua sendo um exemplo – também para seus colegas escritores mais jovens. Uwe Tellkamp o descreveu como "uma das mais fortes potências narrativas da literatura alemã", Moritz Rinke o chamou de "talvez o mais interessante e versátil dos dinossauros".

Grass acabou de publicar a coleção de poemas Eintagsfliegen. E Grass não seria Grass se não tratasse também de temas políticos no livro. Mas há mais do que isso – aos 85 anos, o escritor também aborda a velhice, as perdas e a morte.

Gourmet e fumante

Quem conhece Günter Grass pessoalmente sabe que ele é uma pessoa bem humorada, engraçada e atenta. O jazz permanece enraizado em seu coração, passados tantos anos. Há três anos, juntamente com seu amigo Günter Baby Sommer, Grass participou de uma aclamada apresentação literária e musical no palco da Feira do Livro de Frankfurt.

Os mais íntimos sabem que Grass adora cozinhar, tem uma queda por bons vinhos tintos e, mesmo aos 85 anos, não consegue abrir mão de seu cachimbo. Ele também gosta de se apresentar como o patriarca no meio de seus inúmeros netos e de sua extensa família. Exatamente como o lema de outro grande alemão: "Aqui eu sou uma pessoa, aqui posso sê-lo". Assim escreveu Goethe no Fausto.

Autora: Cornelia Rabitz (cn)
Revisão: Alexandre Schossler

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