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Resenha

(sv)31 de agosto de 2008

Em tom autobiográfico, novo livro de Günter Grass, "Die Box", é comentado pela mídia alemã, embora levante bem menos polêmica que seu anterior "Descascando a Cebola".

'Die Box' nas livrarias do paísFoto: AP

Depois dos escândalos provocados por ocasião do lançamento de Descascando a Cebola, o novo livro de Günter Grass, Die Box, foi aguardado com ansiedade por mídia e público na Alemanha. A referência do título é à antiga máquina fotográfica fabricada pela alemã Agfa, em formato de "caixa" (box). É com ela, uma "Agfa-Box", que a personagem Marie fotografa o dia-a-dia da família no livro.

Günter Grass: roupa suja lavada em públicoFoto: AP

Marie está aqui no lugar de Maria Rama, fotógrafa que por várias décadas retratou a família Grass com sua antiga máquina fotográfica, uma "Agfa-Box" dos anos 1930. A ela, morta há vários anos, Grass dedica este livro, um volume que dá voz a seus oito filhos (legítimos e trazidos de outro casamento de uma de suas ex-mulheres). Todos aparecem, porém, com seus nomes modificados. Mas tão próximos da realidade que os filhos gêmeos de Grass, Franz e Raoul, aparecem no livro como os também gêmeos Patrick e Georg.

Para boa parte da mídia alemã, que praticamente só teve acesso ao volume quando este chegava também ao público, nas livrarias, Die Box é mais uma tentativa egocêntrica de Grass de garantir, ainda em vida, seu lugar entre os clássicos alemães. E os retratos em sépia de sua memória são vistos como mero artifício para esconder um certo descaso pelo próprio passado. Leia o que os principais jornais e revistas do país escreveram sobre o livro:

Terceira pessoa

"Die Box não é simplesmente a continuação do livro autobiográfico de Grass, Descascando a Cebola, que, há dois anos, causou furor e provocou indignação. O novo livro conta a vida do escritor a partir do momento em que Descascando a Cebola havia parado – ou seja, a partir de 1959, momento de lançamento de O Tambor. E desta vez Grass se esconde, de novo, por trás de uma terceira pessoa". (Frankfurter Allgemeine Zeitung)

Álbum de família

"Agora, muita gente espera que neste livro, anunciado como uma continuação das memórias 'da cebola', se esconda algo escandaloso. Por isso tamanha ansiedade pela publicação. E tamanho o preparo da editora. Nenhum trecho do livro vazou anteriormente, Grass não deu entrevistas, não houve como saber nada antes. Somente no início da última semana é que chegaram os primeiros exemplares às redações dos jornais. E, nesta semana, Die Box chegou às livrarias. Grass, aos 80 anos, oferece aqui um álbum de família literário e ao mesmo tempo realmente íntimo, enquanto tenta, ao mesmo tempo, 'se esconder por trás de uma terceira pessoa'. [...] Ninguém pede de um escritor que ele dê ao público informações sobre sua vida privada. Mas se ele o faz, há de encontrar o tom, a perspectiva e a forma para tal. Da elegância com a qual Max Frisch, por exemplo, fala de sua 'Vida como Homem' no conto Montauk a indiferença desta Box está a milhas de distância". (Der Spiegel)

Orgias de incertezas

"Die Box promove orgias de incertezas, ultrapassando com isso a prosa nebulosa do livro anterior de Grass. A impressão é que Grass precisa elevar à poesia o que havia sido recentemente considerado sua deficiência moral e de memória. Incertezas floreadas do tipo 'não-sei-por-que', 'quem-quer-que-seja' ou 'não-sei-mais-quais' permeiam o texto, fazendo com que um 'ainda-sei-mais-ou-menos' adquira um caráter triunfal diante do obscurecimento tão rápido do passado". (Der Tagesspiegel)

Ilustrações do próprio Grass para o livro: a fotógrafa Maria RamaFoto: picture-alliance/ dpa

Autenticidade aparente

"Num tom aparentemente protocolar e autêntico de gravador, os oito filhos do patriarca tagarelam cada um de uma vez, meio tolos, usando uma linguagem jovem cheia de 'tesão' e 'loucura'. Frases permanecem incompletas, vários deles tiram a palavra da boca do outro ao falarem ao mesmo tempo e com afã. Isso como se o desmazelo da fala coloquial fosse prova de uma autencididade sem maquiagem, que se diferencia de forma pungente da cartilha cantada do sublime. Mas quem dirige sozinho o texto é o vencedor do Prêmio Nobel". (Berliner Zeitung)

Ambição excessiva

"A fraqueza deste livro autobiográfico está exatamente em sua força, ou seja, na construção literária ambiciosa. No início, é difícil entrar na história. Os nomes dos filhos [de Grass] estão modificados, os das mulheres ou de outras pessoas não são mencionados corretamente. As reuniões com os filhos são inventadas, o mesmo a dizer de alguns depoimentos. Quem quiser entender exatamente o que se encontra na Box de família de Grass, e tudo o que nela é aludido, poderá ler a biografia dele publicada há vários anos pelo ex-redator-chefe da revista Stern, Michael Jürgs. A leitura de Die Box talvez se torne, nesse caso, mais relevante". (Die Zeit)

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