1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Günter Grass recebe prêmio Andersen

(rr)6 de abril de 2005

O autor alemão, Nobel de Literatura de 1999, é um grande apreciador da obra do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen. No ano de seu 200º aniversário, Grass foi premiado pelas ilustrações que fez de suas fábulas.

Günter Grass fez mais de 100 litografias para 29 fábulasFoto: dpa

O escritor dinamarquês Hans Christian Andersen nasceu em 2 de abril de 1805 na cidade de Odense. Lá é entregue, anualmente, o prêmio que leva o seu nome. No ano passado, ele foi concedido à própria rainha da Dinamarca. Em 2005, ano que marca o 200º aniversário do poeta nacional dinamarquês, o prêmio foi entregue, pela primeira vez, a um alemão, o escritor Günter Grass, pelas ilustrações que fez de suas fábulas.

É principalmente por elas que Andersen é conhecido. Seus romances, peças teatrais e relatos de viagem são hoje praticamente desconhecidos. Mas o que é que impressionou tanto um ganhador do prêmio Nobel de Literatura como Günter Grass na obra do poeta dinamarquês?

"Imagine que obra de arte. Vou tomar duas fábulas como exemplo: A roupa nova do rei e A princesa e o grão de ervilha. São fábulas muito curtas, de duas páginas e meia datilografadas, nem isso, mas que são tão famosas quanto Rei Lear e Hamlet de Shakespeare, verdadeiras peças de teatro. Em tão pouco espaço, ele criou personagens que são conhecidos no mundo todo", explica Grass.

100 litografias para 29 fábulas

Há quatro anos, o escritor preparou uma litografia para a fábula A princesa e o grão de ervilha. Ela foi tão apreciada, que o encarregaram de preparar uma série de dez litografias em virtude das comemorações do 200º aniversário de Andersen.

Visitante observa litografia de Günter Grass para 'O soldadinho de chumbo' em exposição em LeipzigFoto: dpa


"Eu então me aprofundei cada vez mais na leitura dessas fábulas, também na vida de Andersen. Saí em busca de biografias e foi surgindo uma litografia atrás da outra. No final, eu tinha feito mais de 100 litografias para 29 fábulas. Eu não fiz mais nada por um semestre inteiro. Não escrevi nada. Dediquei-me apenas à obra de Andersen, essa pessoa maravilhosamente louca."

O lado sombrio de Andersen

Günter Grass não tenta suavizar o conteúdo. Ele dá outro sentido aos textos, chamando atenção para traços biográficos na obra de Andersen. Como, por exemplo, ao desenhar o autor ao lado do patinho feio. Tomado por uma ambição editorial, Grass decidiu publicar um volume contendo as fábulas ilustradas, no qual incluiu até mesmo textos pouco conhecidos de Andersen, como A sombra, que escolheu para ser o título da obra.

Selo do Deutsche Post feito especialmente para o 200º aniversário de Hans Christian Andersen

"Esse título mostra o outro lado da obra de Andersen, o lado demoníaco, mórbido. Uma faceta que é normalmente suavizada ou até deixada de lado por ilustradores. Além disso, uma de suas atividades paralelas era justamente fazer ilustrações e a técnica que empregava era a de recortar figuras com a tesoura – aliás uma tesoura grande, a gente pensa que essas coisas são feitas com tesouras pequenas – para criar silhuetas", conta.

Literatura e artes plásticas

Grass conecta literatura e artes plásticas. Elas são feitas, como ele próprio diz, "da mesma tinta". Em seus livros, Grass usa e abusa da estrutura literária das fábulas. Em O Tambor, por exemplo, diversos capítulos começam com "Era uma vez um músico" ou "Era uma vez um vendedor de brinquedos". Para ele, Andersen conseguiu, com suas fábulas, explorar novas possibilidades literárias para a sua época.

Escultura de bronze da 'Pequena Sereia' em CopenhagueFoto: AP

"Estamos acostumados com o fato de animais falarem em fábulas, mas nos textos de Andersen até os objetos falam. Isso é algo que me impressionou muito como escritor", argumenta. Diante de tantas características comuns, é normal que Grass assuma os métodos de Andersen. Suas figuras também lembram silhuetas cortadas com tesoura.

Foto de Hans Christian Andersen de 1869Foto: AP
Mas as semelhanças não são apenas estéticas, como também biográficas. "Essa vida, que, graças a Deus, não me dá sossego, essa vontade de conhecer outros lugares – Andersen também era assim. Também a maneira de ver as coisas antes de passá-las para o papel, a percepção ótica, que se manteve em seus textos e desenhos. São coisas que temos em comum."
Pular a seção Mais sobre este assunto