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G20 pode oferecer trégua na guerra comercial EUA-China

Srinivas Mazumdaru ca
27 de junho de 2019

Presidentes Donald Trump e Xi Jinping vão falar sobre comércio na cúpula no Japão, na tentativa de impedir que os laços entre as duas principais economias do mundo se inclinem para um confronto duradouro.

China G20 l US Präsident Donald Trump and Chinesischer Präsident Xi Jinping
Presidente chinês, Xi Jinping, vai se encontrar com colega de pasta americano, Donald Trump, em Osaka: trégua à vista?Foto: picture-alliance/AP Photo/A. Harnik

Quando os líderes das 20 maiores economias do mundo se reunirem para seu encontro anual na cidade japonesa de Osaka, nestas sexta e sábado (29/06), os olhos do mundo dos negócios estarão voltados para o encontro entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e seu colega de pasta chinês, Xi Jinping.

O comércio continuará dominando a agenda dos dois líderes, enquanto as crescentes tensões e as tarifas retaliatórias levam as relações entre as duas maiores economias do mundo ao ponto mais baixo em décadas.

Trump já determinou um aumento tarifário de 200 bilhões de dólares sobre as importações chinesas e ameaçou impor taxas sobre todas as importações restantes da China – mais de 300 bilhões de dólares. Pequim retaliou aplicando suas próprias tarifas sobre as importações dos EUA.

Será uma reunião "muito importante", disse o secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin. Ele também levantou esperanças de um acordo, observando que um pacto comercial está "cerca de 90%" completo.

Mas em entrevista à emissora Fox Business News, poucas horas antes de partir para a cúpula do G20, Trump alertou sobre um conflito comercial ainda mais profundo, dizendo que as importações restantes da China estão "maduras" para as tarifas. "A economia da China está em baixa – eles querem fazer um acordo", disse Trump.

"O encontro Trump-Xi é uma das últimas chances de evitar grandes prejuízos para as economias dos EUA e da China, e também para outras economias em todo o mundo ", diz Jost Wübbeke, diretor da Sinolytics, uma empresa de consultoria especializada em China com sede em Berlim. "Se não houver acordo, haverá consequências muito negativas para o comércio global."

Mas as chances de os líderes chegarem a um acordo formal em Osaka são escassas, afirmam analistas. Em vez disso, Xi e Trump estão mais propensos a acordar uma trégua tarifária temporária, como fizeram durante a última cúpula em Buenos Aires em dezembro.

"Acho que ninguém sabe ao certo o que vai acontecer, mas a expectativa é que eles possivelmente cheguem a um acordo para continuar conversando. Portanto, uma trégua é mais provável que uma solução substanciosa", explica Yukon Huang, economista e especialista chinês da Fundação Carnegie para a Paz Internacional.

Mesmo que eles anunciem uma trégua, isso não resolve os desafios fundamentais que os dois países enfrentam. "Uma trégua só estenderia o período de incerteza, o que também não é benéfico para a economia", aponta Wübbeke.

"Ajustando comportamentos"

A profunda crise nas relações comerciais e de investimento EUA-China provocou nervosismo entre empresas e investidores em relação às perspectivas de crescimento econômico em todo o mundo. A crescente tensão também colocou em risco o sistema multilateral de comércio baseado em regras.

Yukon afirmou que a disputa "não é realmente sobre comércio". "Na verdade, é sobre transferência de tecnologia, práticas de investimento restritivas e políticas de investimento estrangeiro, e não sobre comércio", explicou.

Há tempos, empresas e investidores ocidentais vêm criticando a China por tornar mais difícil para companhias estrangeiras competir de forma justa em seu vasto mercado.

Os ocidentais dizem enfrentar uma série de questões regulatórias que dificultam a igualdade de condições no mercado chinês e sua capacidade de fazer negócios livremente por lá.

No entanto, Yukon ressaltou que, se o objetivo dos EUA é fazer com que a China introduza reformas de mercado, liberalize suas políticas de investimento e fortaleça os direitos de propriedade intelectual, então estão tentando "ajustar comportamentos".

"[Os EUA] Estão tentando ajustar leis e regulamentos. Leva anos para fazer esse tipo de mudança", explica o especialista da Fundação Carnegie.

Muitos chineses, no entanto, veem as medidas tomadas por Washington como uma tentativa desesperada de vencer a competição econômico-estratégica com a China, enquanto o gigante asiático surge como potência de alta tecnologia e tenta cada vez mais tirar a liderança tecnológica e econômica global dos Estados Unidos.

"O que Donald Trump realmente deseja alcançar, e seus sucessores gostariam de fazer o mesmo, é garantir que os EUA ganhem a competição econômica e tecnológica com a China", afirma Shen Ling, economista da Universidade de Ciência e Tecnologia da China Oriental. "Para esse fim, os EUA continuarão a tentar frear a ascensão da China, por diferentes meios: uma guerra comercial, uma guerra tecnológica ou uma guerra financeira."

A decisão do governo dos EUA de colocar na lista negra a gigante de tecnologia Huawei fortaleceu ainda mais esse sentimento entre os chineses. Essa empresa emergiu como pioneira da nova geração de tecnologia móvel 5G, e Washington vê sua ascensão como um símbolo do esforço da China para dominar tecnologias-chave do futuro.

Para evitar a impressão de que as ações dos EUA são pensadas para impedir a China de se tornar líder global em tecnologia, Wübbeke disse que a abordagem de Trump deve "ser menos agressiva, mas mais consequente". No momento, mais parece que os EUA querem conter a China e limitar sua crescente influência, ressalta. "Isso não lembra uma política econômica inteligente, mas sim um jogo de poder e um conflito hegemônico".

Sem vencedores

As decisões do presidente dos Estados Unidos têm, na verdade, um "impacto negativo significativo" sobre as empresas americanas de alta tecnologia, dizem especialistas, apontando que firmas chinesas como a Huawei compram a maioria dos seus componentes de alta tecnologia dos EUA.

"As decisões de Trump vão provavelmente dizimar o crescimento de lucro dessas empresas americanas de alta tecnologia", apontou Yukon. No longo prazo, isso irá prejudicar mais a economia americana do que a chinesa.

"Observando cuidadosamente as projeções econômicas, particularmente aquelas feitas pelo FMI, fica claro que no curto prazo a China vai enfrentar um impacto mais negativo do que os EUA, mas no longo prazo, são os EUA que perdem mais que a China", afirma o especialista da Fundação Carnegie.

Economistas do mundo todo têm afirmado repetidamente que não há vencedor num conflito comercial e ninguém pode evitar totalmente seu impacto. Instituições, como o FMI, alertaram sobre os danos que uma disputa comercial prolongada poderia causar à economia global.

Os Bancos Centrais da Europa e dos EUA estão cogitando a redução das taxas de juros, observou Yukon. "Eles não estariam falando sobre isso se não estivessem prevendo um impacto negativo em potencial".

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