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G7 debate velha desordem mundial

(sv)1 de outubro de 2004

Com a presença da China à mesa, os sete mais ricos do mundo discutem os efeitos da alta do petróleo. Ministros alemães divergem em relação à proposta britânica de perdoar parte das dívidas dos países em desenvolvimento.

Especulação leva a turbulências nos preços do petróleoFoto: AP

A agenda dos ministros das Finanças dos sete países mais industrializados do mundo (Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Japão, Canadá e EUA) está assombrada por um assunto omnipresente: os altos preços do petróleo. Reunidos em Washington a partir desta sexta-feira (1º/10), os representantes do G7 tentam chegar a um consenso sobre o que pode ser feito para aplainar as turbulências que envolvem o petróleo, trazendo "maior transparência" aos mercados internacionais.

Instabilidade política

Bolsa japonesa: oscilações no preço do petróleoFoto: AP

A meta do encontro anual dos sete poderosos é abaixar a poeira levantada pela especulação em torno do produto e, de quebra, tentar quebrar a rigidez cambial conduzida firmemente pela China – convidada especial da reunião. Em relação ao primeiro propósito, surgem dúvidas se os ministros sentados à mesa em Washington têm mesmo poder suficiente para atenuar os efeitos dos altos preços do petróleo na economia mundial.

"A política só pode acalmar a situação, mas não intervir a curto prazo", acredita Michael Hüther, diretor do Instituto Alemão de Política Econômica. Hüther duvida que a especulação seja mesmo responsável pelas recentes altas do petróleo, acreditando que o cerne do problema esteja na "na alta demanda e na pouca oferta". Além de "fatores fundamentais como as catástrofes naturais e a instabilidade política".

Aparências enganam

Ministro alemão das Finanças, Hans EichelFoto: AP

O propósito dos ministros reunidos em Washington e dos encontros do FMI e do Banco Mundial, que acontecem imediatamente depois, é manter o maior crescimento econômico possível, que, segundo as previsões, terá atingido em 2004 os índices mais altos das últimas três décadas. No entanto, "a superfície lustrosa engana", alerta o diário Frankfurter Allgemeine Zeitung. Desde o encontro do G7 no último ano, em Dubai, o desequilíbrio da economia mundial não se tornou menor, porém maior ainda.

Já neste encontro anterior, as discussões do G7 giraram em torno de uma maior flexibilidade da China no câmbio do iuan, a moeda nacional, em relação ao dólar, o que serviria para estabilizar o orçamento norte-americano. Pequim, por sua vez, continua irredutível, com o iuan firmemente indexado ao dólar.

"A ordem econômica mundial, no momento, tem essencialmente a seguinte dinâmica: os EUA consomem o que é produzido no resto do mundo", analisa a edição alemã do diário Financial Times. O domínio das importações na balança comercial, em princípio, não é problemático. Contudo, a história recente ensina que o caldo, mais cedo ou mais tarde, pode entornar. O que poderia provocar uma evasão de capital dos EUA. Com conseqüências graves para a economia mundial, obviamente.

O caso chinês

Moeda chinesa indexada ao dólarFoto: AP

Quanto à China: Pequim não parece querer ceder às pressões de Washington, valorizando sua moeda e tornando o câmbio mais flexível em relação ao dólar – o que faria com que os produtos norte-americanos se tornassem mais baratos e pudessem, assim, ser exportados com mais facilidade. Afinal, as coisas não são tão simples assim.

"Todos parecem aprisionados na ficção de que o câmbio é um fenômeno monetário e que, apesar das fronteiras abertas em uma economia globalizada, poderia existir algo como a autonomia político-econômica dos Estados. O que não é praticável. Pois poucos fatores têm tantos efeitos sobre o fluxo do comércio internacional quanto as oscilações maciças e reais do câmbio", analisa o diário Frankfurter Rundschau.

Europa e EUA: cenários díspares

Diante disso, os europeus são chamados a tomar uma atitude. "Os desequilíbrios da economia mundial espelham as reações após o estouro da bolha de ações", comenta o Financial Times Deutschland. A postura dos EUA foi a de reduzir os juros, as contribuições tributárias e os gastos públicos. Desencadeando com isso um verdadeiro boom de consumo. Do outro lado do Atlântico, os europeus ainda hesitam.

Em países como a Alemanha, o Estado aperta os cintos e corta benefícios sociais. O empresariado congela salários – e isso na melhor das hipóteses –, provocando no consumo reações exatamente opostas ao que vem ocorrendo nos EUA. Ou seja, o mercado interno encolhe.

Perdão parcial das dívidas

Ministra alemã do Desenvolvimento e Cooperação Econômica, Heidemarie Wieczorek-ZeulFoto: AP

E neste cenário, os países em desenvolvimento têm que se debater com seus novelos de dívidas. No último domingo, o ministro britânico das Finanças, Gordon Brown, anunciou que Londres defende o perdão parcial das dívidas das nações pobres. Um tema, diga-se, não isento de controvérsias. O caso do Iraque – completamente devastado pela guerra – ilustra a questão: enquanto a Alemanha e a França insistem no perdão de apenas 50% dos 120 bilhões de euros de dívidas do país, os EUA defendem pelo menos 80%.

Também a ajuda ao desenvolvimento é um assunto polêmico. Pois os países industrializados ainda continuam longe de atingir a meta estabelecida: destinar 0,7% do PIB às nações pobres. O Reino Unido sugere um financiamento da ajuda ao desenvolvimento através de empréstimos. Uma idéia vista com ceticismo pelo ministro alemão das Finanças, Hans Eichel, pois tal decisão iria acarretar um déficit orçamentário ainda maior para os países ricos.

A posição de Eichel é oposta à da ministra alemã do Desenvolvimento e da Cooperação Econômica, Heidemarie Wieczorek-Zeul. "Em 2002, prometemos fazer com que nossas verbas para a ajuda ao desenvolvimento chegassem aos 0,33% do PIB até 2006. E nos mantemos fiéis a esta meta. Isso terá que acontecer, por um lado, através do nosso orçamento. Além disso, são necessários outros esforços em prol do perdão das dívidas destes países", afirmou a ministra em entrevista ao diário Frankfurter Rundschau. Hoje, a Alemanha destina 0,28% de seu PIB à ajuda ao desenvolvimento. Para atingir os 0,33%, o país teria que despender mais um bilhão de euros para tais fins.

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