Empresa responsável por envelopes da premiação se desculpa por confusão durante anúncio do vencedor de troféu de melhor filme. Presidente americano foi assunto recorrente, motivando piadas e protestos durante cerimônia.
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"Não é piada. 'Moonlight' ganhou como melhor filme"
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Uma gafe histórica e a política do presidente americano, Donald Trump foram os principais destaques da noite de entrega do Oscar, na noite de domingo. Nesta segunda-feira (27/02), a empresa de consultoria PricewaterhouseCoopers, responsável pelos envelopes com os premiados, divulgou uma nota se desculpando pela confusão, em que o prêmio de melhor filme foi anunciado, por engano, como sendo La la land: Cantando estações. O vencedor verdadeiro foi Moonlight: Sob a luz do luar.
"Nós, sinceramente, nos desculpamos a Moonlight, La la land, Warren Beatty, Faye Dunaway e ao público do Oscar pelo erro que foi feito durante o anúncio de melhor filme", afirmou a PricewaterhouseCoopers, em nota publicada no Twitter. "Os apresentadores receberam, erroneamente, os envelopes da categoria errada", acrescentou.
A euforia foi breve para a equipe de La la land, que por alguns segundos era coroada como o grande destaque do Oscar. "Houve um erro. Moonlight, vocês ganharam como melhor filme. Não é uma brincadeira: Moonlight é o vencedor", repetiu o produtor do musical, Jordan Horowitz, diante de uma plateia incrédula.
No clímax da noite, Warren Beatty e Faye Dunaway, os protagonistas veteranos de Bonnie e Clyde, subiram ao palco para anunciar o prêmio de melhor filme. Mas quando Beatty abriu o envelope, deu para ver na expressão do ator que algo não se encaixava. Com dúvida, ele mostrou o envelope a Faye Dunaway, que leu alto e em bom som: "La la land".
As dúvidas de Beatty tinham sentido: o envelope que lhe havia sido entregue era o do prêmio de melhor atriz, recebido pela estrela de La la land, Emma Stone. "Por isso que dei uma olhada tão longa para Faye", disse o ator quase octogenário. "Eu não estava tentando ser divertido, com certeza", completou. Já Dunaway evitou comentar o embaraçoso incidente.
Política de Trump foi "coadjuvante"
Já nos bastidores, Emma Stone disse que não entendia como algo assim podia acontecer, pois ela tinha ficado com o envelope, dado pelo colega Leonardo DiCaprio depois de anunciar seu Oscar. A Academia não chegou a explicar por que havia dois envelopes idênticos.
O cineasta Michael Moore comparou a confusão com eleição de Trump, afirmando no Twitter, em tom de brincadeira, que a candidata democrata Hillary Clinton ganhou a eleição presidencial dos EUA. Nas mídias sociais, internautas fizeram piada, dizendo que o presidente americano deve ter chegado à Casa Branca também através de erro similar.
O nome de Donald Trump foi raramente mencionado durante a cerimônia do Oscar, mas a política do presidente dos EUA atuou como coadjuvante do evento.
Foi o anfitrião da noite Jimmy Kimmel que disparou o primeiro petardo em seu discurso de abertura. "Quero dizer obrigado ao presidente Trump. Lembram-se do ano passado, quando parecia que o Oscar era racista?", ironizou Kimmel.
Repetidas vezes, ele fez piada com o comentário do presidente no Twitter sobre Meryl Streep em janeiro, quando Trump a chamou de "uma das mais superestimadas atrizes de Hollywood."
"Meryl Streep atuou em mais de 50 filmes ao longo de sua carreira sem brilho", disse Kimmel. "Por favor, juntem-se a mim para dar a Meryl Streep uma rodada totalmente imerecida de aplausos."
Manifestações políticas
Vários discursos celebraram o internacionalismo e a ameaça que as políticas de Trump significam. Alessandro Bertolazzi, um dos ganhadores do Oscar de melhor maquiagem pelo filme Esquadrão Suicida, dedicou seu prêmio a "todos os imigrantes".
Asghar Farhadi, o diretor iraniano de O apartamento, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, enviou um discurso explicando que ele não compareceu à cerimônia em protesto pelo decreto do presidente proibindo temporariamente a entrada nos EUA de cidadãos de sete países de maioria muçulmana. "Minha ausência é por respeito às pessoas do meu país e de outras de seis nações, que foram desrespeitadas pela lei desumana que proíbe a entrada de imigrantes nos EUA", afirmou.
O ator mexicano Gael Garcia Bernal, que apresentou o Oscar de melhor filme de animação, citou o plano de Trump para construir um muro entre EUA e México. "Como mexicano, como latino-americano, como trabalhador migrante, como um ser humano, eu sou contra qualquer forma de muro que queira nos separar", disse.
MD/efe/dpa/afp
Presença negra no Oscar 2017
Após o fiasco e os protestos no Oscar do ano anterior, a Academia de Cinema se esforça por representar melhor a diversidade nas novas indicações.
Foto: LYDIE/SIPA
História real
O ano é 1962, a segregação racial impera nos EUA. Com vigor e dignidade, o filme "Estrelas além do tempo" conta a história real de três matemáticas negras que desempenharam um papel fundamental nos programas Apollo e Mercury da NASA – apesar de terem que caminhar 45 minutos até os banheiros "para negros". Octavia Spencer (dir.) foi indicada entre as melhores atrizes coadjuvantes.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Twentieth Century Fox/H. Stone
Capítulos de uma vida
"Moonlight: Sob a luz do luar" foi baseado na peça "In moonlight black boys look blue", a história de um negro gay que cresce em Miami ao lado da mãe viciada em drogas. O filme é intenso, autêntico e poético. Três atores representam o protagonista em diferentes fases da vida. "Moonlight" foi nomeado para oito Oscars, incluindo o de melhor filme.
Foto: A24/DCM
Primeiro negro como melhor diretor?
Assim como o protagonista de "Moonlight", o cineasta Barry Jenkins, de 37 anos, cresceu em Miami. Ele é o primeiro afro-americano a ser indicado tanto melhor diretor quanto pelo melhor roteiro adaptado. Em janeiro de 2017 "Moonlight" venceu na categoria melhor drama do Globo de Ouro, enquanto o também concorrente ao Oscar "La La Land" levou para casa o prêmio de melhor musical ou comédia.
Foto: A24/DCM
Racismo nos anos 50
A vida como lixeiro e pai de três filhos é difícil, e os sonhos de Troy Maxson (Denzel Washington) nunca se tornam realidade. O papel do trabalhador desencantado em "Um limite entre nós" pode render ao ator de 62 anos seu terceiro Oscar. Washington é igualmente produtor, concorrendo, portanto, também na categoria de melhor filme.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Paramount Pictures/D. Lee
Talvez este ano
Viola Davis, de 51 anos, foi indicada pela terceira vez para o Oscar. Este ano são boas as suas chances de levar a estatueta de melhor atriz coadjuvante por "Um limite entre nós". Os críticos têm elogiado sua atuação como Rose Maxson, esposa de Troy, e alguns consideram o desempenho dela até mesmo superior ao de Washington. Davis já conquistou um BAFTA de melhor atriz coadjuvante pelo papel.
Foto: Reuters/T. Melville
"Loving", história de um casal interracial
Mildred e Richard Loving se apaixonaram nos anos 50 no Estado da Virgínia. Porém sua história de amor tinha um empecilho: sob a lei local, um branco e uma negra não podiam se casar. O caso foi parar na Suprema Corte, que tomou em 1967 a decisão histórica de anular as leis que proibiam o casamento interracial.
Foto: picture-alliance/ZUMAPRESS.com/Focus Features
Estrela etíope-irlandesa
Por seu papel como Mildred em "Loving", Ruth Negga foi nomeada para o Oscar de melhor atriz. Um feito admirável para a etíope de 35 anos que passou a maior parte da infância na Irlanda. Ela acredita na importância dessa história biográfica: "Nosso filme não é sobre a América negra, é sobre a América, a América branca e negra. Você sabe, estamos todos juntos nisso."
Buscando suas raízes em "Lion: Uma Jornada para Casa"
Outra história real: aos cinco anos de idade, o pobre indiano Saroo Brierley subiu num trem, adormeceu e acabou indo parar longe de casa. Uma família australiana o adotou. Passaram-se 25 anos até ele retornar à Índia, à busca de sua família biológica, com a ajuda do Google Maps. "Lion: Uma jornada para casa" recebeu seis indicações, incluindo melhor filme.
O documentário "I am not your Negro" se baseia num manuscrito inacabado do autor americano James Baldwin, dedicado aos membros-chave do movimento pelos direitos civis Martin Luther King Jr., Malcolm X e Medgar Evers. "Os brancos têm é que tentar descobrir em seus corações por que era necessário ter um neguinho, para início de conversa", escreveu Baldwin. "Eu não sou um neguinho, eu sou um homem."
Foto: Magnolia Pictures
Do Haiti ao Congo
"Eu não sou seu negro" foi indicado para o Oscar de melhor documentário de longa-metragem. Seu diretor, Raoul Peck nasceu no Haiti, cresceu na República Democrática do Congo e tem lidado com temas explosivos como o genocídio em Ruanda e o assassinato de Patrice Lumumba, além de um drama sobre o jovem Karl Marx.