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Gal, Maria Rita e Daniela brilham em festival de Stuttgart

Felipe Tadeu16 de julho de 2006

O 21º Viva Afro-Brasil trouxe três artistas brasileiras muito distintas entre si, porém tendo em comum o total domínio de cena e belos repertórios

Gal, grande dama da MPB, no Viva Afro-BrasilFoto: DW/Felipe Tadeu

A noite de encerramento da 21ª edição do Festival Viva Afro-Brasil foi uma oportunidade única para os amantes da boa música travarem contato com três das principais intérpretes brasileiras da atualidade. O público que compareceu ao evento não teve o que reclamar em termos musicais: a palheta ia da bossa-nova ao carnaval.

O que se viu no palco montado na Schlossplatz de Stuttgart foram três artistas muito distintas entre si, mas que tinham em comum o total domínio de cena e belos repertórios, ilustrando mais uma vez a extraordinária diversidade da música feita pelos brasileiros.

Cria de Elis e César

O segundo dia do maior festival de MPB da Europa não começou lá muito bem. O grupo de hiphop Da Guedes não conseguiu empolgar a platéia, com sua música insossa e atitude estereotipada, vulgarmente decalcada dos rappers norte-americanos. O lema do Viva Afro-Brasil desse ano era “O Grande Encontro Rio-Bahia”. A banda vem do Rio Grande do Sul, mas não foi só por sua origem que estava tão deslocada na programação.

Maria RitaFoto: DW/Felipe Tadeu

Quando Maria Rita adentrou o palco cantando Pagu, impagável parceria de Rita Lee e Zélia Duncan extraída do primeiro disco da artista, o público parecia respirar aliviado. Quem entendia português se deliciou especialmente com o refrão, que diz “…porque nem toda feiticeira é corcunda/ Nem toda brasileira é bunda/ Meu peito não é de silicone/ Sou mais macho que muito homem”.

A filha de Elis Regina e de César Camargo Mariano foi indiscutivelmente a maior sensação da noite, esbanjando carisma e desenvoltura vocal em canções como Lavadeira do rio, de Lenine e Bráulio Tavares, Menininha do portão, de Paulinho Tapajós e Nonato Buzar e Minha alma e O que sobrou do céu, ambas do grupo O Rappa. De Milton Nascimento, artista revelado por sua mãe, Maria Rita pinçou outros dois ótimos momentos do show, em Encontros e despedidas (Milton e Fernando Brant) e a surpreendente versão de Bituca para La Bamba, que virou A festa.

Maria Rita não cabia em si de alegria por estar cantando na Alemanha. Percebendo a adesão imediata da platéia desde os primeiros minutos da apresentação, ela não poupou seu inglês fluente, decantado nos anos em que viveu nos Estados Unidos. Ao final do cortante blues Não vale a pena, dos irmãos Jean e Paulo Garfunkel, a artista brincou: “Vocês adoram ver uma pessoa se esgoelando de dor, não é?”. E a platéia concordou.

Bahia dos mitos

A terceira atração do sábado foi Gal Costa, provavelmente o nome mais aguardado pela platéia que se dispôs a pagar salgados 55 euros pelo ingresso. Ícone da música popular brasileira, Gal fez valer sua estatura histórica desfilando um arriscado repertório de canções pouco conhecidas pelos espectadores, baseado em seu álbum Hoje, de 2005.

Vestida de preto, sua chegada ao palco foi saudada por um misterioso e providencial vento que sacudiu as faixas do Viva Afro-Brasil que serviam de cenário. A doce bárbara abriu os trabalhos cantando a mesma Fruta gogóia do célebre show Gal A Todo Vapor, de 1972, seguida de músicas de compositores pouco famosos como Junio Barreto, Moisés Santana, Péri e de seu afilhado Moreno, filho de Caetano Veloso.

Houve quem achasse o show de Gal Costa morno demais, mas ninguém abriu mão dos pedidos de bis, afinal quem estava ali era a baiana que foi por muitos anos a maior cantora brasileira. Gal voltou a dar o ar de sua graça interpretando Juventude transviada, de Luiz Melodia, Antonico, o grande samba de Ismael Silva, Feitio de oração, de Noel Rosa e Vadico, ou a emblemática Meu nome é Gal, de autoria de Roberto Carlos e Erasmo.

Nos 80 minutos que durou a apresentação, a cantora ainda incluiu o standard americano As time goes by, dando a pista do que será seu próximo disco: um tributo ao cantor e trompetista do jazz Chet Baker.

Bahia dos ritmos

Daniela MercuryFoto: DW/Felipe Tadeu

Para fechar a noite de verão, nada mais conveniente depois do caráter introspectivo do concerto de Gal que a farra de Daniela Mercury. Diplomada no extasiante carnaval de rua baiano, onde atua anos a fio no alto de seu próprio trio elétrico, Daniela Mercury liberou a folia que andava contida desde a derrota para a França na Copa há duas semanas atrás.

O show dela foi o de maior impacto visual, com os músicos de caras pintadas e as dançarinas trajando vestuário muito criativo feito com bacias de lata, tudo muito condizente com o ímpeto percussivo da musicalidade do povo da Bahia. Daniela foi de Vinícius e Toquinho em Meu pai Oxalá até a tocante balada de Chico César Pensar em você.

Outro ápice do show foi Amor de ninguém, de Jorge Papapa, faixa do álbum Balé Mulato, recém-lançado na Europa. Daniela Mercury já tinha pisado o palco do Schlossplatz na noite anterior, reforçando com Carlinhos Brown, Dudu Nobre e a bateria da Mangueira o concerto da baiana Margareth Menezes.

Decibéis banidos

Viva Afro-Brasil foi transferido de Tübingen a Stuttgart

“Foi o melhor show da primeira noite”, garantiu a cearense Cláudia Linhares, que vive em Mainz. Cláudia tem saudades do tempo em que o Viva Afro-Brasil era em Tübingen, mas também aprovou a nova sede do festival. “Em Tübingen a visibilidade do público era melhor, pois o largo onde aconteciam os shows era inclinado”, comentou a espectadora. Segundo ela, a acústica da primeira noite em Stuttgart deixou a desejar, opinião também defendida por Betina Inocêncio, que chegou a sair durante a apresentação de Carlinhos Brown, tal a má qualidade do som. Um problema que felizmente não voltou a atrapalhar na noite seguinte.

A razão que levou o festival a ser transferido para Stuttgart foi o impedimento legal acionado por um morador da Marktplatz de Tübingen que protestou contra os supostos altos decibéis da festa. Embora a pequena cidade universitária à beira do Rio Neckar tenha um charme e hospitalidade incomparáveis, em Stuttgart o evento tem maiores chances de ressonância.

O festival que sempre teve o mérito de apresentar os melhores nomes da música do Brasil, de João Bosco a Naná Vasconcelos, passando por Alceu Valença, Martinho Da Vila, Hermeto Pascoal e Marisa Monte dentre muitos outros. Espera-se que o Viva Afro-Brasil continue desempenhando seu papel de vitrine da cultura musical brasileira. E que o público prestigie o que é de valor.

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