1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

"Ganhei minha guerra pessoal com a Coreia do Norte"

Sylvia Wassermann (js)7 de maio de 2015

Em 1998, a jovem Jihyun Park decidiu deixar um dos regimes mais fechados do mundo. Acabou vendida como escrava sexual por 700 euros, numa trajetória de abusos, horror e esperança, que só terminaria uma década depois.

Jihyun Park, Flüchtling aus Nordkorea
Foto: DW/Sylvia Wassermann

A história de Jihyun Park começa em meados dos anos 1990, quando uma grande fome atingiu a Coreia do Norte. Até então, conta, ela era uma norte-coreana convicta: "Eu acreditava na propaganda de que o nosso país era o melhor do mundo."

Tudo mudou em 1996, quando ela foi obrigada a ver o tio morrer de fome. O governo proibiu a família de falar sobre o assunto. A publicidade oficial insistia que a Coreia do Norte era um país democrático, onde não faltava comida. Obediência é a obrigação número um dos cidadãos.

Em 1998, prestes a morrer, o pai de Jihyun mandou-a junto com o irmão para fora do país. Ou melhor: tentou. A proposta era que eles fossem para a China, mas os homens que supostamente ajudariam na fuga, na realidade, eram traficantes de seres humanos. Ela foi vendida para um chinês pelo equivalente a 700 euros.

"Oficialmente, eu era sua esposa. Não oficialmente, eu era sua escrava", lembra.

O irmão de Jihyun foi enganado e enviado de volta à Coreia do Norte. O consolo dela foi o nascimento do filho Chol. Mas ambos foram considerados imigrantes econômicos na China, e não havia asilo para norte-coreanos.

"Há premiação para quem entrega imigrantes ilegais. E eu fui delatada por um vizinho", conta.

A então jovem mãe foi mandada de volta à Coreia do Norte em 2004, e teve de deixar o filho na China. No velho país de origem, ela foi condenada como traidora e levada ao campo de trabalhos forçados de Chongjin.

"Tratados pior que animais"

Na prisão, ela diz que as mulheres são obrigadas a trabalhar das 4h30 da manhã até a noite. Elas plantam, lavram a terra e colhem apenas com as mãos, sem sapatos, constantemente temerosas de que possam ser agredidas ou sexualmente abusadas pelos guardas.

"Não éramos tratados como humanos, nem mesmo como animais. Era horrível", afirma.

O que a salvou da prisão foi uma grave lesão na perna, que hoje tem uma enorme cicatriz, ao longo de praticamente todo o membro. Os médicos do campo não acreditavam nem mesmo que ela fosse se recuperar. Por isso, mandaram-na para casa.

Park fugiu para a China novamente, onde reencontrou seu filho. Como a intenção era fugir para a Mongólia, suas forças praticamente se esgotaram na fronteira. Juntos, o filho pequeno e a lesão na perna eram impossíveis de suportar. Só que, de repente, um homem se aproximou.

"Pensei que estava tudo perdido. Mas o homem não era um soldado chinês. Era um fugitivo, como eu. Ele nos ajudou. Foi meu salvador", lembra.

Jihyun Park sorri quando conta essa parte da história. Aquele homem, hoje, é seu marido, e eles têm dois filhos.

"Eu só conhecia o casamento que o traficante me obrigou a ter. Nunca soube que algo como o amor pudesse existir. Hoje, sou uma mulher feliz, amada por meu marido e meus filhos", diz.

Foi, de fato, um final feliz para Jihyun Park. Atualmente, ela vive em Manchester, no Reino Unido, após fazer as pazes com o destino: "Ganhei minha guerra pessoal com a Coreia do Norte."

Pular a seção Mais sobre este assunto
Pular a seção Manchete

Manchete

Pular a seção Outros temas em destaque