Garotas, abram os olhos!
8 de maio de 2003Profissões como vendedora, cabeleireira e enfermeira são as favoritas entre as alemãs. De acordo com estatísticas oficiais, mais de 50% das mulheres estão concentradas em apenas 10 dos 350 cursos profissionalizantes existentes no país, todos na área de prestação de serviços.
O domínio masculino em boa parte do mercado de trabalho não é reflexo apenas de uma antiga tradição cultural, quando a mulher ficava cuidando do lar e os homens tratavam de trazer dinheiro para casa. A atuação ainda tímida das mulheres deve-se, em boa parte, à desinformação, falta de conhecimento e de incentivo.
Como falar é bom, mas agir melhor ainda, foi institucionalizado na Alemanha o Girls' Day, o dia em que as garotas entre 11 e 16 anos vão conhecer de perto empresas, fábricas, centros de pesquisa, universidades e repartições públicas, por exemplo, com o objetivo de ampliar o horizonte e, quem sabe, despertar o interesse por uma profissão que fuja do universo convencional.
Na terceira edição do Girls' Day, que acontece nesta quinta-feira (8/5), mais de 3500 empresas e instituições estão abrindo suas portas para receber cerca de 100 mil colegiais. Este ano, o evento conta até com a participação do chanceler federal Gerhard Schröder, que irá acompanhar um grupo de 30 meninas para um passeio pela chancelaria e explicar seu trabalho, por que não?
Meninos de fora
Como o próprio nome diz, este é o dia das garotas e os rapazes ficam de fora. Assim, elas se sentem mais à vontade para descobrir novas perspectivas sem imaginar que seu colega de classe seja um concorrente em potencial nesta ou naquela profissão. Para incentivar a autoconfiança das meninas, é importante que elas estejam entre si na hora de pegar uma ferramenta ou acompanhar os passos de um trabalho técnico, explicou Marita Alami, uma das responsáveis pela organização do evento que acontece em toda a Alemanha.
"O Girls' Day serve para mostrar às garotas um grande espectro de profissões que à primeira vista podem até parecer desinteressantes", esclareceu a ministra alemã da Educação, Edelgard Bulmahn, lembrando que tal incentivo se faz necessário porque a maioria ainda prefere as profissões clássicas, seja por falta de informações ou mesmo de possibilidade de visitar um local de trabalho realmente diferente.
Mudanças à vista
As profissões técnicas, científicas e da área de informática ainda são dominadas pelos homens, embora estejam ocorrendo mudanças significativas, conforme revelou a ministra alemã da Família e da Mulher, Renate Schmidt. "Sim, existem mudanças. Nas profissões ligadas à comunicação e informática, o número de garotas que freqüentaram um curso profissionalizante entre 1997 e 2002, ou seja, em cinco anos, aumentou consideravelmente."
Em 1997, apenas 5349 optaram por tais áreas, em 2001, o número cresceu para 69.714. Elas assumiram 24% das vagas, bem mais do que as 14% registradas há cinco anos. "A meta estipulada pelo governo alemão é chegar aos 40% até 2006", concluiu Schmidt.
Toque feminino
A participação das mulheres em setores exclusivamente masculinos tem um caráter bem mais abrangente do que a mera emancipação feminina. O presidente da Hewlett-Packard alemã, Heribert Schmitz, apontou as vantagens.
"Os mais de 30 anos de experiência como diretor me dão os subsídios necessários para afirmar que é importantíssimo ter mulheres na equipe de trabalho. Além da enorme criatividade, normalmente aceita pelos colegas, a comunicação e o espírito de equipe melhoram consideravelmente".