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Bom ser diferente

7 de agosto de 2010

Condenados pelos nazistas a campos de concentração, ameaçados de punição pela lei até o final da década de 1960, os homossexuais têm hoje aceitação incomparavelmente mais fácil na Alemanha. Mas há quem note retrocesso.

Colônia recebeu 8° Gay GamesFoto: DW/Nelioubin

Com o encerramento dos Gay Games 2010 em Colônia, neste sábado (07/08), confirmou-se a tendência crescente na Alemanha de homossexuais de ambos os sexos estarem integrados na chamada "normalidade" quotidiana.

Confinados pelos nazistas a campos de concentração no passado, até o final da década de 1960, os homossexuais ainda eram ameaçados de punição pela lei na Alemanha. Porém hoje boa parte dos gays e lésbicas alemães pode seguir sem temor suas tendências e seu estilo de vida.

Essa atmosfera liberal em relação à homossexualidade no país se deve em grande parte à atuação de intelectuais, artistas e ativistas, mas também de políticos como o prefeito de Berlim, Klaus Wowereit, que não faz nenhum esforço para disfarçar do olhar público sua opção sexual: antes pelo contrário.

Festa de abertura dos Gay GamesFoto: DW/Nelioubin

Um passo corajoso, pois justamente nos meios políticos a homossexualidade continua sendo considerada um defeito, oferecendo aos adversários um flanco para o ataque. Já no mundo da arte e dos espetáculos, há muito que os gays não precisam mais se esconder: afinal de contas, eles são considerados especialmente criativos e "loucos".

Mas isso não passa de mais um clichê, ainda que positivo. Na realidade, à parte o fato de amarem pessoas do mesmo sexo, a maioria dos gays e lésbicas prefere levar uma vida pouco espetacular, antes "normal". Para tal, contribuiu a lei alemã que, a partir de 1º de agosto de 2001, conferiu aos casais homossexuais equiparação parcial do ponto de vista conjugal, permitindo-lhes selar seu relacionamento no registro civil.

Não perder campo

Rudolf Brazda, sobrevivente do Holocausto, diante do memorial às vítimas homossexuais do nazismo, em BerlimFoto: AP

Porém liberdade e aceitação precisam ser conquistadas a cada dia, isso os homossexuais sabem melhor do que ninguém. Em diversos setores, como a Igreja, a polícia, as Forças Armadas e em numerosas profissões, eles continuam sendo maciçamente discriminados.

Os gays e lésbicas do século 21 tornaram-se mais politizados. O mais tardar desde o debate em torno da aids, em meados dos anos 80, quando certos políticos propuseram que eles fossem internados em campos de quarentena. Parte da comunidade mantém-se alerta, e se manifesta imediatamente quando percebe qualquer sinal de agitação discriminatória na política.

"Em parte, também se nota um retrocesso", afirma a ativista lésbica Annette Wachter, que trabalha como conselheira econômica em Colônia. Em sua opinião, os homossexuais ainda não são plenamente aceitos. "Por isso precisamos sempre mostrar presença, apresentar nossas exigências para que não voltem a nos esquecer, nos reprimir e nos estereotipar."

"Vila Diferente"

Como a discriminação ainda é bastante difundida nas zonas rurais, muitos procuram cidades maiores, como Berlim, Frankfurt ou Colônia. Esta última desenvolveu-se, nos últimos anos, em capital secreta da vida cultural gay na Alemanha. O anonimato da cidade, aliado ao relativo laissez-faire dos colonianos diante daqueles que pensam e sentem de forma diferente, tornou-se também um importante fator econômico para a cidade.

Villa Anders, em ColôniaFoto: DW/Weitz

Por isso, os responsáveis pela administração de Colônia têm enorme interesse em festas de grande porte, como o Dia do Orgulho Gay (Christopher Street Day – CSD) ou os recentemente encerrados Gay Games. O prefeito Jürgen Roters expressou essa ambição durante a abertura do torneio esportivo: "Colônia vai novamente pôr à prova sua reputação de metrópole aberta ao mundo, simpática e receptiva às inovações".

Específica da cidade renana é também a Villa Anders ("Vila Diferente"). Nesse projeto, iniciado pela sociedade de construção de edifícios residenciais GAG e por associações de homossexuais, moram, lado a lado, gays, lésbicas e heterossexuais, longe de qualquer sugestão de gueto.

"Pois parte das residências fica disponível para gente que não é gay, mas que quer morar na Villa Anders. Tanto faz se são jovens, velhos, pobres, ricos, solteiros, casais, famílias", descreve Elmar Lieser, da GAG. E sublinha: o importante é "que as pessoas queiram conviver e que tenham respeito pela individualidade do outro".

Autor: Peter Kolakowski / Augusto Valente
Revisão: Carlos Albuquerque

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