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Gaza enterra mortos em meio a temores de mais violência

15 de maio de 2018

Palestinos lidam com consequências de protestos contra embaixada dos EUA em Jerusalém, que resultaram no dia mais violento na região desde a guerra com Israel em 2014. Exército israelense defende repressão.

Familiares lamentam a morte de jovem palestino nos protestos contra a abertura da embaixada dos EUA em Jerusalém
Familiares lamentam a morte de jovem palestino nos protestos contra a abertura da embaixada dos EUA em JerusalémFoto: picture-alliance/AA/A. Amra

Após a violenta repressão das forças israelenses a protestos contra a abertura da embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém, que deixou 60 mortos, a Faixa de Gaza é palco de dezenas de enterros nesta terça-feira (15/05).

Pela manhã, tropas israelenses tomaram suas posições em meio a temores de um novo dia de conflitos na fronteira com o território palestino, que lembra neste dia a Nakba, ou "catástrofe", em referência aos acontecimentos que se seguiram à fundação de Israel, em 1948, e às centenas de milhares de palestinos que perderam seus lares. 

Leia também: Nakba, a catástrofe do êxodo palestino

Esta segunda-feira se tornou o dia mais sangrento na região desde a guerra contra Israel em 2014. Foi ainda o ápice de seis semanas de manifestações da chamada "a grande marcha de retorno", que pede o acesso de palestinos a terras que eram sua propriedade antes de 1948 e atualmente estão em território israelense.

O Ministério da Saúde de Gaza afirma que entre os mortos nesta segunda-feira estão sete menores de idade, incluindo um bebê de oito meses, morto por inalação de gás lacrimogêneo.

O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, convocou três dias de luto oficial e uma greve geral em resposta à violência.

Sobrecarga nos hospitais

A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou que o grande número de manifestantes feridos durante os conflitos na fronteira gerou uma sobrecarga no sistema de saúde de Gaza.

Citando dados do Ministério da Saúde local e de agências de assistência médica, a OMS afirma que 2.771 pessoas ficaram feridas nesta segunda-feira. Destes, 1.360 sofreram ferimentos de armas de fogo, 400 por estilhaços e 980 por inalação de gás.

Em meio a protestos, EUA abrem embaixada em Jerusalém

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Cerca de 1,8 mil feridos buscaram ajuda hospitalar, sobrecarregando os já superlotados hospitais da região, que sofrem com a escassez de remédios e cortes no fornecimento de energia.

O Exército israelense defendeu suas ações, afirmando que seus soldados apenas seguiram "procedimentos operacionais padrão" com a intenção de evitar que os palestinos rompessem as barreiras de fronteira.

Em outras partes do território palestino, aviões israelenses bombardearam 11 alvos do grupo islâmico Hamas, que controla a Faixa de Gaza, enquanto tanques atacavam outras duas posições da organização.

"As Forças de Defesa de Israel (IDF) continuarão a operar com determinação para evitar ataques terroristas em massa, que vêm sendo amplamente orquestrados pela organização terrorista Hamas", afirmou o Exército de Israel em nota.

Manifestantes palestinos em Gaza em meio a gás lacrimogêneo lançado pelo Exército de IsraelFoto: Reuters/I. Abu Mustafa

Hamas culpa Trump pelas mortes

O Hamas atribuiu a culpa pelas dezenas de mortes de palestinos nesta segunda-feira ao presidente americano, Donald Trump, que determinou a transferência da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém. A cidade é reivindicada por tanto por israelenses quanto palestinos como a capital de seus Estados.

A mudança da sede diplomática significa um reconhecimento dos EUA dos direitos de Israel sobre a Cidade Santa, embora seu status internacional nunca tenha sido definitivamente resolvido. O anúncio da transferência da embaixada, em dezembro passado, gerou condenações em todo o mundo.

Autoridades internacionais acusaram Israel de abusar da força contra os manifestantes, resultando no grande número de mortos. O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta terça-feira para discutir a situação em Gaza.

Os EUA, porém, já teriam bloqueado uma declaração conjunta dos países que compõem o órgão pedindo uma investigação independente sobre os atos de violência, disse um diplomata à agência de notícias alemã dpa.

Crise humanitária

No dia da Nakba, os palestinos lamentam as centenas de milhares de pessoas que tiveram de fugir ou foram expulsas de suas terras durante a violência em torno da criação de Israel, que entrou em guerra com seus vizinhos árabes em 1948.

Autoridades palestinas de saúde dizem que, desde o início da "grande marcha" na região no dia 30 de março, em antecipação à Nakba, 104 cidadãos de Gaza foram mortos. Nenhuma morte foi registrada entre israelenses.

Mais de 2 milhões de pessoas se acumulam na estreita Faixa de Gaza, bloqueadas de um lado pelo Egito e, do outro, por Israel. A região atravessa uma grave crise humanitária.

RC/ap/rtr/dpa/afp

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