Genealogia na Alemanha é como procurar agulha no palheiro
Conhecer os pais, avós e ancestrais muitas vezes se transforma numa procura da própria identidade. Sendo o Brasil um país que recebeu imigrantes de tantos países, nada mais natural que a curiosidade de saber alguma coisa sobre a origem da família ou do sobrenome.
No caso dos descendentes de alemães das primeiras colônias no Brasil, como São Leopoldo (RS) ou São Pedro de Alcântara (SC), ou mesmo Domingos Martins (ES), em que se manteve uma forte influência alemã, isso não é tão difícil e não faltam historiadores e publicações locais para ajudar na reconstrução do passado.
A variedade de fontes
Mas para os que se mudaram ou se instalaram em grandes cidades, a busca não é tão fácil. Principalmente quando não se sabe o nome exato do imigrante, do navio, ou a data da chegada, dados estes que são, em parte, necessários para garantir êxito na consulta de fontes na Alemanha.
Para complicar as coisas, as informações sobre os imigrantes que deixaram o país nos séculos 18 e 19 rumo aos EUA, América do Sul ou Ásia não estão centralizadas: estão dispersas em mais de 2700 bibliotecas e 3000 arquivos na Alemanha. Sem falar em outros países, pois muitos imigrantes alemães foram recrutados no Leste Europeu, na Pomerânia, por exemplo, hoje pertencente à Polônia.
Bremen e Bremerhaven
Mais de sete milhões de pessoas deixaram a Alemanha através de Bremen e Bremerhaven nos séculos 19 e 20. No início da onda migratória, essas duas cidades portuárias chegaram a ser mais importantes do que Hamburgo, de onde saíram cinco milhões de pessoas.
Bremen tinha uma boa fama junto aos imigrantes pelas leis que datam de 1832 (!), obrigando as companhias de navegação a garantir espaço e provisões suficientes nos navios. E foi a primeira cidade portuária a introduzir a obrigatoriedade de listas de passageiros dos barcos, uma excelente fonte de pesquisa.
No entanto, poucas se salvaram, pois os arquivos da cidade têm uma história tumultuada: em 1875, seus funcionários decidiram destruir todas as listas de passageiros, com exceção das dos três últimos anos, por falta de lugar. E assim sucessivamente até 1908. Já as listas que a polícia e um escritório da Câmara de Comércio mantinham foram destruídas durante um bombardeio na Segunda Guerra.
Como pesquisar nos bancos de dados
No arquivo da Câmara do Comércio existem hoje 2953 listas de passageiros que embarcaram em navios em Bremen, de 1920 a 1939, com destino principalmente aos Estados Unidos e Canadá, mas também à América do Sul. Em 1942, essas listas e outros documentos estiveram guardados numa salina. Após a guerra, foram levadas pelos soviéticos a Moscou, sendo devolvidas a Bremen somente em 1987 e 1990.
As listas foram digitalizadas, em sua maior parte, formando um banco de dados. Em 1999, foi criada a sociedade Die Maus para atender o público e auxiliar interessados. Somente estão plenamente disponíveis os dados de 1920 a 1929, podendo-se consultar via internet (veja link abaixo).
As listas de 1930 e 1931 estão sendo digitalizadas e só estão parcialmente disponíveis. O banco de dados inclui 433.876 passageiros (maio de 2004). Consultas por escrito podem ser dirigidas a kwesling@nwn.de. Mas, tratando-se de passageiros dos anos ainda não processados, só se aceitam consultas de pessoas que souberem o nome do navio e a data de partida do porto alemão.
Mais sobre os EUA do que a América do Sul
Especialmente sobre o Brasil, o Arquivo Estatal de Bremen possui dados sobre os imigrantes que partiram entre 1826 e 1828, sendo estes dos dados mais antigos disponíveis em fontes alemãs.
Já a vizinha Bremerhaven possui o maior banco de dados sobre emigrantes alemães, o DAD (Deutsche Auswanderer Datenbank), incluindo os que deixaram o país por Bremen/Bremerhaven, Hamburgo e Cuxhaven. Parcialmente, o banco de dados também abrange os imigrantes que embarcaram em Boulogne, Cherbourg, Le Havre e Southampton e outros, uma vez que os navios recolhiam pessoas e faziam escala em vários portos antes de cruzar o Atlântico.
Quando o projeto do DAD estiver concluído, abarcará 10 milhões de emigrantes, de 1820 a 1939. No entanto, ele se concentrou mais nos que foram para os Estados Unidos.
Hamburgo oferece excelentes serviços
Outro projeto semelhante é o link to your roots, do Arquivo Estatal de Hamburgo, que já disponibilizou na rede uma série de informações, mas também principalmente sobre a emigração para os EUA. E isso por um motivo muito simples: as autoridades norte-americanas de Washington e Nova York arquivaram cuidadosamente todas as listas de passageiros e formulários de imigração, muitos das quais chegavam a conter até 14 dados da pessoa, inclusive o local de origem e a última cidade em que morou.
Quem consulta o site – com versão também em espanhol – e consegue encontrar o nome do seu ancestral na rede, pode solicitar mais informações, pelas quais o arquivo cobra uma taxa (o mínimo é de 20 euros, para informações sobre até três pessoas da mesma família).
Já estão digitalizadas as listas de passageiros de 1890 a 1905. Pesquisas referentes ao período entre 1850 e 1934, cujos dados ainda não foram processados, podem ser solicitadas por escrito (info@linktoyourrouts.com ou Link to your Roots, Besenbinderhof, 37 - 200097 Hamburg). O arquivo oferece também, sob pagamento, cópias da lista de passageiros, sob a forma de certificado, e mapas históricos sobre a imigração.
Mais arquivos
Há muitos dados espalhados pela Alemanha, pelo que destacamos apenas mais duas fontes de pesquisa. Os arquivos estatais da Baixa Saxônia também mantêm uma página na rede, que permite a busca de nomes nos documentos arquivados em Hanôver, a capital do Estado, Osnabrück e Wolfenbüttel.
O Arquivo Estatal Central de Stuttgart (Konrad-Adenauer-Strasse 4, 70173 Stuttgart) está de posse da documentação sobre emigração de Hans Glatzle, com dados de 50 mil pessoas de Baden-Württemberg, mas os dados não estão disponíveis em seu site.
À parte dos arquivos, existem inúmeras associações e iniciativas privadas ligadas à genealogia, das quais citamos apenas, a título de exemplo, a Sociedade de Genealogia e Pesquisa Familiar da Vestfália. Muitos descendentes de alemães no Brasil mantêm páginas na rede com a história de suas famílias, como é o caso dos Engler, Hartum, Wiechers e Richartz, entre muitos outros.
Texto originalmente publicado em 2004