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General diz que Kremlin quer controlar todo o sul da Ucrânia

22 de abril de 2022

Alto comandante russo indica que objetivo do regime de Putin vai muito além do controle do Donbass e sinaliza que Moscou quer privar que a Ucrânia tenha acesso ao Mar Negro. Kiev classifica plano como "imperialismo".

Putin, Valery Gerasimov e Sergei Shoigu
Putin ao lado de Valery Gerasimov, chefe do Estado-Maior russo, e Sergei Shoigu, ministro da DefesaFoto: AFP/Getty Images

A Rússia quer ocupar todo o sul da Ucrânia, e não apenas o leste, não apenas para estabelecer um corredor terrestre saindo do Donbass até a península da Crimeia, mas também para criar um ponto de acesso à região separatista da Transnístria, na Moldávia, afirmou um general russo de alto escalão.

Tal ambição, se confirmada, sugere que os russos querem negar aos ucranianos acesso ao Mar Negro e tomar cidades como Odessa e Mykolaiv, no sudoeste, que permanecem sob controle da Ucrânia.

Os planos foram mencionados nesta sexta-feira (22/04) pelo general major Rustam Minnekayev, comandante do Distrito Militar Central de Moscou.

O líder militar, de acordo com agências russas de notícias, afirmou que a conquista do sul permitiria o estabelecimento de um corredor terrestre russo até a península da Crimeia, além do controle de instalações vitais para a economia ucraniana, como portos do Mar Negro que servem paras as entregas dos produtos agrícolas e metalúrgicos.

Minnekayev também afirmou, durante uma reunião com representantes da indústria bélica russa, que o controle das regiões sul da Ucrânia daria ao exército russo acesso à Transnístria. "Onde também são constatados os fatos de discriminação contra os residentes de fala russa", disse o militar.

Tiraspol, a capital da região separatista moldava da Transnístria. Próximo alvo de Putin?Foto: Goran Stanzl/Pixsell/imago images

A Transnístria faz oficialmente parte da Moldávia, uma ex-república soviética, e desde meados dos anos 1990 conta com presença de pelo menos 1.500 tropas russas, que apoiam um governo separatista local – numa situação similar à das regiões russófonas da Geórgia. "Aparentemente, estamos agora em guerra com o mundo inteiro", disse Minnekayev.

As agências russas não mencionaram quaisquer evidências ou detalhes dados por Minnekayev sobre a suposta "opressão" sofrida pela minoria russa da Moldávia. Tais alegações vagas costumam ser instrumentalizadas pelo Kremlin para justificar ofensivas militares contra países vizinhos.

Em sua ofensiva de propaganda que precedeu a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, o presidente Vladimir Putin fez afirmações idênticas sobre uma suposta perseguição de falantes de russo em território ucraniano. Em 2008, seu antecessor Dmitry Medvedev ordenou uma ofensiva contra a Geórgia usando alegações semelhantes.

Mudanças de estratégia?

Os comentários do general Minnekayev contradizem diretamente as alegações anteriores de Putin de que a Rússia não planejava ocupar cidades ucranianas permanentemente e sugere que o Kremlin pode estar mudando a estratégia após fracassar no objetivo de tomar Kiev e forçar uma "mudança de regime" na Ucrânia, instalando um governo colaboracionista em todo o país.

Até hoje, Putin e o ministro da Defesa do país, Serguei Shoigu, tinham no máximo admitido que o objetivo "principal" da chamada "operação militar especial" russa era a "libertação completa do Donbass", no leste, sem mencionar o sul.

A campanha da Rússia no sul da Ucrânia tem sido mais bem-sucedida do que suas tentativas de tomar Kiev, no norte, embora Moscou também tenha enfrentado forte resistência das tropas ucranianas na parte oriental do país. A Rússia já ocupou a cidade de Kerson e afirmou que assumiu o controle quase total de Mariupol.

A jornalista russo-americana Julia Ioffe, uma especialista no regime de Putin, afirmou, diante das falas do general, que também ouviu de outras fontes que a Rússia planeja transformar a Ucrânia em "uma pequena nação sem litoral".

Não está claro se os comentários do general expressaram uma visão pessoal ou revelaram de fato planos formais da Rússia para a região. Ainda assim, as falas foram reproduzidas sem censura por agências estatais controladas pelo Kremlin.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, foi questionado por jornalistas se as falas do general refletem objetivos concretos da Rússia, mas ele se recusou a comentar.

"Imperialismo" russo

O Ministério da Defesa da Ucrânia denunciou os comentários do general Minnekayev como um exemplo de "imperialismo" russo.

Em um comunicado postado no Twitter, autoridades ucranianas disseram que a Rússia "reconheceu que o objetivo da 'segunda fase' da guerra não é a vitória sobre os 'míticos nazistas', mas simplesmente a ocupação do leste e do sul da Ucrânia". "Eles pararam de esconder", completa a mensagem.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, também acusou a Rússia de planeja realizar uma série de referendos de fachada com o objetivo de apoiar a "independência" de regiões ucranianas ocupadas e assim criar uma série de estados separatistas pró-Rússia – assim como ocorreu na Crimeia em 2014.

Zelenski advertiu aos ucranianos em áreas ocupadas para não fornecerem informações pessoais às forças russas. Segundo o presidente, a Rússia estaria elaborando planos prévios de "falsificar referendos em sua terra, se uma ordem vier de Moscou para encenar tal espetáculo".

jps/bl (AFP, EFE, Reuters, ots)