Nascidos a partir de meados dos anos 90, muitos eram jovens demais para compreender o racismo crônico em seu país. Morte do afro-americano George Floyd inspira agora a "geração Z" a ir às ruas.
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Na camiseta de Westen está estampado "Black Lives Matter" (Vidas negras importam); em sua máscara protetora, "I can't breathe" (Não consigo respirar). Ele foi com o pai participar dos protestos antirracismo nas proximidades da Casa Branca.
Há dias, milhares se reúnem ali para se manifestar contra a violência policial e recordar o afro-americano morto em Minneapolis por um policial branco. "Eu estou aqui para representar George Floyd, meu país e a minha cultura", afirma Westen: o que aconteceu com Floyd "não foi legal".
O estudante de 12 anos é um dos mais jovens entre os manifestantes no local. Porém grande parte dos que ali exigem uma mudança, em alto e bom som, é da "geração Z", nascida em meados dos anos 90 ou depois. Para muitos, é a primeira vez que participam de um protesto de massa.
"Nas últimas grandes manifestações do movimento Black Lives Matter, nós ainda éramos jovens demais para realmente entender a mensagem", explica Noel, de 18 anos, vindo com o irmão menor e amigos. "Mas agora nós estamos aqui, para fazer o que pudermos pela nossa comunidade."
Numa discussão virtual sobre a violência policial, na noite de quarta-feira (04/06), o ex-presidente Barack Obama elogiou o engajamento dos jovens americanos: "Quando às vezes eu me desespero, olho para o que acontece com a gente jovem de todo o país, e o talento, a voz deles, e como procedem com sensatez." Afinal, também Martin Luther King e Malcolm X eram jovens quando começaram a se envolver politicamente, e "isso me deixa otimista, tenho a sensação de que este país pode melhorar".
Também Mya, de 21 anos, está entre os que participam de um movimento social pela primeira vez. "Já estávamos fartos com os casos de Trayvon Martin e Eric Garner", diz, referindo-se a dois afro-americanos mortos pela polícia nos últimos anos. "Agora, finalmente, estou numa idade em que posso me engajar. Tenho que cuidar para que a minha voz conte."
E parece que os ininterruptos protestos e exigências de justiça dos jovens manifestantes estão fazendo efeito: a acusação contra o policial que se ajoelhou no pescoço de Floyd até ele sufocar foi agravada de "homicídio em terceiro grau" para "homicídio de segundo grau". Isso significa que ele está sujeito a até 40 anos de prisão, em vez de 25. E seus três colegas presentes foram indiciados por cumplicidade.
Mas o engajamento não pode se limitar às manifestações, alerta Bryan, de 25 anos, que protesta em Washington apesar de seu emprego na Casa dos Representantes vedar tal atividade. Mas ele não pode mais só ficar olhando: "A primeira coisa é votar para tirar Trump da presidência", depois tem que haver reformas na polícia.
Também ele já foi molestado incontáveis vezes pela polícia devido a bagatelas: "Uma vez, fui parado porque estava oito quilômetros acima da velocidade máxima. Eu tinha acabado de terminar o serviço militar, e os policiais perguntaram se eu estava com drogas." Bryan diz estar farto de "ver minha gente morrer": a ira contra a injustiça enchem seus olhos de lágrimas.
Falando à revista online Teen Vogue, Patrisse Cullors, cofundadora da rede global Black Lives Matter, se dirige diretamente aos manifestantes da "geração Z": "O que as pessoas nas ruas, precisamente os jovens, têm que escutar agora é que vocês têm poder."
Deborah, de 18 anos, só torce para que ela e os demais manifestantes realmente possam mudar algo: "Temos que conseguir!", exclama, sentada no chão diante de uma fileira de policiais, "Não temos outra opção."
Milhares se manifestaram nos Estados Unidos e até no Canadá contra o maltrato sistêmico de negros pela polícia, redundando em confrontações violentas. Trump contribuiu para acirrar os ânimos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/J. Cortez
"Não consigo respirar"
Protestos tensos contra décadas de brutalidade policial perante cidadãos negros se alastraram rapidamente de Minneapolis a outras localidades dos Estados Unidos. As manifestações começaram na cidade do centro-oeste após a morte do afro-americano George Floyd, de 46 anos: em 25/05/2020, um policial o algemou e pressionou o joelho em seu pescoço até ele parar de respirar.
Foto: picture-alliance/newscom/C. Sipkin
De pacífico a violento
No sábado, os protestos foram basicamente pacíficos, mas se tornaram violentos com o avançar da noite. Em Washington, a Guarda Nacional foi mobilizada diante da Casa Branca. Tiroteios no centro de Indianápolis deixaram pelo menos um morto: segundo a polícia, não havia agentes envolvidos. Policiais ficaram feridos em Filadélfia. Em Nova York, dois veículos da polícia avançaram contra uma multidão.
Foto: picture-alliance/ZUMA/J. Mallin
Saques e destruição
Em Los Angeles, manifestantes enfrentaram com brados de "Black Lives Matter!" (Vidas negras importam) os agentes da lei armados de cassetetes e revólveres com balas de borracha. Na cidade, assim como em Atlanta, Nova York, Chicago e Minneapolis, os protestos se transformaram em revoltas de massa, com saques e destruição de estabelecimentos comercias.
Foto: picture-alliance/AP Photo/C. Pizello
Provocador de Estado
O então presidente Donald Trump ameaçou enviar militares para abafar os protestos: "Minha administração vai parar a violência de massa, e de uma vez só", anunciou, acirrando as tensões nos EUA. Apesar de ele ter culpado supostos grupos de extrema esquerda pelas agitações, o governador de Minnesota, Tim Walz, citou diversos relatos de que supremacistas brancos estariam incitando o conflito.
Foto: picture-alliance/ZUMA/K. Birmingham
Mídia na mira da polícia
Diversos jornalistas que cobriam os protestos foram atacados por policiais. Na sexta-feira (29/05), o correspondente da CNN Omar Jimenez e sua equipe foram presos em Minneapolis. A polícia local também atirou na direção de Stefan Simons, da DW, quando ele se preparava para transmitir ao vivo, na noite de sábado. Outros repórteres foram alvejados com projéteis ou detidos quando estavam no ar.
Foto: Getty Images/S. Olson
Além das fronteiras
As manifestações chegaram até o Canadá: no sábado milhares marcharam pelas ruas de Vancouver e Toronto. Nesta cidade, os participantes também lembraram a morte da afro-canadense Regis Korchinski-Paquet, de 29 anos, na quarta-feira (27/05), caída da varanda de seu apartamento no 24º andar, onde se encontrava só com policiais.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/A. Shivaani
#GeorgeFloyd
Milhares também desfilaram diante da embaixada dos Estados Unidos em Berlim, manifestando indignação contra o homicídio de Floyd e o racismo sistêmico.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M:.Schreiber
Casa Branca cercada
A Força Nacional fez um cordão de isolamento, no domingo, para proteger a Casa Branca. O presidente Trump chegou a ser levado para um bunker na sede do Executivo, que foi alvo de manifestações por dias.
Foto: Reuters/J. Ernst
Soldados em Washington
Após Trump anunciar o uso de soldados para conter as manifestações, o Pentágono deslocou cerca de 1.600 militares para a área de Washington para apoiar as forças de segurança da capital caso seja necessário, diante dos protestos que marcaram uma semana da morte de Floyd. Na Alemanha, o ministro do Exterior, Heiko Maas, criticou a ameaça de Trump de usar militares armados contra os manifestantes.
Foto: Getty Images/AFP/W. McNamee
Recado de Obama
No dia em que a procuradoria endureceu as acusações contras os quatro policias envolvidos na ação, o ex-presidente dos EUA Barack Obama disse que protestos refletem "mudança de mentalidade" no país e incentivou os jovens a continuar realizando as manifestações. "Espero que (os jovens) sintam esperança, ao mesmo tempo que estão indignados, porque eles têm o poder de mudar as coisas", afirmou.
Foto: Reuters/J. Skipper
Funeral reúne centenas em Minneapolis
Centenas participaram de uma cerimônia fúnebre em homenagem a George Floyd em 04/06. Elas ficaram em silêncio por 8 minutos e 46 segundos, tempo em que Floyd ficou com o pescoço prensado pelo joelho de um policial. "É hora de nos levantarmos em nome de Floyd e dizer: tirem o seu joelho dos nossos pescoços", afirmou o reverendo e ativista pelos direitos civis Al Sharpton (foto) durante o funeral.