Gesto supremacista gera tensões entre Turquia e Alemanha
Publicado 4 de julho de 2024Última atualização 5 de julho de 2024
Após manifestar-se nos gramados, craque da seleção turca é suspenso pela UEFA e ficará de fora das próximas duas partidas da Eurocopa. Diplomatas dos dois países trocaram reprimendas, e Ancara fala em "xenofobia".
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Após ter comemorado um gol fazendo um gesto supremacista em uma partida da Eurocopa em Leipzig, na Alemanha, o jogador da seleção turca Merih Demiral foi suspenso nesta sexta-feira (05/07) pelos próximos dois jogos por decisão da União das Associações Europeias de Futebol (Uefa), que organiza o torneio.
Com isso, o zagueiro ficará de fora das quartas de final contra a Holanda, no sábado, e – caso a Turquia avance no torneio de seleções da Europa – também de uma eventual semifinal.
Gesto supremacista
Na terça, ao comemorar o gol da vitória contra a Áustria nas oitavas de final, Demiral fez um gesto com as mãos imitando um lobo, em uma suposta referência ao grupo ultranacionalista turco de extrema direita conhecido como Lobos Cinzentos.
O grupo possui associações com a sigla radical Partido do Movimento Nacionalista (MHP) da Turquia. O gesto é proibido na Áustria, mas não na Alemanha, onde se discute a possibilidade de bani-lo.
"O jeito que eu comemorei tem a ver com a minha identidade turca", argumentou Demiral depois da partida. "Também vi pessoas no estádio fazendo o gesto. Somos todos turcos, tenho muito orgulho de ser turco, é isso que o gesto representa. Eu quis demonstrar o quanto estou orgulhoso e feliz."
Revolta na Turquia
A decisão da UEFA foi recebida com revolta na Turquia, tendo sido desaprovada pelo governo, pela confederação turca de futebol e pelos torcedores.
Segundo o ministério turco do Exterior, a punição a Demiral revela "o aumento da tendência enviesada em relação a estrangeiros em alguns países europeus".
"Essa decisão injusta e partidária decepcionou profundamente toda a nossa nação", afirmou Mehmet Büyükeksi, presidente da TFF, a confederação turca de futebol.
Na rede social X, internautas queixavam-se do que, na visão deles, era uma punição desproporcional, já que outro jogador, o inglês Jude Bellingham, recebeu apenas uma multa de 30 mil euros por ter feito um gesto obsceno em campo na partida contra a Eslováquia.
Tensão diplomática
Um dia antes da punição, na quinta-feira, o governo da Alemanha havia convocado o embaixador da Turquia em Berlim para dar explicações a respeito do gesto de Demiral.
"Tratamos do incidente hoje com o embaixador turco em Berlim", disse uma porta-voz do ministério alemão do Exterior. A pasta instou o embaixador Ahmet Başar Şen a tomar medidas para que a cena não volte a se repetir.
Antes, na quarta-feira, o governo turco já havia convocado o embaixador alemão em Ancara após as reações em Berlim ao gesto. Uma das que se pronunciou foi a ministra alemã do Interior, Nancy Faeser. "Usar torneios de futebol como plataforma para o racismo é completamente inaceitável" disse em postagem no X.
Faeser havia pedido à Uefa que abrisse um inquérito e avaliasse possíveis punições ao jogador turco – a edição de 2024 do torneio é realizada na Alemanha.
Turquia acusa autoridades alemãs de "xenofobia"
Na Turquia, o líder do MHP Devlet Bahceli classificou de "provocação" a abertura de procedimentos por parte da Uefa para punir Demiral.
O ministério turco do Exterior disse que a investigação é inaceitável, e que nem todas as pessoas que fazem o gesto dos Lobos Cinzentos podem ser classificadas como extremistas de direita. A pasta considerou como "xenófobas" as reações das autoridades alemãs ao gesto feito pelo jogador.
Segundo relatos na imprensa turca e alemã, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, mudou seus planos de viagem e incluiu uma escala em Berlim para assistir à partida entre Turquia e Holanda na noite de sábado – decisão que teria sido tomada em reação à controvérsia em torno do gesto de Demiral. A assessores, o líder turco teria dito que deseja apoiar a seleção.
A comunidade turca é a minoria mais numerosa na Alemanha, com 1,54 milhão de pessoas, além de 1,4 milhão de cidadãos alemães de origem turca. O bom desempenho da seleção turca na Eurocopa gerou reações emocionadas de multidões de turcos em todo o país.
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Quem são os Lobos Cinzentos
Autoridades alemãs classificam a ideologia do grupo como ultranacionalista, antissemita e racista. Seus membros são hostis a pessoas de origem judaica, curda, armênia e cristã, e acreditam na superioridade da nação turca.
No passado, membros dos Lobos Cinzentos cometeram atos violentos, inclusive assassinatos, particularmente nos anos 1970. Segundo o Departamento de Proteção da Constituição (BfV) da Alemanha – a agência de inteligência interna do país – o objetivo da organização é estabelecer um Estado homogêneo de todos os povos túrquicos (aqueles que utilizam línguas turcomanas) sob liderança turca, dos Bálcãs ao oeste da China.
Há duas correntes principais dentro dos Lobos Cinzentos. A primeira são os apoiadores do MHP, e a outra, os membros do Partido da Grande União (BBP), de tendência extremista.
Torcida da Áustria entoou cantos xenófobos
No dia da partida contra a Turquia em Leipzig, imagens de uma emissora de televisão suíça mostraram torcedores austríacos na rua entoado cantos racistas e de extrema direita que diziam "Alemanha para os alemães" – um slogan da era nazista – e "fora, estrangeiros", sobre a melodia da música L'amour toujours. A polícia de Leipzig deu início a investigações sobre o caso.
O canto racista se tornou mais conhecido após um vídeo de um grupo de jovens entoando as mesmas frases na ilha de Sylt, no norte da Alemanha, circular nas redes sociais. Apesar da onda de condenações aos jovens de Sylt, vários outros incidentes com a mesma música ocorreram na Alemanha. A canção está proibida de ser executada em festivais e foi banida da Eurocopa.
A Associação Austríaca de Futebol (ÖFB) queria que L'amour toujours – obra de um DJ italiano – fosse tocada nos estádios após as vitórias austríacas no torneio europeu, o que foi rejeitado pela Uefa.
O jogador da seleção austríaca Michael Gregoritsch comentou sobre o caso em entrevista a uma emissora de seu país: "Devemos nos distanciar de ideologias de extrema direita e saber o quanto é importante sermos todos iguais, que estamos todos aqui por nosso país". O treinador da equipe, Ralf Rangnick, também se pronunciou durante o torneio contra o crescimento da extrema direita na Europa.
Com informações de Elmas Topcu e Stefan Nestler.
rc/ra (DW, dpa, ots)
O mês de julho em imagens
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Foto: Evan Vucci/AP Photos/picture alliance
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Foto: Susan Walsh/AP Photo/picture alliance
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Foto: Susan Walsh/AP/dpa/picture alliance
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Foto: Bodo Marks/dpa/picture alliance
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Foto: Johanna Geron/REUTERS
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Foto: Sem van der Wal/ANP/picture alliance
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Foto: Alain Jocard/AFP [M]
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Foto: Evan Vucci/AP Photo/picture alliance
Perigo de vida no Vale da Morte
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Foto: Mario Tama/Getty Images
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Foto: Efrem Lukatsky/AP Photo/picture alliance
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Reforma vence pleito presidencial do Irã
O reformista Masud Pezeshkian se impôs no segundo turno do pleito presidencial do Irã, que teve uma participação nas urnas de 49,9 %. Ele obteve 53,6 % dos votos, contra 44,3 % para o ultraconservador Saeed Jalili. Em seus primeiros comentários após o resultado eleitoral, o presidente eleito definiu a votação como o início de uma "parceria" com o povo iraniano. (06/07)
Foto: Vahid Salemi/AP/picture alliance
Após 14 anos com conservadores no poder, Reino Unido tem premiê trabalhista
Consagrado com uma maioria esmagadora na eleição legislativa antecipada, Keir Starmer, 61, é o sétimo primeiro-ministro do Partido Trabalhista. Ele substitui o conservador Rishi Sunak, que ficou menos de dois anos no cargo. O Partido Conservador perdeu as eleições ao conquistar apenas 121 assentos na Câmara dos Comuns (baixa), contra 412 do Trabalhista. (05/07)
Foto: JUSTIN TALLIS/AFP/Getty Images
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Foto: Eraldo Peres/AP/picture alliance
Furacão Beryl avança pelo Caribe
O furacão Beryl, de categoria 4, atingiu com força a costa sul da Jamaica após deixar um rastro de destruição em outras regiões do Caribe, com ao menos sete mortos. Serviços meteorológicos registraram ventos de até 220 quilômetros por hora. O governo impôs um toque de recolher em todo país e pediu que a população de 2,8 milhões obedeça possíveis ordens de evacuação. (03/07)
Foto: Curlan Chrissey Campbell/Reuters
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Mais de uma centena de pessoas, incluindo mulheres e crianças, morreram após um tumulto ocorrido ao final de uma cerimônia religiosa hindu no norte da Índia. Forte calor e falta de ar no local do evento podem ter contribuído para a tragédia. Pessoas que participaram da cerimônia disseram que cerca de 50 mil devotos estavam presentes no local. (02/07)
Foto: Manoj Aligadi/AP/picture alliance
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