Cantor de 79 anos cuja carreira se confunde com a história da música brasileira foi eleito para a cadeira de número 20 da Academia Brasileira de Letras. Ele é o segundo negro na atual composição da ABL.
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O cantor e compositor Gilberto Gil, de 79 anos, é o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele vai passar a ocupar a cadeira 20, que pertencia ao jornalista Murilo Melo Filho.
Gil foi eleito nesta quinta-feira (11/11) num evento no palacete Petit Trianon, no Rio de Janeiro, uma semana após a atriz Fernanda Montenegro, de 92 anos, ter sido eleita, sem concorrentes, para a cadeira 17. Os ingressos de Montenegro e Gil vêm sendo encarados como uma mudança de rumo na ABL e uma abertura para outros ramos da cultura além da literatura.
"Muito feliz em ser eleito para a cadeira 20 da Academia Brasileira de Letras. Obrigado a todos pela torcida e obrigado aos agora colegas de Academia pela escolha", escreveu o músico após a eleição.
"Gilberto Gil traduz o diálogo entre a cultura erudita e a cultura popular. Poeta de um Brasil profundo e cosmopolita. Atento a todos os apelos e demandas de nosso povo. Nós o recebemos com afeto e alegria", declarou o presidente da ABL, Marco Lucchesi.
Gil deve assumir oficialmente a cadeira em março de 2022, quando a ABL voltar do recesso de fim de ano.
Ministro da Cultura entre 2003 a 2008, Gil é um dos principais expoentes da Tropicália e sua carreira se confunde com a música brasileira desde os anos 1960.
Além de Gil, concorreram também para a cadeira 20 o poeta Salgado Maranhão e o escritor Ricardo Daun, mas o músico venceu com 21 votos.
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Os imortais
Seguindo o modelo da Academia Francesa, a ABL é constituída por 40 membros efetivos e vitalícios, apelidados de "imortais". Além desse quadro composto por brasileiros, existem 20 membros correspondentes estrangeiros.
Quando um membro da ABL morre, a cadeira é declarada vaga numa sessão denominada "Saudade". Os interessados em ocupar a vaga têm dois meses para se candidatar.
A cadeira 20 tem como patrono o romancista e jornalista Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882), autor do clássico A Moreninha, e já pertenceu a um dos fundadores da ABL, Salvador de Mendonça (1841-1913).
Também já ocuparam essa cadeira o poeta Emílio de Meneses, o jornalista Humberto de Campos, o escritor Múcio Leão e o general Aurélio de Lyra Tavares – este último um dos integrantes da junta governativa provisória de 1969, durante a ditadura militar.
O ingresso de Gil e Montenegro nos últimos dias devem diminuir um pouco a falta de diversidade da casa. Com Gil, haverá dois negros entre a atual composição dos "imortais". O outro é o pesquisador Domício Proença Filho. Já a atriz Montenegro se tornou a nona mulher a ocupar uma cadeira da ABL em 124 anos.
jps/ek (ots)
As revoluções e suas músicas
Quer americana, francesa, russa ou árabe, por convicção ou obrigação, há séculos os compositores criam obras destinadas a apoiar ou comentar as revoluções. Mas também há espaço para vozes críticas.
Foto: picture-alliance/akg-images
Melodias e ritmos revolucionários
Compositores de diversos países e épocas têm feito música inspirada por ideias e eventos revolucionários. A Revolução Francesa de 1789, em especial, deixou forte marca em numerosas peças musicais. Porém outros levantes também tiveram sua trilha sonora.
Foto: picture-alliance/Luisa Ricciarini/Leemage
Canto da independência americana
Até hoje, "Yankee Doodle" é uma das melodias populares mais conhecidas dos Estados Unidos. Ela era a canção dos revolucionários que almejavam se libertar da dominação britânica – coisa que alcançariam em 1776. Thomas Jefferson elaborou a Declaração de Independência, enfatizando a liberdade e igualdade de todos os seres humanos. E a Revolução Francesa abraçou essas ideias.
Músico de Napoleão
Etienne-Nicolas Méhul foi o compositor revolucionário por excelência. A ele Napoleão Bonaparte encomendou um hino famoso na virada do século 18 para o 19, "Le chant du départ" (O canto da partida). Porém o líder esnobou a "Missa solene" de Méhul para sua coroação como imperador. Ao compositor francês fica o mérito de ter inspirado Beethoven na "Quinta sinfonia", apelidada "Do Destino".
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Ópera de salvação
Também o italiano Luigi Cherubini foi contagiado pelo espírito da revolução. Em 1800 sua "ópera de salvação" "Os dois dias, ou O aguadeiro" fez sucesso estrondoso. Esse gênero operístico trata do resgate de uma personagem injustamente perseguida. Aqui, o vendedor de água salva um conde de pagar com a vida por suas ideias progressistas. O obra foi fonte de inspiração para "Fidelio" de Beethoven.
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Fascínio da "Eroica"
Em 1803 a "Sinfonia nº 3" de Beethoven, apelidada por ele "Eroica", rompia com todas as convenções do gênero. Mais longa e dramática do que qualquer obra até então, ela nasceu como verdadeira "música da revolução", em honra a Napoleão. No entanto Beethoven retirou a dedicatória quando o líder francês se fez coroar imperador – traindo, assim, os ideais de liberdade, igualdade, fraternidade.
Foto: picture-alliance/Leemage
Homenagem à Revolução Russa
Sergei Prokofiev compôs em 1937 sua "Cantata pelo 20º aniversário da Revolução de Outubro". Além de um total de 500 instrumentistas e coristas, ela inclui tiros de canhão, metralhadora e sino de alarme. A bombástica obra sobre textos de Marx, Engels e Lenin caiu, no entanto, em desagrado com o ditador Stalin, só sendo estreada em 1966, em versão reduzida.
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Déspota humilhado
O poeta e libertário Lord Byron escreveu em 1814 uma "Ode" à abdicação de Napoleão, em que zombava do imperador. Em 1942, sob a impressão do domínio nazista, Arnold Schoenberg musicou o poema para recitante, piano e quarteto de cordas. Um crítico musical contemporâneo apontou paralelos entre Bonaparte e Hitler – que o compositor politicamente engajado não contradisse.
Foto: picture-alliance/dpa/APA Publications Arnold Schönberg Center
Beatles, 1968 e "Revolution"
A primeira canção que os Beatles gravaram para o "álbum branco" foi "Revolution". John Lennon a compôs em 1968, durante uma estada na Índia, inspirado nos protestos estudantis de Paris, na Guerra do Vietnã e no atentado contra Martin Luther King. A "Revolução" dos Beatles, porém, é pacífica, sem tiros nem extremistas violentos.