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Gilberto Gil se despede da Alemanha com show em Mainz

Felipe Tadeu11 de julho de 2006

Ministro da Cultura fala à DW-WORLD sobre o sucesso da Copa da Cultura, as perspectivas de uma africanidade internacional e seus planos como músico.

Gil em conversa com DW-WORLDFoto: Felipe Tadeu

Foi como uma espécie de prorrogação do tempo regulamentar na Copa da Cultura: um dia depois da final entre França e Itália, data que marcou também o término da primeira fase do ano cultural brasileiro na Alemanha, o músico Gilberto Gil subiu ao palco do já lendário Kulturzentrum, em Mainz, na noite de segunda-feira (10/07), para realizar um show que fechou simbolicamente aquele que foi o projeto prioritário do Ministério da Cultura no exterior em 2006.

Ainda que a seleção canarinho não tenha conseguido repetir o bom desempenho da última Copa na Ásia, não faltou ao artista baiano nem ao ministro, e muito menos ao público, ânimo para que a noite no centro cultural às margens do Rio Reno fosse um sucesso.

Cerca de 800 espectadores vibraram do começo ao fim com um repertório que privilegiou certa africanidade da obra do eterno tropicalista, onde se destacaram afoxés como Axé Babá, De Ouro e Marfim e Opachorô, além de um generoso set de reggae que incluiu tanto canções próprias como Vamos Fugir (de Gil e Liminha), ou curiosas versões para clássicos alheios como Could You Be Loved, de Bob Marley, e Positive Vibration, de Vincent Ford.

O fato de o Kulturzentrum de Mainz estar completando 25 anos de existência foi saudado veementemente por Gil no meio da apresentação: “Fui o primeiro brasileiro a ser convidado para cantar aqui [em 1991], vida longa ao KUZ”, clamou o artista.

O centro cultural que se afirmou como um dos mais importantes enclaves da música brasileira na Alemanha está com o futuro ameaçado, correndo o risco de perder tanto a crucial verba da cidade para suas atividades como a própria licença de funcionamento com a construção do chamado Winterhafen, um complexo de moradias nas vizinhanças do KUZ.

Balanço da Copa da Cultura

O ministro ainda não dispõe de dados concretos para uma avaliação mais consistente dos resultados atingidos com a Copa da Cultura na Alemanha, mas a impressão de Gilberto Gil quanto à fase inicial do projeto (o Copa da Cultura continua em setembro, com o Brasil como país-tema da feira musical Popkomm, em Berlim) foi das melhores.

“Meu sentimento pessoal é de que a Copa da Cultura foi tão bem recebida aqui na Alemanha, quanto o ano do Brasil na França de 2005, ainda que a mostra francesa tenha sido mais intensa em termos de eventos. Lá nós tivemos cerca de 2500 apresentações artísticas, cifra dez vezes superior à da Alemanha, mas a Copa do Mundo de Futebol aqui representou um público para nós vindo do mundo inteiro”, percebeu o ministro.

Segundo ele, a série de shows com músicos brasileiros em Berlim teve lotação esgotada em quase todas as noites, num ano cultural iniciado em janeiro com exposições de fotografia e concertos de música de câmara na capital alemã e em outras cidades.

“Havia na Alemanha uma disposição celebrativa proporcionada pela Copa do Mundo que dava a todos nós uma espécie de positive vibration para nossos eventos culturais. Aliás, esta conexão entre esporte e cultura não foi feita só por nós, a própria Federação Alemã de Futebol criou uma fundação cultural específica para a Copa do Mundo”, afirmou o ministro.

Com viagem para o Brasil marcada para esta terça-feira (11/07), Gilberto Gil tinha pela frente a participação na Conferência Internacional da África e Diáspora (CIAD), a ser realizada na cidade de Salvador, Bahia, de 12 a 15 deste mês.

O evento promovido pela Fundação Palmares, ligada ao Ministério da Cultura, tem importância fundamental na pauta de Gil: “A unidade das diversas Áfricas, não só as continentais, mas também as da diáspora, dos países de ascendência africana, é um desejo de todos nós, tanto da América do Norte, das nações do Caribe como do Brasil”. O encontro de intelectuais que estará acontecendo na capital baiana é o segundo promovido pela chamada União Africana, que há dois anos promoveu evento similar em Dacar, no Senegal. “Nossa idéia é a criação de um encontro de calendário bienal onde intelectuais africanos, seus descendentes e todos aqueles interessados pela cultura africana possam discutir sobre os elementos que caracterizariam uma africanidade internacional”, disse Gilberto Gil.

Ano decisivo

A poucos meses do final da primeira gestão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, tudo indica que Gil não permanecerá no cargo de ministro caso o presidente seja reeleito. Como planos para o ano vindouro, Gilberto Gil revelou o sonho de gravar um álbum exclusivamente de sambas dele e de outros compositores. Além disso, já está prevista uma excursão pelos Estados Unidos e um possível retorno à Europa e ao Japão, país onde o artista não se apresenta há muitos anos.

A música parece reconquistar aos poucos a prioridade em sues planos. Indagado se já havia composto alguma canção em Brasília, Gil foi enfático: “Sim, mas foi há muito tempo, em 1967, uma música que compus com Caetano Veloso. Como ministro, nunca”.