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Glória tardia da "arte degenerada"

Assis Mendonça14 de janeiro de 2003

O Centro Georges Pompidou, em Paris, exibe obras do pintor e ilustrador alemão Otto Dix (1891-1969). Elas foram consideradas "arte degenerada" pelos nazistas. A exposição fica aberta de 15 de janeiro a 31 de março.

Obra do período de Dresden: "Três Mulheres"Foto: AP

O público francês – e internacional, de uma maneira geral – conhece relativamente pouco sobre Otto Dix. Sua fase mais conhecida é o curto período de criação entre 1919 e 1926, quando o artista integrou a corrente da chamada Neue Sachlichkeit ("Nova Objetividade").

Otto Dix sofreu influência das principais correntes da pintura, do impressionismo ao expressionismo. E também fez experimentos com formas do cubismo, do futurismo e, mais tarde, também do dadaísmo.

Entre 1914 e 1918, Dix foi soldado alemão na Primeira Guerra Mundial, tendo participado dos combates tanto na França como na Rússia. Embora tenha se alistado como voluntário no início do conflito, a violência vivida durante a guerra marcou toda a sua obra artística posterior e a sua própria vida pessoal.

Anos sombrios

Depois da Primeira Guerra Mundial, Otto Dix fundou o chamado Grupo 1919 na Secessão de Dresden, juntamente com Conrad Felixmüller (1897-1977). A partir de 1927, ele se tornou professor na Academia de Belas Artes de Dresden. Lecionou até 1933, quando foi demitido pelos nazistas, que acabavam de subir ao poder.

A exposição parisiense abrange esse período de ensino na Academia de Dresden e, principalmente, a fase posterior do chamado "exílio interno" na Alemanha. Depois de destituído de todas as suas funções em 1933, Otto Dix transferiu-se para a região do Lago de Constança, onde continuou o seu trabalho, apesar das restrições estéticas impostas pelo nazismo.

"No período de plena luz em anos sombrios, não há uma cesura na qualidade dos seus numerosos desenhos: todos possuem força e vigor", escreve Christian Derouet, o organizador da exposição no Centro Georges Pompidou.

Velhos mestres

Para não ser inteiramente impedido de pintar em seu próprio país, Dix dedicou-se a temas tolerados pelo regime nazista. Nesta fase, suas obras lembram em parte a pintura paisagística romântica de David Caspar Friedrich e dos velhos mestres alemães.

Após 1945, com a fase conturbada da desnazificação da Alemanha e sobretudo a dominância da arte abstrata em nível internacional, as obras de Otto Dix caíram temporariamente no esquecimento. Principalmente a fase do seu "exílio interno" passou a ser quase inteiramente ignorada.

A exposição do Centro Georges Pompidou presta agora tributo a um dos grandes nomes da arte alemã no século 20, resgatando de propósito o mais desconhecido dos seus períodos de criação.

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