Globo de Ouro é marcado por protesto contra assédio sexual
8 de janeiro de 2018
Na primeira premiação do ano em Hollywood, astros e estrelas vestem preto em solidariedade às vítimas de abuso sexual na indústria do cinema. Diretor alemão Fatih Akin leva prêmio de melhor filme estrangeiro.
Anúncio
Os filmes Três anúncios para um crime (Three billboards outside Ebbing, Missouri) e Lady Bird: A hora de voar (Lady Bird) foram os vencedores nas categorias de melhor filme de drama e comédia, respectivamente, no 75º Globo de Ouro – premiação marcada por protestos de atrizes contra abusos sexuais. O prêmio de melhor filme estrangeiro foi para a película franco-alemã Em pedaços (Aus dem Nichts), dirigida pelo alemão Fatih Akin.
A entrega do Globo de Ouro, que ocorreu na noite deste domingo (07/01), em Los Angeles, foi a primeira cerimônia da indústria cinematográfica de Hollywood depois que dezenas de mulheres começaram, em outubro, a relatar diversas acusações de assédio sexual contra o ex-produtor americano Harvey Weinstein.
A cerimônia contou com discursos aflorados da apresentadora Oprah Winfrey e da atriz Nicole Kidman, além de tiradas sarcásticas do moderador Seth Meyers. "Para os nomeados masculinos no auditório, esta será a primeira vez em três meses que não será terrível ouvir seu nome lido em voz alta", disse o humorista, logo na abertura.
Protesto e solidariedade no tapete vermelho
O desfile no tapete vermelho fez antever o que se esperava, com numerosos artistas de vestidos e trajes negros num gesto de solidariedade às vítimas de abuso sexual e de apoio aos movimentos #MeToo ("Eu também") e Time's Up ("O tempo acabou").
"Acho que as pessoas estão conscientes agora sobre um desequilíbrio de poder e que isso é algo que leva ao abuso", disse a atriz Meryl Streep, oito vezes vencedora do Globo de Ouro. "Nós nos sentimos encorajadas, de certa forma, neste momento particular, para ficarmos unidas numa linha preta espessa que divide o passado do agora."
Streep – que num discurso no Globo de Ouro de 2012 elogiou Weinstein e o chamou de "Deus" – foi uma das centenas de atrizes que ajudaram a iniciar, na segunda-feira passada, a iniciativa Time's Up, que visa apoiar as mulheres em diferentes áreas profissionais.
A atriz Michelle Williams, que foi nomeada para a categoria de melhor atriz por Todo o dinheiro do mundo (All the money in the world), chegou à premiação ao lado de Tarana Burke, fundadora do movimento #MeToo. "Estamos aqui porque Tarana começou um movimento e plantou uma semente há anos, que cresceu e pegou fogo. Ela começou o movimento #MeToo", disse Williams.
Após as acusações contra Weinstein aumentarem, muitas mulheres ao redor do mundo começaram a usar a hashtag para aumentar a conscientização sobre abusos sexuais e para contar suas próprias experiências.
Melhor filme estrangeiro
Em pedaços levou o prêmio de melhor filme estrangeiro. O drama do diretor alemão de origem turca conta a história de uma família com um passado criminoso e raízes turcas e que é vítima de um ataque com bomba executado por membros da extrema direita. As autoridades erroneamente presumem um motivo relacionado a drogas, o que leva a sobrevivente Katja a investigar por conta próprio os assassinatos de seu marido e filho.
A trama tem paralelos e similaridades aos erros de investigação que ocorreram após a série de homicídios realizados por extremistas da Clandestinidade Nacional-Socialista (NSU) entre 2000 e 2007 na Alemanha. No caso, a polícia supôs vínculos com crime organizado entre as comunidades de migrantes e encontrou os verdadeiros culpados pelos crimes por mero acaso, depois que eles foram presos num assalto bancário.
Os premiados
Melhor filme (drama): Três anúncios para um crime
Melhor filme (comédia): Lady Bird: A hora de voar
Melhor ator (drama): Gary Oldman (O destino de uma nação)
Melhor atriz (drama): Frances McDormand (Três anúncios para um crime)
Melhor ator (comédia): James Francos (Artista do desastre)
Melhor atriz (comédia): Saoirse Ronan (Lady Bird: A hora de voar)
Melhor ator coadjuvante: Sam Rockwell (Três anúncios para um crime)
Melhor atriz coadjuvante: Allison Janney (Eu, Tonya)
Melhor diretor: Guillermo del Toro (A Forma da água)
Melhor roteiro: Martin McDonagh (Três anúncios para um crime)
Melhor trilha sonora original: Alexandre Desplat (A forma da água)
Melhor canção original: This is me, de Benj Pasek e Justin Paul (O Rei do show)
Melhor filme de animação: Viva – A vida é uma festa
Melhor filme estrangeiro: Em Pedaços
PV/efe/ap/rtr/afp
----------------
A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos noFacebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App
Grandes filmes alemães dos anos 2000
A partir do ano 2000, chegaram às telas filmes de cineastas associados ao que se chamou de "segunda geração da Escola de Berlim", além de uma vertente do cinema alemão impulsionada por diretores filhos de imigrantes.
Foto: picture-alliance/dpa/Les Film du Losange
Caixa preta Alemanha
O documentário de Andres Veiel, de 2001, apresenta dois personagens paralelos: Alfred Herrhausen, presidente do Deutsche Bank, morto em um atentado em 1989; e o terrorista Wolfgang Grams, morto em confronto com a polícia. O diretor busca depoimentos de pessoas próximas aos dois e esboça um retrato da sociedade alemã à sombra do terrorismo da RAF: "A luta passou, mas as feridas continuam abertas."
Foto: X Verleih
Adeus, Lênin!
Nesta comédia de 2003, o diretor Wolfgang Becker revisita a queda do Muro de Berlim através da história da família Kerner. E brinca com as diferenças culturais entre as ex-Alemanhas Oriental e Ocidental. O filme recebeu diversos prêmios, entre eles o de melhor filme europeu do ano e se tornou um dos maiores sucessos de público da história recente do cinema alemão.
Foto: picture-alliance/dpa
Contra a parede
O filme de Fatih Akin recebeu o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim em 2003. O diretor volta mais uma vez os olhos para suas raízes, ao contar a inusitada história de amor entre dois jovens turcos na Alemanha, que lutam para se libertar das amarras das tradições familiares. A premiação marcou a consagração de Akin como um dos principais diretores do país.
Foto: picture alliance/dpa
Marselha
Angela Schanelec, uma das diretoras da "Escola de Berlim", traça, em seu longa de 2004, o retrato de uma geração perdida entre lugares, pessoas, idas e vindas, emoções contrárias. Adepta de uma linguagem cinematográfica elíptica e de rigor formal, e amante confessa do cinema de Robert Bresson, Schanelec "documenta" o cotidiano das personagens em seus filmes de ficção.
Foto: peripherfilm/R.Vorschneider
Edukators
"Edukators", de 2005, dirigido por Hans Weingartner, encerrou o longo jejum de filmes alemães no Festival de Cannes, tendo sido posteriormente bem recebido em muitos países. A narrativa em torno do amor, da amizade e da rebeldia serve como alerta à sociedade de que por trás de uma suposta vida feliz e perfeita podem se ocultar sinais de uma ordem mundial nada justa e igualitária.
Foto: picture alliance/dpa
A vida dos outros
O longa-metragem dirigido por Florian Henckel von Donnersmark sobre as atividades da Stasi, a polícia secreta da ex-Alemanha Oriental, levou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Ao refletir sobre a vigilância estatal, o filme de 2006 apresenta uma narrativa que não reconstrói contextos reais, mas cria uma parábola sobre as possibilidades de resistência aos mecanismos de um Estado repressor.
Foto: picture-alliance/dpa/Buena Vista
Yella
Dirigido por Christian Petzold, um dos nomes da chamada Escola de Berlim, "Yella" (2007) coloca na tela os bastidores do mercado financeiro, com suas imagens, atitudes, valores e riscos. Segundo o próprio diretor, as contradições do neoliberalismo são justamente as contradições da protagonista, que deixa sua pequena cidade no Leste alemão para trabalhar no Oeste com empresários inescrupulosos.
Foto: Hans Fromm
13 curtas sobre o estado do país
Inspirado no projeto coletivo anterior "Alemanha no Outono" (1978), os 13 curtas-metragens radiografaram em 2009 os problemas do país em 140 minutos – desde o fantasma da vigilância até as heranças do nazismo e do terrorismo. Com cineastas como Fatih Akin, Wolfgang Becker, Tom Tykwer e Hans Weingartner, a seleção marcou os 50 anos do fim da Guerra Fria e os 20 anos de queda do Muro de Berlim.
Foto: Piffl Medien GmbH
A fita branca
Produção alemã de 2009 dirigida pelo austríaco Michael Haneke, "A fita branca" levou a Palma de Ouro do Festival de Cannes. Em preto e branco, ele traça um panorama da sociedade europeia às vésperas da Primeira Guerra Mundial, o prenúncio de catástrofes iminentes. "Uma história infantil alemã", subtítulo do filme, remete tanto à "violência infantil" como à "infância" do nazismo do país.
Foto: picture-alliance/dpa/Les Film du Losange
Todos os outros
Rituais secretos, brincadeiras, desejos não realizados e jogos de poder permeiam as relações do casal que protagoniza este filme dirigido em 2009 pela cineasta Maren Ade. "Todos os outros", apontado como um dos mais franceses entre os filmes alemães, é um impressionante exercício de observação e sutileza sobre o amor e suas inerentes decepções, das quais ninguém escapa.