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Golpe no Egito criou dilema para europeus e norte-americanos

Andreas Gorzewski (msb)31 de julho de 2013

Potências ocidentais não podem saudar um golpe de Estado, mas também não podem criticar militares de cujo apoio dependem. Meios para exercer pressão também são poucos.

Foto: Reuters/Amr Abdallah Dalsh

Os governos ocidentais vivem um dilema em sua política para o Egito: o longo silêncio que se seguiu ao golpe contra o presidente eleito Mohamed Morsi torna pouco credível a defesa que eles fazem da democracia. Mas, se eles condenassem duramente a derrubada de Morsi pelos militares e rejeitassem uma cooperação com o governo de transição, não teriam mais voz no Cairo.

Na avaliação do especialista em mundo árabe Günter Meyer, da Universidade de Mainz, as potências ocidentais querem de todas as maneiras assegurar sua influência no Egito. Há décadas o país desempenha um papel fundamental na estratégia de norte-americanos e europeus para o Oriente Médio.

A queda de Morsi não desagrada os Estados Unidos nem os seus parceiros na Europa, diz o especialista. O único problema é que ela é contra os valores democráticos por eles defendidos. "Você pode até se esquivar de falar isso diretamente, mas é claro que se trata de um golpe militar", ressalta o professor.

Democracia e direitos humanos em segundo plano

Mas esse dilema não surgiu com a queda de Morsi, avalia o especialista em Egito Christian Achrainer, do Conselho Alemão para Relações Internacionais (DGAP, sigla em alemão), um centro de estudos. Ele lembra que, já durante os 20 anos que o ditador Hosni Mubarak ficou no poder, os países ocidentais "fecharam os olhos" para o fato de estarem apoiando uma ditadura, em troca de estabilidade política.

Ocidente também "fechava os olhos" para a ditadura Mubarak, a qual apoiavaFoto: imago stock&people

Estados Unidos e União Europeia (UE) estavam interessados na segurança energética, na luta contra o terrorismo e na manutenção dos acordos de paz entre Egito e Israel. Assim, apelos por democracia e direitos humanos ficaram de lado.

Após a queda de Morsi, políticos e diplomatas passaram a buscar um equilíbrio entre os interesses estratégicos de seus países e as exigências retóricas. Quase ninguém questiona o golpe e exige o retorno de Morsi ao poder. Mas a transferência de poder para um governo eleito democraticamente é o principal dos apelos feitos ao regime de transição.

Outro ponto importante para europeus e norte-americanos é que a violência seja contida. O ministro alemão do Exterior, Guido Westerwelle, pediu às autoridades egípcias que permitam os protestos pacíficos e façam de tudo para evitar um aumento da violência. A UE quer ainda a libertação de todos os presos políticos, inclusive Morsi.

Em visita ao Cairo, a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, reforçou nesta terça-feira (30/07) que o bloco manterá seus esforços na busca por um diálogo entre o governo de transição e a Irmandade Muçulmana, que apoia Morsi.

Apoiadores de Morsi protestam no CairoFoto: Mohamed El-Shahed/AFP/Getty Images

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, também apelou pelo fim dos embates sangrentos. No fim de semana passado, ao menos 80 pessoas morreram em confrontos violentos.

Sem meios de exercer pressão

Além dos pedidos por calma, diálogo e retorno à democracia, fica a pergunta: de quais outros métodos de pressão o Ocidente dispõe?

Todos os anos, os Estados Unidos transferem 1,5 bilhão de dólares para as Forças Armadas egípcias. Pela lei americana, essa ajuda não poderia ser repassada a um governo que chegou ao poder por meio de um golpe de Estado.

Mas, segundo Meyer, os militares egípcios sabem muito bem que os EUA não podem simplesmente suspender esses recursos, pois a cooperação estratégica com as Forças Armadas egípcias é muito importante para os Estados Unidos.

Assim, o governo americano se esquiva de caracterizar o que aconteceu no Egito de golpe, colocando em primeiro plano os interesses de sua política externa. "Essa lei mostrou não ser um instrumento eficaz contra golpes militares ou como meio de pressão", avalia Meyer.

Também a UE tem poucos instrumentos para influenciar os acontecimentos no Cairo. Bruxelas até pode atrelar seus programas de ajuda e apoio a algumas condições, mas isso traria poucos resultados, avalia Achrainer.

Por um lado, os países europeus, abalados pela crise do euro, carecem de recursos que possam oferecer aos dirigentes do Egito; por outro, é difícil obter um consenso sobre o tema entre os países-membros.

Um melhor acesso de produtos agrícolas egípcios ao mercado europeu seria algo que certamente interessaria o governo no Cairo, diz Achrainer. "Mas mesmo que os países escandinavos estivessem prontos para aceitar uma abertura de mercados no setor agrícola, os países do sul da Europa seriam contrários", avalia o cientista político.

Sem arrogância

E não faltam apenas meios para pressionar o Egito – faltam também interlocutores para mediar conversações sobre democracia. Os protagonistas da atual disputa de poder são a Irmandade Muçulmana e os militares. "Nenhum dos dois pode realmente ser considerado democrático do ponto de vista dos países ocidentais", afirma Achrainer. "No momento, não há nenhum parceiro que de fato possa ser apoiado."

O pesquisador recomenda muita cautela na diplomacia com o Egito. Os europeus e norte-americanos têm pouco a ganhar se adotarem um comportamento arrogante de donos da verdade. Além disso, os canais de diálogo com os vários grupos políticos precisam ser reconstruídos. "Na crise atual é preciso aceitar que, infelizmente, as possibilidades de exercer influência são muito pequenas", resume Achrainer.

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