"Meu reino por um cavalo!", grita o monarca antes de morrer, na peça de Shakespeare. Pesquisadores confirmam que o rei estava mesmo a pé antes do ataque fatal.
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Quase dois anos após a descoberta do esqueleto do rei Ricardo 3°, num estacionamento na cidade de Leicester, na Inglaterra, pesquisadores identificaram a causa da morte do monarca, que viveu entre 1452 e 1485. Dois ferimentos na cabeça e um no quadril foram fatais para Ricardo 3°. O rei estava sem capacete e morreu durante a batalha de Bosworth, no dia 22 de agosto de 1485.
Cada um dos três ferimentos é grave o suficiente para matar uma pessoa rapidamente, afirmou o estudo publicado nesta quarta-feira (17/09) na revista especializada The Lancet. A análise forense do esqueleto real foi feita por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Leicester. "As lesões de Ricardo retratam uma agressão longa ou um ataque de várias pessoas com armas do final da Idade Média", disse a pesquisador Sarah Hainsworth.
Os pesquisadores descobriram no esqueleto do monarca, por meio de técnicas como tomografia computadorizada e raio-x, 11 ferimentos, nove deles na cabeça. Como não foram encontradas lesões nos braços, acredita-se que Ricardo 3° usava uma armadura. Dessa maneira, os pesquisadores deduziram que o capacete do rei foi retirado ou havia sido perdido durante a luta.
Golpes na cabeça
As duas lesões que provavelmente causaram a morte foram provocadas na base do crânio, disse o legista Guy Rutty. Ele acrescentou que os inimigos do rei o atingiram na cabeça com espadas, adagas e alabardas.
O estudo afirma que o ferimento grave no quadril deve ter sido provocado depois da morte, pois ele estaria protegido com o modelo de armadura existente na época. Pelas lesões na cabeça, os médicos acreditam que Ricardo 3° estava de joelhos e com a cabeça inclinada. "Isso confirma os relatos de batalha que diziam que Ricardo 3° havia desistido do seu cavalo porque ele havia ficado preso na lama", reforçou Rutty.
Após a morte, para humilhar o rei, seus inimigos colocaram seu corpo despido em um cavalo e o levaram para Leicester. Historiadores acreditam que o rei foi enterrado numa igreja franciscana, destruída no século 16. O esqueleto foi encontrado num estacionamento, construído no local onde estava o altar-mor da igreja.
Imortalizado na obra de Shakespeare
Ricardo 3° governou a Inglaterra entre 1483 e 1485 e foi o último rei inglês a morrer em um campo de batalha. Sua morte foi decisiva para o fim da Guerra das Rosas, pelo trono inglês, que já durava 30 anos e marcou a derrubada da dinastia York, à qual rei pertencia. Após o episódio, o trono passou para as mãos dos Tudor.
O monarca foi imortalizado na peça homônima de William Shakespeare, que o descreveu como um soberano cruel e louco por poder, uma imagem que os historiadores desejam corrigir. Ao contrário da representação feita pelo dramaturgo inglês, por exemplo, estudos já revelaram que Ricardo 3° não tinha uma corcunda.
Os restos mortais de Ricardo 3° devem ser enterrados na Catedral de Leicester em março de 2015. A cerimônia marcará o fim de uma série de eventos sobre o jovem monarca.
World Wide Will
Ele é um dos autores mais encenados e mais influentes do mundo: William Shakespeare faz 450 anos. Extraordinária é a capacidade de suas peças de serem compreendidas e adaptadas a praticamente qualquer cultura do planeta.
Foto: picture-alliance/dpa/Sony Pictures
Popularidade atemporal
As obras de William Shakespeare são passíveis de adaptação e interpretação por praticamente qualquer cultura do planeta. Isso se deve à universalidade de seus temas e à forma, profunda porém acessível, como são tratados. A palheta do dramaturgo e poeta é vasta, indo do amor e paixão até à morte e assassinato, passando pelo ciúme e intrigas.
Foto: AFP/Getty Images
Identificação ou distância
Shakespeare descreve os imbróglios interpessoais de protagonistas com os quais o espectador comum se identifica – ou dos quais pode se distanciar o máximo possível. "Macbeth", por exemplo (na foto, numa produção em Teerã), é uma história de ambição de poder – Macbeth sobe ao trono da Escócia por uma rede de intrigas – que termina em carnificina.
Foto: Fars
MacBotswana
O mesmo texto-base, um espetáculo totalmente diverso: Shakespeare também possibilita conexões com os mitos africanos. "Okavango MacBeth" (2009) foi a primeira ópera criada em Botswana. O diretor Alexander McCall Smith transportou a temática da sede de poder para a realidade cotidiana e a situação do país. A peça foi montada com atores amadores locais e apresentada numa velha garagem.
Foto: Getty Images
Shakespeare samurai
Mais uma versão: "Trono manchado de sangue" ("Kumonosu-jô"), de Akira Kurosawa, 1957, situa "Macbeth" no tempo dos samurais, no século 16. A obra-prima do cineasta japonês narra a tragédia em imagens de assombradora beleza. O ator Toshiro Mifune (esq.) interpreta o papel do general shakespeariano.
Foto: picture-alliance
Amor proibido no estilo MTV
Ao filmar em 1996 a tragédia das casas Capuleto e Montecchio de Verona, o diretor australiano Baz Luhrmann permaneceu no espírito da cultura pop da década de 90. Assim, seu "Romeu e Julieta", estrelado por Leonardo DiCaprio e Claire Dane, conquistou a plateia jovem. Seus toques de filme de ação não se distanciam tanto assim da intenção original de Shakespeare de divertir as massas.
Foto: picture-alliance/picture-alliance
"Romeo rocks"
O casal de dançarinos americanos Rasta Thomas e Adrienne Canterna também colocou o entretenimento em primeiro plano, em sua atlética interpretação daquela que possivelmente é a mais romântica história de amor do mundo: "Romeu e Julieta". O show de rock-balé teve estreia em setembro de 2013, em Hamburgo.
Foto: Manfred H. Vogel
Sunita ama xiita
Em "Romeu e Julieta em Bagdá", produção de 2012 da Iraqi Theatre Company, o casal protagonista é formado por um xiita e uma sunita – duas facções adversárias do islamismo. Desse modo, a peça que participou do World Shakespeare Festival amplia o conflito entre os dois amantes, do campo familiar original, para a sociedade de um país e até mesmo para o âmbito de uma religião mundial.
Foto: Getty Images
"Ser ou não ser" em russo
"Hamlet" é uma das peças shakesperianas mais conhecidas. Originalmente, desenrola-se na Dinamarca a tragédia do jovem príncipe que quer vingar a morte do pai e acaba precipitando a todos na desgraça, inclusive a si mesmo. Mas com as devidas alterações, nada impede que a história seja ambientada à Rússia. Nesta produção de 2006, o ator Nikolay Lazarev monologa no Teatro das Forças Armadas Russas.
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Sonho de uma noite sul-coreana
Também o teatro oriental costuma recorrer à obra do "Bardo de Avon". Em seu "Sonho de uma noite de verão" de 2010, o grupo teatral sul-coreano Yohangza empregou um sem número de recursos cênicos. O resultado foi uma explosão de música e movimento, que transporta alegria e energia transbordantes ao combinar a história original com mitologia coreana e artes interpretativas.
Foto: Getty Images
Lear no deserto
A influência do dramaturgo elisabetano chega até o campo de refugiados Zaatari, no deserto jordaniano. Majd Ammari, que aos 13 anos fugiu da Síria, representa o "Rei Lear". O diretor e ator sírio Nawwar Bulbul trabalhou com as crianças durante mais de dois meses, na esperança de atrair a atenção para as más condições no campo de refugiados.
Foto: Getty Images
Tempestade talibã
A década de 1960 foi uma época de ouro para a cena teatral afegã. Então vieram os talibãs e proibiram toda atividade teatral. Assim, quando, em julho de 2012, foi levada ao palco em Cabul "A tempestade" de Shakespeare, tratava-se também de uma mensagem: um sinal decidido para deixar para trás os anos tempestuosos e tentar um recomeço.
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Afinal, quem era Shakespeare?
O debate não é novo: William Shakespeare terá sido realmente o autor de "Hamlet", "Macbeth" e outros tantos? Em seu filme histórico "Anônimo", de 2011, o diretor alemão Roland Emmerich se coloca do lado dos pesquisadores que atribuem a verdadeira autoria dessas obras ao nobre Edward de Vere, conde de Oxford. Na foto, Vanessa Redgrave como Elisabeth 1ª e Rhys Ifans como De Vere.