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Google contra-ataca

6 de novembro de 2009

Ferramenta da Google promete transparência. Mas alguns são céticos sobre intenções da empresa, acusada de violação de privacidade, por arquivar dados pessoais, e de direitos autorais, por digitalizar bibliotecas.

Alemães observam a máquina de busca com atençãoFoto: picture-alliance/ dpa

A empresa Google, alvo de críticas por sua política de proteção de dados privados, promete dar a seus usuários um maior controle sobre os dados pessoais disponibilizados nos serviços da empresa.

Para isso, criou Dashboard, ferramenta com tecnologia desenvolvida em grande parte na Alemanha, que permite ao usuário controlar dados pessoais, como o número de e-mails em sua caixa de entrada do Gmail, mensagens postadas no Orkut ou vídeos colocados na plataforma YouTube, que hoje pertence à corporação.

Especialistas suspeitam que a novidade é apenas uma estratégia para polir a imagem da empresa, condenada na Alemanha em um processo sobre proteção a dados privados. Nos EUA, a corporação é acusada de querer disponibilizar milhares de livros na internet sem permissão dos proprietários dos direitos autorais.

Lista de serviços

Há muito tempo que a Google não é apenas uma máquina de buscas, agindo em diversos campos online. Internautas podem trabalhar textos, escrever e-mails e administrar uma agenda pessoal. Na Alemanha, a política para dados pessoais da empresa é observada com atenção especial.

Em agosto, a Google foi condenada por um tribunal de Hamburgo a mudar suas condições gerais de contrato porque, na opinião dos juízes, algumas cláusulas possibilitavam à empresa um acesso abusivo a dados pessoais de clientes. Segundo representantes da Google, o desenvolvimento do Dashboard teve início antes da decisão judicial.

A nova aplicação pode ser usada, sobretudo, por donos de uma conta Google. O Dashboard traz uma lista dos diversos serviços usados pelo internauta, dando a ele uma visão geral sobre e-mails enviados ou recebidos, bate-papos realizados ou fotos disponibilizadas.

Paralelamente a isso, o usuário pode ver e modificar suas configurações de segurança nos diferentes serviços que usa. Até agora estão incluídos 20 serviços da Google, como o site de relacionamento Orkut e o álbum de fotografias Picasa.

Digitalização de livros realizada pela Google preocupa americanos e europeusFoto: AP

Com o novo produto, a Google pretende oferecer aos usuários mais “transparência e controle sobre seus dados”, garantiu Wieland Holfelder, diretor do centro de desenvolvimento da empresa em Munique, onde maior parte do Dashboard foi desenvolvida. “É importante que os clientes estejam conscientes de quais dados seus estão online e de como eles podem controlá-los”, disse.

O centro de desenvolvimento da Google em Munique, com seus mais de 60 funcionários, planeja se engajar futuramente de forma ainda mais intensa em projetos de proteção de dados pessoais, afirmou Holfelder.

Assim, a nova ferramenta não permite acesso às informações coletadas pela Google sobre os endereços IP, que identificam o computador usado pelo internauta. Esses endereços são guardados fora da área personalizada. O Dashboard também não torna visíveis os chamados cookies armazenados de seus usuários, que são as informações sobre o comportamento online, as quais possibilitam o funcionamento da propaganda baseada nos interesses de cada internauta.

Sem buquê de flores

O encarregado da proteção de dados do governo de Hamburgo, Johannes Caspar, avaliou a nova ferramenta de forma positiva, informou a Google. Em comunicado, a Google informou que, segundo Caspar, Dashboard aumentaria a autonomia do usuário na administração de seus dados. Caspar havia criticado a Google por ter feito fotografias sem permissão das ruas de Hamburgo para sua ferramenta Street View.

Mas o especialista em internet Falk Lüke, da Federação Alemã das Centrais de Defesa do Consumidor (VZBV), é cético quando ao novo serviço. “É um exagero se falar de um novo instrumento”, avaliou Lüke, em entrevista ao jornal berlinense Der Tagesspiegel. Segundo ele, o Dashboard não oferece função nova alguma, mas apenas uma visão geral sobre as informações arquivadas pela Google. "De nós, a Google não merece receber buquê de flores algum por causa disso", ironizou.

Nos EUA, a Google está em briga judicial com associações de escritores e editoras. A máquina de busca escaneou mais de 20 milhões de livros em bibliotecas norte-americanas sem se preocupar com questões de direitos autorais. A Google afirma pretender disponibilizar os livros, na íntegra e gratuitamente, na internet. Entidades que representam autores e editoras europeias também estão preocupadas com o que classificam como uma ameaça de monopólio da Google.

A Associação Alemã do Comércio Livreiro é contra a limitação do processo somente ao território dos Estados Unidos. "Através do acesso a tantos milhões de livros em um mercado de mídias eletrônicas em pleno desenvolvimento, o perigo está no fato de a Google poder se transformar em uma fonte de informações indispensável”, analisa Christian Sprang, diretor do departamento jurídico da associação.

Interesses privados

Os atuais comissários europeus responsáveis por questões de direitos autorais e de concorrência comercial não dividem a mesma opinião. Eles apostam na Google, porque pensam poder evitar os custos com a digitalização. A Google digitaliza as publicações por preços baixos e disponibiliza os resultados gratuitamente na internet. Pelo menos é isso que esperam os comissários da UE.

Sprang acha que isso é um erro. Para ele, a Google também escaneia conteúdos de bibliotecas europeias. “Com isso, patrimônios completos de bibliotecas ficam nas mãos de empresas privadas, que não visam metas culturais. Elas dispõem de uma estratégia que lhes permite tomar conta de um mercado que no futuro será rentável“.

O ministério da Justiça norte-americano também compartilha de preocupações similares no que concerne a um suposto monopólio da Google. Um acordo entre o conglomerado e as associações norte-americanas fora agendado para outubro, mas adiado. Agora é prevista uma decisão para segunda-feira (9/10).

Autor: Márcio Damasceno / Ruthard Stäblein

Revisão: Carlos Albuquerque

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