1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Perfil

Renate Krieger24 de setembro de 2007

Dimiter Gotscheff marcou teatro alemão com força expressionista; ligação com autor de "Hamletmaschine" vem desde início da carreira. Trabalho como ator deixa a desejar, diz imprensa alemã.

O diretor teatral búlgaro Dimiter Gotscheff, em 'Hamletmaschine'Foto: picture-alliance/ZB

Em março de 1990, o Deutsches Theater de Berlim estreava a peça Hamletmaschine, de Heiner Müller, sob a direção do autor, num momento em que a Alemanha se despedia do passado comunista.

Essa peça acaba de ser encenada no mesmo teatro, por Dimiter Gotscheff, marcando uma nova etapa da ligação do diretor búlgaro com o teatro alemão. Nos últimos 20 anos, parece impossível dissociar a imagem de Gotscheff da de Heiner Müller.

Longa parceria teatral na Europa socialista

O dramaturgo Heiner Müller, autor de 'Hamletmaschine', levou o trabalho de Dimiter Gotscheff à AlemanhaFoto: dpa

Foi uma carta de Müller que levou o trabalho do búlgaro para a Europa Ocidental, em 1983. O autor vira a estréia de sua peça Philoktet, em Sófia, sob a direção de Gotscheff. Pouco depois, devido à sua montagem de Leonce e Lena, de Georg Büchner, o diretor foi proibido de trabalhar na Bulgária. Mas bastou Müller ter visto sua Philoktet para recomendar Gotscheff aos grandes palcos alemães.

Gotscheff nunca mais deixou a cena teatral alemã, também tendo repercussão no exterior. Em 2005, integrou o Festival Internacional de Londrina com Luta de negros e de Cães, do francês Bernard-Marie Koltès. No início deste ano, foi a vez de a capital búlgara, Sófia, apresentar sua montagem de Luta.

Teatro de Gotscheff começou com ator suíço

A ligação de Gotscheff com Heiner Müller vem de longe e a trajetória dos dois tem pelo menos um personagem em comum: o ator e diretor teatral suíço Benno Besson. Hamletmaschine nasceu em 1977, dos estudos e reflexões de Heiner Müller sobre a obra de Shakespeare. Müller traduzia a tragédia do príncipe dinamarquês para uma montagem de Besson.

Também foi Benno Besson quem levou Dimiter Gotscheff ao teatro. Ou foi forçado a fazê-lo. "Eu vi Paz, de Aristófanes, uma montagem de Besson. Ela me tocou tão profundamente que fiquei dando voltas na praça em frente ao Deutsches Theater durante a noite inteira", disse Gotscheff ao diário alemão Die Zeit, no ano passado.

"Na manhã seguinte, os atores chegaram para os ensaios, e reconheci Besson. Na minha loucura, disse a ele: 'Precisamos fazer teatro juntos, agora!' Ele olhou em volta, meio desesperado, procurando ajuda. Ela não veio e continuei insistindo, seguindo-o até a cantina do teatro. Finalmente, ele concordou. Desde então, não parei de ensaiar. Esse foi meu começo", contou Gotscheff, que se tornou aluno e colaborador de Besson.

A relação com Heiner Müller veio durante os estudos de Artes Dramáticas na Humboldt Universität, quando Gottsched conheceu a mulher – búlgara – de Müller. "Eu ia muito à casa dele, ouvia o que ele tinha a dizer, lia seus textos."

Gotscheff nasceu em Parmovai, pequena cidade no sul da Bulgária, em 1943. Em 1962, seu pai aceitou um emprego de veterinário na antiga Alemanha Oriental, para suprir a falta de mão-de-obra do regime socialista alemão. Dimiter acompanhou o pai, estudou um ano de Veterinária e depois se decidiu pelo teatro.

Para imprensa alemã, atuação de Gotscheff deixa a desejar

Na imprensa alemã, a estréia de Hamletmaschine dividiu opiniões. O diário Berliner Zeitung reitera o conhecimento da obra de Heiner Müller, de 1995, por Gotscheff. "A encenação supreende. O texto pôde ser interpretado e Heiner Müller não é mais um habitante de monumentos", escreveu o jornal, após a estréia.

"Ninguém parece conhecer mais o cosmo de Müller que ele [Gotscheff]", continua a coluna, aludindo ao início da carreira do búlgaro e às suas montagens do ciclo Germania (2004), Os Persas, de Ésquilo (a versão alemã é de Müller, 2006) e Philoktet (2005).

Por outro lado, a atuação do diretor de 64 anos e cabelos grisalhos na altura dos ombros deixa a desejar. "Pirou: Gostscheff encena a Hamletmaschine de Müller no Deutsches Theater em Berlim; infelizmente, ele também atua", escreve Irene Bazinger, do Frankfurter Allgemeine Zeitung. "Ele não queria ficar apenas dirigindo as pessoas no palco. Quis subir lá, como instrumento da própria interpretação. Apesar de não saber fazê-lo", diz a crítica.

Alexander Khuon em 'Hamletmaschine', no Deutsches Theater em BerlimFoto: picture-alliance/ZB
Em 2005, Gotscheff levou a companhia da Volksbühne ao Brasil para apresentar 'Luta de negros e de Cães', do francês KoltèsFoto: AP
Pular a seção Mais sobre este assunto
Pular a seção Manchete

Manchete

Pular a seção Outros temas em destaque