Governo alemão aprova plano nacional de igualdade de gênero
8 de julho de 2020
Estratégia estabelece metas para todos os departamentos do governo federal que visam reduzir a desigualdade entre homens e mulheres. Plano inclui redução da disparidade salarial e mais mulheres em cargos de gerência.
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O governo federal alemão apresentou nesta quarta-feira (08/07) um plano nacional para promover a igualdade de gênero no país. É o primeiro programa estratégico a ser implementado em nível federal na Alemanha com o objetivo de pôr fim a anos de lento progresso na equiparação de direitos e tratamento entre homens e mulheres.
O plano de nove partes, batizado de "Forte para o futuro" e que estabelece metas para todos os departamentos do governo, foi apresentado pela ministra alemã da Família e das Mulheres, Franziska Giffey, em coletiva de imprensa em Berlim.
"Trata-se de um compromisso conjunto do governo alemão com a igualdade. E todos os departamentos têm se envolvido ativamente. Somente assim podemos garantir que a questão da igualdade não seja mais vista apenas como uma questão para o Ministério das Mulheres, mas uma questão para todos os ministérios", disse Giffey, descrevendo o plano como um "marco".
Segundo a ministra, levou "décadas" até que o gabinete inteiro se comprometesse com a igualdade de gênero e o tema deixasse de ser uma preocupação somente de sua pasta. Em entrevista mais cedo ao jornal Rheinische Post, ela lembrou que o Artigo 3 da Constituição alemã determina que "o Estado deve promover a igualdade efetiva entre homens e mulheres".
O plano consiste em nove metas de igualdade de gênero que, uma vez aprovadas, devem ser apoiadas por legislações específicas em cada um dos ministérios federais da Alemanha.
Os objetivos incluem uma redução da disparidade salarial e de aposentadoria entre homens e mulheres, bem como a criação de estratégias para melhorar as oportunidades de carreira para que as mulheres estejam em pé de igualdade com os homens nesse quesito.
Para esse fim, Giffey incluiu uma cláusula que aumentaria o número de mulheres em cargos de gerência ao exigir a inclusão de pelo menos uma mulher em conselhos executivos compostos por no mínimo quatro membros.
A estratégia também visa expandir uma lei que exige que as mulheres constituam 30% dos conselhos de supervisão, para que a regra se aplique a 600 empresas, em vez das atuais 105.
A ministra – do Partido Social-Democrata (SPD), que compõe a coalizão do governo federal ao lado da União Democrata Cristã (CDU) – também saudou um projeto da CDU que visa introduzir cotas vinculativas para representação feminina nos principais cargos da legenda conservadora.
O plano do partido da chanceler federal alemã, Angela Merkel, foi revelado também nesta quarta-feira. A partir do próximo ano, pelo menos 30% dos cargos de liderança partidária, a partir das estruturas distritais, deverão ser preenchidos por mulheres. A cota deve ser aumentada gradualmente para 40% em 2023 e 50% em 2025.
"Aqui imediatamente vem a discussão sobre se muitas mulheres não qualificadas terão que ser contratadas. Não posso aceitar nunca [esse argumento]", disse Giffey, respondendo a um questionamento da DW. "Quando as empresas me dizem: 'Somos uma empresa técnica. Não temos mulheres qualificadas', eu sempre digo: 'Elas estavam lá no ensino médio, na universidade. Para onde elas foram?'"
"Não estamos falando de colocar pessoas não qualificadas em posições de liderança. Estamos falando de desempenho e capacidade pessoal, o que obviamente vale para todas as pessoas. Mas também estamos falando do fato de que não se pode dizer que menos de 10% das mulheres são adequadas, eficazes e competentes. Não posso aceitar isso."
Igualdade de gênero na Alemanha
Apesar de ser liderada por uma chefe de governo mulher, a Alemanha fica abaixo da média europeia no que diz respeito à igualdade entre homens e mulheres, de acordo com um índice de 2019 do Instituto Europeu para a Igualdade de Gênero.
No país, as mulheres ganham em média 20% menos que os homens e ocupam apenas cerca de 15% dos cargos em conselhos executivos.
Atualmente, a representação de mulheres no Bundestag, a câmara baixa do Parlamento alemão, é a mais baixa em 20 anos. Além disso, mais de 90% dos prefeitos de municípios alemães são homens, segundo afirmou Giffey.
Historicamente, a igualdade de gênero foi um ponto de discórdia na antiga Alemanha Ocidental, onde as mulheres ainda precisavam da permissão de seus maridos para trabalhar até 1977.
Pouco antes da Reunificação alemã, em 1990, pouco mais da metade das mulheres na Alemanha Ocidental estava no mercado de trabalho, em comparação com 91% das mulheres na Alemanha Oriental comunista.
Do direito ao voto ao espaço na política: ao longo dos últimos cem anos as mulheres alemãs lutaram para derrubar leis e convenções que hoje soam impensáveis.
Foto: picture-alliance/akg-images
O direito ao voto
Em 1918, o Conselho dos Deputados da Alemanha proclamou: "Todas as eleições serão conduzidas sob o mesmo sufrágio secreto, direto e universal para todas as pessoas do sexo masculino e feminino com pelo menos 20 anos de idade". Logo depois, as mulheres puderam votar, pela primeira vez, nas eleições para a Assembleia Nacional alemã, em janeiro de 1919.
Foto: picture-alliance/akg-images
Lei de Proteção à Maternidade
A Lei entrou em vigor em 1952. Desde então, passou por várias alterações. O objetivo é assegurar a melhor proteção possível da saúde da mulher e do filho durante a gravidez, após o parto e durante a amamentação. Mulheres não podem sofrer desvantagens na vida profissional por causa da gravidez nem seu emprego pode ser ameaçado pela decisão de ser mãe.
Em 1971, Alice Schwarzer publicou na revista Stern um artigo no qual 374 mulheres confessaram ter interrompido a gravidez; entre elas, Romy Schneider. Após a publicação, dezenas de milhares de mulheres foram às ruas protestar a favor da maternidade autodeterminada. Em 1974, a coalizão social-liberal aprovou no Parlamento a descriminalização do aborto nos três primeiros meses da gestação.
Foto: Der Stern
Mais estudantes e professoras nas universidades
Em 1976, foi realizado em Berlim o evento "1° Universidade de Verão para as mulheres". Entre as exigências, as precursoras pediam o aumento da participação das mulheres entre estudantes e professoras, que era de 3 %. Em 1970, o percentual de estudantes passou para 9%. Hoje, ele chega a 48%. Em 1999, o número de professoras era de cerca de 4 mil. Hoje, elas são 11 mil em toda a Alemanha.
Foto: picture alliance/ZB/J. Kalaene
Livre da obrigação do serviço doméstico
Em 1977, entrou em vigor a nova lei de matrimônio. Até então, a esposa era "obrigada ao serviço doméstico". Ela só poderia trabalhar se não negligenciasse suas tarefas do lar e se o marido consentisse. Em 2014, 70% das mães trabalhavam fora; 30% em tempo integral e quase 40% em meio período. Entre os casais com crianças, a mulher alemã contribui com uma média de 22,6% da renda familiar.
Foto: picture-alliance/akg-images
Igualdade salarial
Em 1979, 29 funcionárias processaram o laboratório fotográfico Heinze, em Gelsenkirchen, pelo direito de ter a mesma remuneração por trabalhos iguais. Elas venceram: em 1980, o Parlamento alemão aprovou a lei sobre igualdade de tratamento de homens e mulheres no trabalho. Mas ainda há muito o que fazer: em , as mulheres ganharam 18% a menos por hora trabalhada do que os homens.
Foto: picture-alliance/chromorange
Pilotas da Lufthansa
Em 1986, a companhia aérea alemã Lufthansa permitiu, pela primeira vez, que duas mulheres completassem a formação de piloto. Elas são: Erika Lansmann e Nicola Lunemann (na foto). Hoje, nas diversas companhias aéreas do grupo, 417 mulheres trabalham como co-pilotas e 114 são comandantes.
Foto: Roland Fischer, Lufthansa
Trabalho noturno
Em 1992, o Tribunal Constitucional Federal revogou a proibição do trabalho noturno para mulheres. O Tribunal declarou que a alegada proteção estava associada com salários mais baixos e "desvantagens consideráveis". Na antiga Alemanha Oriental, as mulheres tinham sido autorizadas a praticar todas as profissões desde o início, a qualquer hora do dia ou da noite.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gerten
Sexo sem consentimento
Em 1997, a violação sexual no casamento passou a ser considerada crime. O Bundestag decidiu por uma maioria esmagadora que os maridos estupradores já não tinham direitos especiais. A ideia de que seria uma "ofensa menor de coerção" foi abolida. Todos os "atos sexuais" forçados passaram a ser punidos como estupro.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Kästle
Mulheres na política
Depois de conquistarem o direito ao voto na maior parte dos países, as mulheres tentam alcançar a mesma proporção de participação política que os homens. Em 1949, o percentual de alemãs no Bundestag era de 6,8%. Atualmente, elas são 35,3%. A primeira mulher a chefiar o governo foi Angela Merkel, em 2005. Em 2018, ela chegou ao quarto mandato como chanceler federal, cargo que exerceu até 2021.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Tarefas domésticas
Hoje as mulheres alemãs também lutam por direitos iguais em relação às tarefas domésticas e ao cuidado com familiares. Em 1965, elas exerciam esse trabalho durante, em média, quatro horas por dia; os homens, 17 minutos por dia. Atualmente as mulheres ainda gastam 43,8 pontos percentuais a mais de tempo com tarefas domésticas do que os homens: são quase 30 horas semanais, contra 20 dos homens.
Foto: Imago/O. Döring
O futuro
Para despertar o interesse das meninas em profissões antes consideradas masculinas, especialmente na indústria, desde 2001 empresas alemãs convidam meninas do 5º ano para o 'Girls day'. O dia das meninas é considerado o maior projeto de orientação profissional do mundo e, graças a ele, cada vez mais jovens mulheres decidem seguir carreira da área de ciências exatas na Alemanha.