"Temos nosso destino em nossas mãos", diz Merkel sobre a UE. Vice-chanceler vê conexão entre intervenção americana no Iraque e crise dos refugiados. Ministro do Exterior afirma que declarações causam espanto e apreensão.
"Acho que nós, europeus, temos nosso destino em nossas mãos. Continuarei me empenhando para que os 27 países-membros trabalhem juntos de forma intensa e orientados para o futuro", disse a chanceler federal Angela Merkel, durante uma entrevista em Berlim, após receber o premiê da Nova Zelândia, Bill English.
Em entrevista aos jornais alemão Bild e britânico The Times, o republicano disse que a Otan estava obsoleta, elogiou a saída do Reino Unido da União Europeia e culpou a política de refugiados de Merkel pelo atentado em Berlim.
Em relação às críticas sobre sua política para refugiados, Merkel disse que o combate ao terrorismo é um desafio para todos. "Eu vou, mais uma vez, separar isso claramente da questão dos refugiados." Ela acrescentou que muitos sírios deixaram seu país por causa do terrorismo e não apenas por causa da guerra civil.
O ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier, disse que as declarações de Trump causaram espanto e apreensão, e não apenas em Bruxelas, onde fica a sede da Otan. Steinmeier, que se encontrou em Bruxelas com o secretário-geral Jens Stoltenberg, disse que a aliança militar recebeu as declarações com preocupação. O ministro alemão acrescentou ainda que elas não condizem com a opinião do futuro secretário americano de Defesa, James Mattis.
Já o vice-chanceler Sigmar Gabriel afirmou que há uma conexão entre as intervenções americanas no Oriente Médio, especialmente no Iraque, e a crise dos refugiados, acrescentando que é a Europa que é obrigada a se confrontar com o fluxo migratório daí resultante, e não os Estados Unidos.
Unidade entre os europeus
Trump divulga metas para os 100 primeiros dias de governo
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O ministro do Exterior da França, Jean-Marc Ayrault, também destacou a união da União Europeia ao comentar as declarações do presidente eleito. "A melhor resposta à entrevista de Trump é a unidade dos europeus", disse Ayrault em Bruxelas. "A melhor maneira de defender a Europa, que é um convite que fazemos a Trump, é permanecermos unidos, formarmos um bloco, não esquecermos que a força dos europeus é sua unidade", disse Ayrault, ressaltando que espera, em breve, reunir-se com o futuro secretário de Estado americano para tratar de temas como as sanções a Moscou, a questão ucraniana, o acordo nuclear com o Irã e o acordo de Paris sobre as mudanças climáticas.
A presidente da Lituânia, Dalia Grybauskaite, disse esperara continuidade do futuro governo americano e pediu que Trump mantenha as obrigações financeiras dos EUA com a Otan. "Desde a Segunda Guerra, a presença de tropas americanas é um pré-requisito para reconstruir o continente e garantir a paz e a segurança", destacou.
O ministro do Exterior da Dinamarca, Anders Samuelsen, aproveitou para criticar a forma como Trump tem usado as redes sociais para fazer anúncios políticos. "Passaremos [após a posse do presidente americano] da diplomacia do Twitter para a realidade, que é talvez mais difícil do que está acontecendo no Twitter", afirmou.
Não só críticas
Apesar de algumas críticas, as declarações de Trump foram bem recebidas no Reino Unido. O secretário britânico do Exterior, Boris Johnson, disse ter recebido com satisfação os comentários sobre a intenção de fechar acordos bilaterais com os EUA. "A vontade dos Estados Unidos de fechar um bom acordo de livre-comércio conosco é uma ótima notícia. Queremos isso logo", disse Johnson.
CN/efe/afp/rtr/ap
Qual o poder do presidente dos EUA?
Chefe de governo e de Estado da maior potência econômica e militar do planeta é frequentemente considerado a pessoa mais poderosa do mundo, mas nem por isso seu poder é ilimitado.
Foto: Klaus Aßmann
Assim diz a Constituição
O presidente é eleito por quatro anos e pode ser reeleito apenas uma vez. Ele é chefe de Estado e de governo. É tarefa dele fazer com que as leis aprovadas pelo Congresso sejam executadas. Cerca de 4 milhões de pessoas trabalham para o Poder Executivo. O presidente pode, como principal diplomata, receber embaixadores e, assim, reconhecer Estados.
Foto: Klaus Aßmann
Balanço entre os poderes
Cada um dos três poderes pode intervir no outro, o que limita de poder de todos. O presidente pode indultar pessoas e nomear juízes federais, mas apenas com a concordância do Senado. O presidente nomeia também, entre outros, seus ministros e embaixadores – se os senadores derem o aval. Esse é um dos meios que o Legislativo tem para controlar o Executivo.
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Discurso sobre o Estado da União
O presidente tem que informar o Congresso sobre o destino do país, e ele faz isso em seu "discurso sobre o Estado da União". Apesar de não ter o poder de apresentar propostas de leis ao Congresso, ele pode expor suas prioridades no seu discurso. Assim, pode fazer pressão sobre o Congresso. Mas não mais do que isso.
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Ele pode simplesmente dizer "não"
Se o presidente enviar de volta ao Congresso um projeto de lei sem sua assinatura, significa que ele usou seu poder de veto. E esse veto somente poderá ser revogado por uma maioria de dois terços nas duas câmaras. De acordo com o Senado, dos cerca de 1.500 vetos na história dos EUA, somente 111 foram derrubados.
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Zona nebulosa na definição de poder
A Constituição e decisões da Suprema Corte não deixam bem claro quanto poder o presidente tem de fato. Uma brecha permite um segundo tipo de veto, o chamado "pocket veto". Sob certas circunstâncias, o presidente pode colocar uma proposta legislativa "no seu bolso", ou seja, ela não vale. O Congresso não pode derrubar esse veto. Essa manobra foi usada mais de mil vezes.
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Decretos que são válidos como leis
O presidente pode determinar como os funcionários do governo cumprirão seus deveres. Esses decretos presidenciais têm força de lei e não necessitam de aprovação parlamentar. Ainda assim, o presidente não pode fazer o que bem entender. A Justiça pode declarar um decreto inválido, ou o Congresso pode aprovar uma lei contrária. E, ainda, o próximo presidente pode simplesmente revogar um decreto.
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Contornar o Congresso
O presidente pode negociar acordos com outros governos, mas o Senado deve aprová-los com uma maioria de dois terços. Para contornar isso, em vez de tratados, os presidentes podem fazer uso de "acordos executivos", que não precisam ser aprovados pelo Congresso. Eles são válidos enquanto o Congresso não vetá-los ou aprovar legislação que torne o acordo inválido.
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Comandante em chefe
O presidente é o comandante em chefe das tropas, mas é o Congresso que tem o poder de declarar guerra. Não está claro, porém, se um presidente pode enviar tropas para uma região em conflito. Na Guerra do Vietnã, o Congresso entendeu que um limite havia sido ultrapassado e interveio por lei. Ou seja, o presidente só pode assumir competências enquanto o Congresso não agir.
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Impeachment
Se um presidente abusar do poder do cargo ou cometer um crime, a Câmara dos Representantes pode iniciar um processo de impeachment. Mas há um instrumento muito mais poderoso para parar qualquer iniciativa presidencial: o Congresso tem a competência de aprovar o orçamento e pode simplesmente fechar a torneira de dinheiro do presidente.