Grupos a favor de mais liberdade pediram para realizar protesto em 15 de novembro. Autoridades cubanas acusaram organizadores de serem apoiados pelos EUA e de tentarem derrubar o regime.
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O governo cubano rejeitou nesta terça-feira (12/10) um pedido de grupos de oposição para realizar uma marcha em 15 de novembro. As autoridades acusaram os organizadores de serem apoiados pelos Estados Unidos e de tentarem derrubar o regime.
O planejamento dos protestos é o mais recente sinal de descontentamento na ilha, que atravessa uma grande crise econômica, com alta inflação, cortes de energia e escassez de alimentos e medicamentos.
"Os promotores [do evento] e seus representantes públicos, alguns dos quais com vínculos com organizações subversivas ou agências financiadas pelo governo americano, têm a clara intenção de promover uma mudança no sistema político cubano", afirmou o governo em nota.
O grupo de oposição Archipiélago, que afirma ter cerca de 20 mil membros, planejou a manifestação "Marcha Pacífica pela Mudança" em apoio às liberdades civis na ilha, incluindo o direito de protesto pacífico e a anistia para oposicionistas presos. Na capital, Havana, estava prevista a participação de cerca de 5 mil pessoas.
A nova convocação para manifestações ocorre depois que protestos espontâneos sem precedentes contra o governo tomaram conta do país em 11 de julho, em cerca de 50 cidades.
Após os atos, houve repressão do governo – pelo menos uma pessoa morreu, dezenas ficaram feridas e mais de mil foram detidas, várias das quais ainda estão atrás das grades.
O grupo havia originalmente convocado o protesto para 20 de novembro, mas antecipou o ato em cinco dias, depois que o governo cubano convocou uma parada militar para a data.
No entanto, 15 de novembro também é o dia em que o governo planejou reabrir Cuba ao turismo, após dois anos em que o setor, fundamental para o país, ficou quase inoperante.
"As razões apresentadas para protestar não são consideradas legítimas", disse o governo em seu comunicado, acrescentando que a nova constituição adotada em 2019 afirma que o sistema socialista é "irrevogável".
Grupos debaterão se seguirão com ato
O diretor de cinema e organizador do protesto Yunior Garcia criticou as razões do governo para não permitir a manifestação.
"O que quer que o cubano faça, eles sempre dizem que a ideia veio de Washington. É como se não pensássemos, como se nós, cubanos, não tivéssemos cérebro", disse Garcia.
Segundo ele, os vários grupos de oposição vão agora discutir se devem desafiar a proibição do protesto.
"Qualquer cubano sensato quer a mudança, qualquer cubano sensato quer que em Cuba haja mais democracia, mais progresso, que haja mais liberdade, em todos os sentidos", disse García.
Em Cuba, os direitos de greve e manifestação não são contemplados fora das instituições do Estado, razão pela qual, se tivesse sido autorizada, a marcha de 15 de novembro teria estabelecido um precedente histórico.
le (efe, afp, ots)
O fim da era Castro em Cuba
Quase nada em Cuba lembra de como era a vida antes dos Castro. O dia 19 de abril de 2018 marca o fim das quase seis décadas de governo dos irmãos Fidel e Raúl.
Foto: Reuters
1959 - A revolução triunfa
O rebeldes liderados por Fidel Castro chegam ao poder depois de derrubar o ditador Fulgencio Batista em janeiro. Os EUA reconhecem o novo governo. Logo, "leis revolucionárias" (como a reforma agrária) afetam empresas americanas. Em dezembro, o presidente republicano Dwight D. Eisenhower aprova um plano da CIA para derrubar Castro em um ano e substitui-lo por "uma junta amiga dos EUA".
Foto: AP
1960 − Aproximação com a União Soviética
Eisenhower proíbe exportações para Cuba (exceto de alimentos e remédios) e suspende a importação de açúcar. Cuba responde nacionalizando bens e empresas americanas e estabelecendo relações diplomáticas e comerciais com a União Soviética. No funeral das vítimas da explosão do cargueiro francês La Coubre (foto), Cuba responsabiliza a CIA, e Castro lança seu lema "pátria ou morte!"
Foto: AP
1961 − Ruptura e invasão fracassada
Os EUA rompem relações diplomáticas com Cuba e fecham sua embaixada em Havana em 3 de janeiro. Após uma série de bombardeios em aeroportos e incêndios em estabelecimentos comerciais, cuja autoria Cuba atribui aos EUA, Fidel proclama o caráter socialista da revolução em 16 de abril. Entre 17 e 19 daquele mês, cubanos treinados pelos EUA tentam invadir a ilha pela Baía dos Porcos, mas fracassam.
Foto: AP
1962 - A crise dos mísseis
"Não sei se Fidel é comunista, mas eu sou fidelista", disse em 1960 o líder soviético Nikita Kruchov. Moscou reata relações diplomáticas com Havana e eleva seu apoio. A URSS instala bases de mísseis nucleares em Cuba, desencadeando a "crise dos mísseis". Moscou cede à pressão de Kennedy em troca de os EUA se comprometerem a não invadir Cuba e desativarem suas bases nucleares na Turquia.
Foto: imago/UIG
1971 – Fidel Castro no Chile
O episódio da Baía dos Porcos acelera a proclamação do caráter socialista, marxista-leninista, da revolução. Cuba acaba sendo expulsa da Organização dos Estados Americanos. Castro fica isolado no continente, mas não para sempre. Ele é recebido no Chile pelo presidente Salvador Allende (foto), que iria ser derrubado por Augusto Pinochet em 1973.
Foto: AFP/Getty Images
1989 – A hora da Perestroika
A chegada ao poder de Mikhail Gorbatchov em Moscou marca o início da era da Glasnost e Perestroika. A Cortina de Ferro começa a ruir, e o império soviético se esfacela. Cuba perde sua principal base de sustentação no exterior, entrando em crise aguda. Milhares de cubanos tentam fugir para Miami em embarcações precárias. Muitos analistas preveem o fim do regime castrista.
Foto: picture-alliance/dpa
1998 – Primeira visita do papa
Um decreto de Pío 12 proibia aos católicos o apoio a regimes comunistas. Em virtude disso, o Vaticano excomungou Fidel Castro em janeiro de 1962. Mas, com o fim da Guerra Fria, chega o momento da reaproximação: em 1996, Castro visita o papa João Paulo 2°, e este retribui a visita dois anos depois, em viagem considerada histórica.
Foto: picture-alliance/AP/Michel Gangne
2002 - Fidel Castro e Jimmy Carter jogam beisebol
Desde que os EUA impuseram seu embargo comercial, econômico e financeiro, em 1962, houve poucos momentos de distensão entre Washington e Havana. Um deles foi a viagem do ex-presidente americano Jimmy Carter a Cuba, em 2002, motivada pela intenção de encontrar pontos de aproximação.
Foto: Adalberto Roque/AFP/Getty Images
2006 - Fidel e Hugo
A partir dos anos 90, Cuba deixa de ser vista como uma perigosa exportadora de revoluções. Com a derrocada do bloco comunista no Leste Europeu, as ideologias de esquerda entram em crise. Mas, na Venezuela, chega ao poder um novo dirigente, disposto a propagar a "Revolução Bolivariana". Hugo Chávez, declarado admirador de Fidel, passa a dar a Havana um respaldo importante, também na área econômica.
Foto: picture-alliance/dpa/dpaweb
2006 - A entrega do poder
A doença forçou Fidel Castro a abandonar o poder. Em 2006, ele o deixa nas mãos de seu irmão Raúl, uma garantia de que não haveria reviravoltas num sistema que, apesar dos avanços em educação e saúde, cobrou um alto preço: o da falta de liberdade e repressão. Fidel foi se despedindo do poder aos poucos, defendendo até o fim sua visão, através das páginas do jornal "Granma".
Foto: picture-alliance/AP Photo/Cristobal Herrera
2014 - Degelo temporário
Em dezembro de 2014, os presidentes dos EUA, Barack Obama, e o de Cuba, Raúl Castro, anunciaram que retomariam as relações diplomáticas. Obama visitou Cuba em março de 2016. Haviam se passado 88 anos desde a última vez que um presidente americano viajara à ilha. EUA retirou Cuba da lista de terrorismo, dando início ao processo de retomada das relações diplomáticas.
Tantas vezes anunciada e desmentida, a morte do líder foi inicialmente recebida com desconfiança. Entretanto, em 25 de novembro de 2016, os bares fecharam mais cedo e as reuniões de amigos nas ruas se dispersaram com a notícia. Durante anos, Fidel Castro desmentiu rumores de sua morte com a publicação de fotografias ou artigos de opinião.
Foto: Getty Images
2018 – A sucessão
Depois de dez anos, Raúl Castro se retira do poder. Em 19 de abril, o Parlamento cubano elegerá um sucessor que, pela primeira vez em quase 60 anos, não leva o sobrenome Castro: o vice de Raúl, Miguel Díaz Canel. Entretanto, analistas julgam improvável que o curso político em Cuba se modifique logo.