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Governo da Áustria racha em meio a escândalo de corrupção

20 de maio de 2019

Ministros do ultradireitista FPÖ abandonam coalizão de governo após chanceler federal exigir que ministro do Interior deixasse pasta para garantir investigação transparente de escândalo envolvendo líder do partido.

Sebastian Kurz
O chanceler federal Sebastian Kurz afirmou que manteria o governo operando até eleições antecipadas para setembroFoto: picture-alliance/APA/H. Fohringer

Todos os ministros do ultradireitista Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ) que ainda compunham o governo da Áustria anunciaram nesta segunda-feira (20/05) sua saída da coalizão que formavam desde dezembro de 2017 com o Partido Popular Austríaco (ÖVP). O movimento ocorre em meio a um escândalo envolvendo o líder do FPÖ e ex-vice-chanceler federal, Heinz-Christian Strache.

A renúncia dos ministros do FPÖ ocorreu após o chanceler federal da Áustria, Sebastian Kurz, anunciar a demissão do ministro do Interior, Herbert Kickl, do FPÖ. Segundo Kurz, o objetivo era garantir uma investigação transparente do escândalo de corrupção que provocou a convocação de eleições antecipadas.

Kurz, do ÖVP, anunciou o fim da coalizão de governo no sábado depois de a imprensa alemã ter revelado um vídeo em que Strache aparece oferecendo futuros contratos governamentais a uma suposta magnata russa em troca de apoio ao seu partido nas últimas eleições parlamentares, em 2017. A renúncia de Strache não foi suficiente para acalmar a crise no governo.

Apesar da ameaça do FPÖ de abandonar o governo, caso o ministro do Interior fosse forçado a deixar o gabinete, nesta segunda-feira, Kurz anunciou que iria pedir que o presidente da Áustria, Alexander Van der Bellen, demitisse Kickl, um dos mentores da ascensão do partido de extrema direita ao poder.

O chanceler federal argumentou que o ultradireitista não poderia supervisionar uma investigação aberta contra o líder de sua própria legenda. Já Kickl acusou Kurz de tentar recuperar o poder sobre o ministério, que durante muitos anos foi comandado pelo ÖVP.

Logo após o anúncio de Kurz, o FPÖ cumpriu a ameaça de sair do governo. O chanceler federal austríaco afirmou que pretende preencher as vagas abertas nos ministérios com especialistas ou funcionários do alto escalão. "Concordei com o presidente que queremos garantir a estabilidade até as novas eleições", destacou.

Kurz afirmou que manterá o governo operando efetivamente até as eleições antecipadas, programadas para ocorrer em setembro.

O escândalo

As imagens reveladas pela imprensa alemã mostram um encontro entre o vice-chanceler e uma mulher da Rússia na ilha espanhola de Ibiza, suposta sobrinha de um oligarca russo, que diz estar interessada em investir grandes quantidades de dinheiro na Áustria. O chefe da bancada parlamentar do FPÖ, Johann Gudenus, que também aparece no vídeo.

Segundo a revista Der Spiegel, a mulher russa, que não foi identificada, falou em doar 250 milhões de euros e sugeriu várias vezes que o dinheiro teria sido obtido de maneira ilegal.

"No entanto, Strache e Gudenus permaneceram na reunião por cerca de seis horas e discutiram sobre oportunidades de investimento na Áustria", escreve a revista alemã. "O encontro foi obviamente organizado como uma armadilha para os políticos do FPÖ."

Os veículos afirmam que, na reunião, Strache disse à mulher que ela obteria lucrativos contratos de construção na Áustria se ela comprasse um jornal austríaco e declarasse apoio ao seu partido nas eleições parlamentares daquele ano.

A russa teria sugerido comprar um pacote significativo de ações do diário Kronen Zeitung para apoiar a campanha do nacionalista FPÖ – que após as eleições acabaria formando uma coalizão com o conservador ÖVP, de Kurz, e entrando no governo.

"Se ela assumir o Kronen Zeitung três semanas antes das eleições e nos trouxer o primeiro lugar, então podemos conversar sobre qualquer coisa", teria dito Strache na gravação.

Esta não é a primeira vez que o governo de Kurz tem de lidar com acusações contra seus membros ultranacionalistas. Desde o início da coalizão entre ÖVP e FPÖ, no final de 2017, vieram à tona escândalos e incidentes quase semanais, geralmente relacionados com declarações antissemitas ou relações com grupos neonazistas.

A polêmica mais recente ocorreu no final de abril, quando um político do FPÖ escreveu um poema discriminatório em que comparou imigrantes a ratos. O texto publicado num folheto da legenda provocou críticas generalizadas e deixou irritado o chanceler federal.

O poema intitulado "O rato urbano" foi impresso numa publicação local do partido nacionalista em Braunau am Inn, cidade localizada na fronteira com a Alemanha e famosa por ser o local de nascimento de Adolf Hitler. O texto escrito pelo vice-prefeito de Braunau am Inn, Christian Schilcher, advertia contra imigrantes e a mistura de culturas.

CN/rtr/afp/dpa/efe

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