Regime concorda com suspensão de "operações de combate", mas afirma que seguirá luta contra organizações terroristas. Oposição vê lacuna que permitiria a Moscou e Damasco prosseguir com ataques aos rebeldes.
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O governo sírio aceitou os termos de um acordo elaborado por Estados Unidos e Rússia e concordou com a suspensão de "operações de combate", de acordo com um comunicado do Ministério do Exterior da Síria, divulgado nesta terça-feira (23/02).
A declaração destacou que o governo interromperá as operações armadas, mas "continuará com os esforços de combate ao terrorismo" contra as organizações extremistas "Estado Islâmico" (EI), Al Qaeda e grupos afiliados.
O governo em Damasco afirmou ainda que acertará com o governo russo quais grupos e áreas serão incluídos no cessar-fogo, que deverá entrar em vigor no sábado.
A oposição síria, no entanto, se mostrou bem mais cautelosa. O Comitê de Altas Negociações (HNC, na sigla em inglês) – coalizão que reúne políticos e grupos armados de oposição – disse que a aceitação do acordo está condicionada a garantias de que a Rússia e as forças iranianas respeitarão a trégua.
O HNC criticou também a "lacuna" nas condições do cessar-fogo, afirmando que a exceção dada para ataques a alvos jihadistas permitirá ao regime do presidente Bashar al-Assad e ao governo russo a cobertura necessária para prosseguir com os ataques contra os rebeldes contrários ao regime.
"A Rússia e o regime alvejarão as áreas dos revolucionários, sob o pretexto de presença de extremistas da Frente al-Nusra. Nós sabemos como essas regiões são difusas e, se isso acontecer, a trégua entrará em colapso", disse Bashar al-Zoubi, chefe do escritório político do Exército Yarmouk, parte das forças rebeldes do Exército Livre da Síria.
A oposição também exigiu a implementação de ações humanitárias, incluindo a libertação de prisioneiros e o fim de cercos a cidades, dos bombardeios de artilharia e dos ataques aéreos.
Como parte do acordo entre Moscou, que apoia Assad, e Washington, que afirma que o presidente sírio perdeu a legitimidade para governar, as facções em guerra devem indicar suas intenções de cumprir o acordo de cessar-fogo até sexta-feira.
PV/rtr/ap/dpa/ap
A guerra civil na Síria antes do EI
O "Estado Islâmico" inflamou o debate sobre como pôr fim à guerra civil síria. Contudo o grupo só emergiu mais tarde no conflito. Confira alguns momentos dessa guerra que abriram espaço para o avanço dos jihadistas.
Foto: AP
Março de 2011
Enquanto regimes ruem por todo o Oriente Médio, dezenas de milhares de sírios vão às ruas para protestar contra a corrupção, o desemprego elevado e a alta dos preços dos alimentos. O governo da Síria responde com armas de fogo. Até maio, cerca de 400 vidas são ceifadas.
Foto: dapd
Maio de 2011
Sob insistência dos países ocidentais, o Conselho de Segurança da ONU condena a repressão violenta. Nos meses seguintes, os Estados Unidos e a União Europeia impõem embargo de armas, recusa de vistos e congelamento de bens. Com apoio da Liga Árabe, aumenta a pressão para a saída do presidente sírio Bashar al-Assad – embora sem o aval de todos os países-membros da ONU.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Szenes
Agosto de 2011
Em 1970 um golpe pusera Hafez al-Assad no poder. Após sua morte, em 2000, o filho Bashar (à dir.) assume a liderança. De início tido como reformista, ele perde apoio ao manter o estado de emergência que há décadas restringe as liberdades políticas, permitindo vigilância e interrogatórios. Assad tem respaldo da Rússia, que lhe fornece armas e repetidamente veta as resoluções da ONU sobre a Síria.
Foto: picture-alliance/dpa/Stringer/Ap/Pool
Dezembro de 2011
A ONU e outras organizações têm provas de violação dos direitos humanos na Síria. Civis e militares desertores começam a se organizar lentamente para combater as forças do governo, que vêm atacando os dissidentes. Até o fim de 2011, essa luta causa mais de 5 mil mortes. Mesmo assim, ainda transcorrem seis meses até a ONU reconhecer que o país está em guerra.
Foto: Reuters/Goran Tomasevic
Setembro de 2012
O Irã finalmente confirma que tem combatentes em solo sírio, fato que Damasco negava há tempos. A presença de tropas aliadas acentua a hesitação dos Estados Unidos e de outras potências ocidentais em intervir no conflito. Os EUA, marcados pelas intervenções fracassadas no Afeganistão e no Iraque, propõem o diálogo como única solução sensata.
Foto: AP
Março de 2013
As mortes beiram 100 mil, e o total de refugiados em países vizinhos como a Turquia e a Jordânia atinge 1 milhão – número que duplicaria até setembro. Em dois anos de guerra, o Ocidente e a Liga Árabe veem fracassar todas as tentativas de um governo de transição, enquanto o conflito transborda para a Turquia e o Líbano. O pior temor é de que Assad se mantenha no poder a todo custo.
Foto: Reuters/B. Khabieh
Abril de 2013
Há muito Assad alega estar combatendo terroristas. Mas só no segundo ano de guerra se confirma que o Exército Livre Sírio inclui extremistas radicais. O grupo Frente al-Nusra declara apoio à Al Qaeda, fragmentando ainda mais a oposição.
Foto: Reuters/A. Abdullah
Junho de 2013
A Casa Branca afirma ter provas de que Assad está atacando civis com o gás tóxico sarin. Mais tarde a informação é corroborada pela ONU. A partir da revelação, o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes ocidentais passam a considerar uma intervenção militar. No entanto a proposta da Rússia para que se retirem as armas químicas da Síria acaba por se impor.
Foto: Reuters
Janeiro de 2014
Ao fim de 2013 surgem relatos sobre um novo grupo autodenominado Estado Islâmico do Iraque e do Levante – o futuro EI. Ao tomar terras no norte da Síria e também no Iraque, os jihadistas despertam lutas internas na oposição, causando 500 mortes até o início de janeiro. Esse terceiro e inesperado fator levaria os EUA, França, Arábia Saudita e outras nações à intervir na guerra em meados do ano.