Governo da Ucrânia tem debandada após acusações de corrupção
24 de janeiro de 2023
Várias autoridades são demitidas ou renunciam após Zelenski anunciar mudanças nas altas esferas do poder. Objetivo seria tranquilizar aliados.
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O vice-ministro da Defesa da Ucrânia e vários outros funcionários de alto escalão renunciaram ou foram demitidos nesta terça-feira (24/01), na esteira de uma onda de alegados casos de corrupção no país.
No mais recente escândalo, a imprensa ucraniana noticiou a compra de material logístico militar a "preços inflacionados", sobretudo alimentos para os soldados.
Entre os funcionários que se demitiram estão, além do vice-ministro da Defesa e responsável pelo apoio logístico às Forças Armadas, Vyacheslav Shapovalov, o vice-chefe do gabinete presidencial, Kyrylo Tymoshenko. Além disso, o vice-procurador-geral, Oleksiy Symonenko, foi removido do cargo.
Também foram demitidos os chefes das administrações militares e civis nas regiões de Sumy, Dnipro, Zaporíjia e Kherson.
As baixas desta terça seguem-se à demissão e detenção do vice-ministro ucraniano da Infraestrutura, Vasyl Lozynsky, por suspeita de ter recebido suborno de 400 mil dólares para supostamente "facilitar" a compra de geradores a preços inflacionados, em um momento que a Ucrânia enfrenta cortes generalizados de energia devido a ataques russos a infraestruturas cruciais.
Polêmicas anteriores
Tymoshenko era um dos poucos membros da equipe de Zelenski que se mantinha no cargo desde a eleição do atual presidente, em 2019. Recentemente, ele havia supervisionado os projetos de reconstrução das instalações danificadas por ataques russos. Ele já esteve envolvido em outras polêmicas.
Em outubro do ano passado, foi criticado por utilizar um veículo off-road doado à Ucrânia pela General Motors para fins humanitários. Ele também estava entre as autoridades acusadas, em setembro, de estarem ligadas ao desvio de ajuda humanitária no valor de mais de 7 milhões de dólares destinados à região de Zaporíjia. Ele nega as acusações.
De acordo com o jornal ucraniano Hromdska, Tymoshenko deve ser substituído por Oleksy Kuleba, atual chefe da Administração Militar Regional de Kiev.
Já o vice-procurador-geral, Oleksiy Simonenko, esteve recentemente de férias na Espanha, segundo o jornal Ukrainska Pravda, embora as viagens ao exterior, exceto para fins profissionais, estejam proibidas a todos os ucranianos do sexo masculino em idade de combate.
Outro membro da equipe de Zelenski que renunciou recentemente foi o conselheiro externo do gabinete presidencial Oleksiy Arestovych. Em uma entrevista, ele especulou sobre a causa de um míssil russo ter atingido um prédio residencial na cidade de Dnipro, no sudeste da Ucrânia, e considerou a possibilidade de que o próprio sistema de defesa antiaérea da Ucrânia poderia ter sido o responsável pelo impacto que matou 40 pessoas. De posse das declarações de Arestovych, Moscou passou a culpar Kiev pelo ataque.
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Histórico de corrupção
As renúncias e demissões desta terça ocorrem um dia após Zelenski anunciar que preparava mudanças nas altas esferas do poder e de ter proibido altos funcionários de viajarem para fora do país.
"Hoje [segunda-feira] já tomamos decisões sobre os funcionários e amanhã [terça-feira] vamos fazer alterações ao nível dos ministérios e do governo central e em organismos regionais", disse o presidente na segunda-feira.
Antes do início da invasão do país pela Rússia, a Ucrânia já enfrentava um histórico de corrupção. Agora, a situação é ainda mais delicada, com a pressão internacional para que os bilhões de dólares doados pelos países do Ocidente sejam gastos de maneira apropriada e sem desvios.
As demissões e renúncias parecem refletir o objetivo de Zelenski de tranquilizar os aliados da Ucrânia, mostrando "tolerância zero" para subornos.
Uma declaração no site do Ministério da Defesa na manhã desta terça-feira disse que a renúncia de Shapovalov foi "um ato digno" que ajudará a manter a confiança no ministério.
A onda de escândalos vem à tona em um momento em que a Ucrânia pressiona aliados para que cobrem da Alemanha o envio de blindados Leopard, de fabricação alemã.
le/lf (Lusa, AP, ots)
Ataques da Rússia a alvos civis na Ucrânia
Vladimir Putin nega que o exército russo esteja atacando alvos civis na guerra na Ucrânia. Mas os fatos o contradizem, como mostra esta galeria de fotos, que nem de longe abrange todos os ataques russos.
Foto: Maksim Levin/REUTERS
Mais de 5.500 civis mortos
O presidente russo, Vladimir Putin, declarou no fim de junho: "O exército russo não está atacando alvos civis". Observadores independentes discordam: de acordo com dados da ONU, mais de 5.500 civis morreram na Ucrânia desde o início da guerra e mais de 7.800 ficaram feridos como resultado de ataques russos. Na foto, um centro comercial destruído em Kremenchuk, 27/06/2022.
Foto: Efrem Lukatsky/AP Photo/picture alliance
Chaplyne: 25 mortos em bombardeio
Uma enorme cratera em Chaplyne. A pequena cidade no leste da Ucrânia, com cerca de 3.800 habitantes, foi alvo de um ataque russo em 24 de agosto, como admitiu mais tarde o Ministério da Defesa em Moscou. O alvo foi um trem de transporte de armas, mas o ataque também atingiu civis. Segundo a companhia ferroviária ucraniana, 25 foram mortos, incluindo duas crianças.
Foto: Dmytro Smolienko/Ukrinform/IMAGO
Vinnytsia: 28 vítimas em ataque com foguete
Em 14 de julho, o exército russo atingiu com um míssil a Casa dos Oficiais de Vinnytsia, onde teria ocorrido "uma reunião da liderança militar das Forças Armadas ucranianas e fornecedores estrangeiros de armas". Entre os 28 mortos, estavam três crianças e três oficiais, além de mais de 100 feridos. Vinnytsia se localiza a sudoeste de Kiev.
Foto: State Emergency Service of Ukraine/REUTERS
Chasiv Yar: 48 mortos em bombardeio
Na noite de 9 de julho, a pequena cidade de Chasiv Yar, no leste da Ucrânia, foi bombardeada. Segundo a mídia, os lançadores de foguetes múltiplos Uragan foram disparados em áreas residenciais. Um edifício residencial de cinco andares foi duramente atingido, e 48 corpos foram resgatados de seus escombros.
Foto: Nariman El-Mofty/AP/dpa/picture alliance
Serhiyivka: 21 mortos em ataque com mísseis de cruzeiro
Um ataque a Serhiyivka em 1º de julho custou pelo menos 21 vidas. O porto perto de Odessa aparentemente foi atingido por mísseis de cruzeiro durante a noite, como a Anistia Internacional informou após investigações no local. Pelo menos 35 ficaram feridos nos ataques. Por ser um resort de saúde, Serhiyivka é particularmente popular entre os turistas russos.
Foto: Maxim Penko/AP/picture alliance
Kramatorsk: 61 mortos na estação de trem
Imagens terríveis de Kramatorsk deram a volta ao mundo em 8 de abril: vários mísseis submarinos russos 9K79-1 Tochka atingiram a estação ferroviária da cidade no leste da Ucrânia, enquanto passageiros esperavam pelo trem. 61 foram mortos, incluindo sete crianças. Cientistas de balística determinaram que os mísseis haviam sido disparados da área da Ucrânia controlada pelos russos.
Foto: Ukrainian President Volodymyr Zelenskyy's Telegram channel/dpa/picture alliance
Bucha: encontrados 1.316 corpos
Bucha tornou-se sinônimo das ações brutais do Exército russo: depois que as tropas inimigas partiram, em 30 de março, vários corpos jaziam na rua Jablunska. No total, foram encontrados 1.316 corpos em Bucha e arredores. Embora a Rússia tenha negado quaisquer massacres, verificadores de fatos internacionais e equipes de investigação confirmaram execuções de civis por soldados russos.
Foto: Zohra Bensemra/Reuters
Mykolaiv: 36 mortos em ataque à administração regional
Em 29 de março, um ataque aéreo atingiu o prédio da administração regional de Mykolaiv. A parte central do edifício foi completamente destruída, do primeiro ao nono andar, restando apenas um esqueleto do prédio. A explosão também danificou vários edifícios residenciais e administrativos próximos, causando a morte de 36 cidadãos.
Em 16 de março, uma bomba destruiu o teatro no centro de Mariupol. De acordo com a Human Rights Watch, mais de 500 civis estavam se abrigando dos ataques no prédio na época. A palavra "Crianças" escrita em enormes letras brancas na frente e atrás do prédio não serviu como escudo. Segundo a prefeitura, 300 morreram.
Foto: Pavel Klimov/REUTERS
Mariupol: quatro mortos em ataque a clínica
Um ataque aéreo russo em 9 de março destruiu o hospital infantil e a maternidade de Mariupol. Houve menos quatro mortes, incluindo uma grávida e seu bebê, 17 ficaram feridos. Enquanto o Ministério da Defesa russo falou de uma "provocação encenada", o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, chamou o atentado de "crime de guerra".
Foto: Evgeniy Maloletka/AP/picture alliance
Charkiv: foguete mata 24 pessoas
Um vídeo de vigilância divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia mostrou um foguete atingindo o prédio da Administração Estatal Regional de Kharkiv em 1º de março, causando 24 mortes, inclusive de transeuntes.
Foto: Pavel Dorogoy/AP/picture alliance
Inquérito do Tribunal Penal Internacional
As autoridades ucranianas relatam mais de 29 mil crimes de guerra, do início do conflito, em 24 de fevereiro de 2022, até 26 de agosto. Investigações independentes prosseguem. O Tribunal Penal Internacional enviou equipes para coletar informações. De acordo com as Convenções de Genebra, ataques deliberados a civis são crimes de guerra. No entanto, a Rússia não reconhece a corte sediada em Haia.