Governo e nacionalistas marcharão juntos em Varsóvia
10 de novembro de 2018
Depois de muita polêmica, duas marchas para celebrar independência ao fim da Primeira Guerra Mundial se fundem numa só em Varsóvia. No ano passado, Polônia foi criticada por teor xenófobo da manifestação.
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O governo polonês e grupos nacionalistas que organizam anualmente uma controversa marcha da independência acertaram realizar neste domingo (11/11), em Varsóvia, um cortejo conjunto no centésimo aniversário da reconquista da independência da Polônia.
O acordo anunciado nesta sexta-feira encerrou uma longa polêmica. A manifestação dos nacionalistas havia sido proibida pela administração da capital, governada pela prefeita liberal Hanna Gronkiewicz-Waltz, da oposição.
O argumento para a proibição eram temores de que, assim como no ano passado, manifestantes exibissem cartazes xenófobos e racistas. "A Polônia e sobretudo Varsóvia já sofreram demais com o nacionalismo agressivo", dissera Gronkiewicz-Waltz, ao justificar a decisão.
Os organizadores da marcha, porém, não aceitaram a proibição e entraram na Justiça. Esta lhes deu ganho de causa, afirmando que acontecimentos de anos anteriores não dizem nada sobre os participantes deste ano.
O presidente da Polônia, Andrzej Duda, e o partido Lei e Justiça (PiS), que está no governo, haviam se alegrado com a proibição, pois ela lhes dava uma chance de conseguir promover a sua própria manifestação. A manifestação dos nacionalistas, que ocorre desde 2010, se tornou muito popular nos últimos anos.
Diversos governos tentaram fazer frente a ela, impondo sua próprias celebrações. Mas nenhuma dessas tentativas deu certo. Agora, a proibição parecia criar a oportunidade para que isso finalmente acontecesse.
Duda e o primeiro-ministro Mateusz Morawiecki haviam convocado a população para sua própria marcha. A rota é a mesma da já tradicional marcha dos nacionalistas. Era uma tentativa do PiS de ocupar o espaço do adversário político e, ao mesmo tempo, mostrar ao mundo que se afasta dos radicais políticos. Agora, porém, ambos marcharão juntos.
O governo saudou o acordo com os nacionalistas, afirmando que ele permitirá "uma grande marcha conjunta para celebrar o centenário da independência".
O motivo das celebrações são os cem anos da reconquista da independência pela Polônia, ao fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918. Desde o fim do século 19, a Polônia não existia como Estado e, ao longo de 123 anos, teve partes do território ocupadas pela Prússia, Áustria-Hungria e Rússia, derrotadas na guerra.
A situação política do país, há cem anos e nos anos que antecederam a Segunda Guerra, era semelhante à atual: havia uma luta ideológica entre liberais e conservadores e, na extrema direita, surgiram movimentos nacionalistas radicais.
Os nacionalistas de hoje fazem referência à essa situação na sua marcha. O slogan deste ano é: "Deus, honra e pátria". Em 2017 era "Queremos Deus". Durante a marcha do ano passado foram exibidos símbolos e cartazes de extrema direita, entre eles a cruz celta, que é considerada um símbolo neofascista e costuma ser usada no lugar da suástica, que é proibida em vários países e também na Polônia.
Os cartazes continham dizeres como "Europa somente branca", "sangue puro" e "Europa branca das nações irmanadas". Um dos discursos foi proferido por Roberto Fiore, líder do movimento italiano de extrema direita Forza Nuova.
A marcha da independência de 2017 contou com cerca de cem mil participantes e foi criticada pelo Parlamento Europeu numa resolução em que instava os Estados-membros a atuarem de modo decisivo contra a extrema direita.
A promotoria pública abriu inquérito para investigar a marcha e a "disseminação de ideologias proibidas" e o "linguajar racista e xenófobo", mas até agora nada ocorreu. O presidente Duda criticou as expressões extremistas, "com as quais nenhuma pessoa honrada na Polônia pode concordar", mas, segundo ele, apenas uma pequena parcela dos manifestantes exibiu esse tipo de cartaz. A maioria dos participantes tinha motivações patrióticas e queria celebrar de forma pacífica a reconquista da independência pela Polônia, disse Duda.
Muitos críticos viram nessas declarações um jogo duplo do governo, que se afasta oficialmente dos nacionalistas, mas, no fundo, os tolera e protege. Os planos para duas marchas testemunham que há uma disputa cada vez mais ferrenha dentro da direita conservadora polonesa.
AS/dw/efe/ap
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Foto: Reuters/C. Wattie
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